"Sempre
trabalhei com a obesidade. Fiz minha tese de mestrado sobre este assunto.
É um tema que sempre me fascinou em função de
como a doença é vista. Os obesos são tratados
como preguiçosos, mas a obesidade é uma doença
que está relacionada a vários fatores, tais como o estresse,
problemas familiares e financeiros.
Para se ter uma idéia, nos últimos 20 anos, a obesidade
cresceu em praticamente todo o mundo, e quase dobrou no Brasil. Temos
mais obesos que desnutridos, no nosso país como um todo. Em
1992, os EUA realizaram 16 mil operações do tipo. Já
em 2003, foram cerca de 113 mil casos. O Rio de Janeiro possui 40
mil obesos mórbidos que não são operados em função
de questões políticas governamentais.
A cirurgia bariátrica surgiu, em virtude dos poucos resultados
obtidos apenas com a nutrição. Não mais que 2%
dos obesos que emagrecem com dietas conseguem manter o peso após
cinco anos. Além disso, não existe nenhuma perspectiva
de surgimento de um medicamento revolucionariamente eficiente contra
esta doença a ponto de controlá-la por completo.
Trabalho com a cirurgia bariátrica há seis anos e acabei
trazendo a técnica para o Hospital Universitário, que
atualmente opera de um a três pacientes por mês. Já
acompanhei mais de 600 pacientes, 90 só no HU.
É bom lembrar que a cirurgia não é instrumento
de cura, ela possibilita a melhora da situação do paciente,
desde que ele esteja comprometido com o tratamento como um todo, o
que inclui a reeducação alimentar e a atividade física.
Além do bom preparo do paciente, a operação exige
boa indicação, além da técnica cirúrgica
adequada. Como a obesidade é um problema social e está
relacionada a diversos fatores, há a necessidade de um atendimento
completo. A equipe do Programa de cirurgia Bariátrica do HU
engloba mais de 15 pessoas: três clínicos, dois cardiologistas,
um fisiatra, um fisioterapeuta e sua equipe, profissionais de educação
física, dois nutricionistas, uma assistente social e um psiquiatra.
Todos se reúnem uma vez por semana para discutirem os casos
e sempre deve haver consenso sobre a viabilização da
operação em cada paciente. Esta equipe possui vários
trabalhos publicados no Brasil e no exterior. O tratamento multidisciplinar
é fundamental no pré-operatório, pois auxilia
na redução dos riscos da cirurgia, já que os
pacientes apresentam, em geral, outras doenças.
Não há necessidade de correr para a mesa de cirurgia.
A operação nunca é a primeira opção.
Quando um paciente chega ao estágio da operação,
ele já passou por vários outros tratamentos e não
obteve sucesso. São pessoas frustradas. Raros são os
pacientes que conseguem emagrecer vagarosamente apenas com dieta e
seguem este caminho a longo prazo sem o auxílio da cirurgia.
O emagrecimento pré-operatório é estimulado para
que o paciente entre no clima da transformação e abrace
a nova idéia. Além disso, o tratamento exige manutenção
permanente".
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"A
obesidade é definida como uma condição de acúmulo
excessivo de lipídios no tecido adiposo, contribuindo para
o surgimento de diversas co-morbidades, principalmente, as dislipidemias,
diabetes mellitus do tipo 2, doenças vasculares oclusivas,
hipertensão arterial, resistência insulínica,
doença do refluxo gastroesofágico, apnéia do
sono, doença coronariana, distúrbios osteoarticulares,
alguns tipos de cânceres, além de depressão e
problemas de adaptação social.
É, atualmente, um dos mais graves problemas de saúde
pública, o que tornou a doença uma epidemia global,
independente das condições econômicas e sociais.
E por se tratar de uma doença de etiologia multifatorial, o
tratamento da obesidade envolve diversos tipos de abordagens, sendo
o tratamento convencional constituído, principalmente, pela
reeducação nutricional, além da realização
de atividade física e terapia comportamental.
A obesidade é fortemente influenciada por fatores ambientais,
mas já é reconhecida a influência genética
da gênese dessa doença, que resultaria num menor gasto
energético e no aumento do apetite. Na literatura científica,
já temos descritos mais de 250 genes envolvidos na ocorrência
da obesidade.
Mediante a complexidade da etiologia, o tratamento convencional dos
super obesos (Índice de Massa Corporal - IMC maior ou igual
a 40 kg/m2) tem apresentado um baixo índice de sucesso, sendo
muitas vezes necessária a utilização de fármacos
para controlar a compulsão alimentar do paciente.
Atualmente, muitos pesquisadores têm apontado a cirurgia cariátrica
como um tratamento eficaz para a redução do peso corporal.
No entanto, esse procedimento cirúrgico pode levar a complicações
a curto e longo prazo, podendo comprometer seriamente a saúde
do paciente. Além disso, o efeito benéfico da cirurgia
bariátrica dependerá do acompanhamento nutricional e
clínico no período pré e pós-operatório,
pois esse tipo de intervenção cirúrgica promove
deficiências nutricionais, comprometimento do sistema imunológico,
problemas psicológicos - podendo gera quadros de anorexia ou
bulimia nervosa.
A eficácia do tratamento da obesidade depende da mudança
do estilo de vida, ou melhor, deverá contemplar mudanças
de hábitos alimentares, a realização de atividade
física e apoio psicológico - para melhor da auto-estima.
Sem essas mudanças qualquer tipo de intervenção
terá um resultado positivo temporário e uma "eficácia"
enganosa.
Sem dúvida, devemos privilegiar o controle alimentar, ao invés
de expor o paciente à cirurgia. A primeira opção
para o tratamento da obesidade é a mudança de estilo
de vida, incluindo a mudança dos hábitos alimentares,
pois esta é a base desse tratamento. Sendo a forma mais saudável
e de resultados mais duradouros, quanto a manutenção
do peso alcançado.
O tratamento psicológico é muito importante para o controle
da compulsão alimento, assim como, a melhora da auto-estima.
A maioria desses pacientes tem uma história de vida triste
e, buscam encontrar prazer ou esquecer os problemas, uma forma de
escape, ou compensação das suas frustrações,
traumas, problemas de adaptação social ou familiares,
ou outros problemas emocionais, através da compulsão
alimentar (sua única fonte de prazer ou "castigo").
A terapia seja em grupo, familiar ou individual os ajuda a reconhecer
o alimento como fonte de energia para manutenção de
uma vida saudável e não como uma compensação
dos seus sofrimentos".
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