Ciência e Vida
18.08.2005
Biodiversidade na Mata Atlântica: uma fonte de medicamentos
por Eric Macedo


No dia 16 de agosto teve início o I Ciclo de Conferências do Instituto Virtual de Fármacos (IVF), entidade ligada à Faperj que visa à coordenação de ações que facilitem a pesquisa no setor de fármacos no Rio de Janeiro, e com sede no Centro de Ciências da Saúde da UFRJ. A primeira conferência, realizada no auditório da Academia Brasileira de Ciências por Eloi de Souza Garcia, Superintendente de Desenvolvimento Científico da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro (SECTI), foi marcada pela exposição de um projeto, chefiado pela secretaria, de mapear e estudar as milhares de espécies que compõem a fauna e a flora da Mata Atlântica fluminense.

"Apesar de restarem apenas sete por cento da extensão original, a biodiversidade da nossa Mata Atlântica dá de dez a zero na da Floresta Amazônica", disse o superintendente Eloi Garcia, substituindo o secretário estadual de Ciência e Tecnologia Wanderley de Souza, que não pôde comparecer, devido a compromisso de última hora com a governadora.

Um dos objetivos principais seria descobrir novos princípios ativos a partir das plantas catalogadas, que poderiam dar origem a medicamentos fitoterápicos.

"Setenta por cento dos medicamentos estão relacionados, de alguma maneira, com o conhecimento folclórico, com plantas medicinais. Na China, a medicina tradicional faz uso de 25 mil plantas, baseada num conhecimento milenar. Estima-se que existam, no mundo, entre 350 e 400 mil espécies de plantas. No entanto, apenas 1,2 mil foram estudadas. O Brasil, pela riqueza que tem, deveria se preocupar com isso", disse ele.

A Secretaria aguarda a liberação de recursos que serão divididos entre 55 grupos de pesquisa espalhados pelas diversas universidades fluminenses, quando o projeto se iniciar de fato. Mas algumas ações já estão em andamento.

"150 mil reais já foram liberados pelo governo do Rio. Esse dinheiro está sendo utilizado na informatização dos diversos herbários que existem no estado. Só o do Jardim Botânico possui 60 mil espécies catalogadas - ainda que não somente da Mata Atlântica - em fichas de papel", disse o superintendente.

Conferências do IVF serão mensais
O evento consiste em palestras mensais a serem realizadas no auditório da Academia Brasileira de Ciências, no Centro. Na abertura, o coordenador do IVF, doutor Eliezer J. Barreiro, ressaltou a sua importância para o setor de fármacos. "Esperamos estreitar laços entre a comunidade acadêmica e a empresarial, ao mesmo tempo em que contribuímos para a difusão do conhecimento sobre fármacos na sociedade", disse.

Ele acredita que o Rio de Janeiro tem vocação para assumir uma posição de liderança quanto à orquestração das ações que envolvam o setor no país, citando alguns laboratórios de grande importância no estado - três militares, o Instituto Vital Brazil e a Far-Manguinhos, além dos instalados nas universidades.

Para ele, "a soberania brasileira na área de fármacos deixa muito a desejar". Barreiro, que é professor da Faculdade de Farmácia da UFRJ, levantou a proposta de se criar um instituto de fármacos não somente virtual, apesar dos avanços que o IVF já tem realizado.

Instituto Virtual de Fármacos - http://www.ivfrj.ccsdecania.ufrj.br/