Microscópio
11.08.2005
Extrato de saião cura Leishmaniose
por Taisa Gamboa


As professoras Sônia Costa, diretora do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN), e Bartira Rossi Bergmann, do Instituto de Biofísica da UFRJ descobriram que o Saião é um importante mecanismo de cura da Leishmaniose. A descoberta rendeu o prêmio José Pedro de Araújo 2005, concedido por essa Fundação a melhor pesquisa sobre aproveitamento farmacológico da flora brasileira.

"A cura da Leishmaniose existe, mas depende do tipo da doença, e da continuação do tratamento, que possui baixa adesão em função de ser muito longo e doloroso", afirmou a professora Sônia Costa. Injeções diárias de antimoniais pentavalentes (cujos nomes comerciais são Glucantime e Pentostam), apresentam efeitos colaterais sérios, tais como alterações cardíacas, disfunção renal, anorexia, e problemas hepáticos. "O pior é que nem sempre são eficazes", afirma.

Foi pensando em minimizar esses problemas que o laboratório de Imunofarmacologia do Instituto de Biofísica e o Laboratório de Química de Produtos Naturais Bioativos (LPNBio) do NPPN desenvolveram uma técnica que permitiu identificar uma substancia natural com alto potencial terapêutico contra a Leishmania, tal como o extrato da planta Kalanchoe Pinnata (Kp), mais conhecida como Saião.

O extrato do Saião é ativo em camundongos e em humanos, e age por estimulação da enzima iNOS dos hospedeiros, os macrófagos, células reguladoras da resposta imune. Verificou-se que a ativação desses macrófagos desencadeia a produção de óxido nítrico (NO), um importante mecanismo de destruição dos parasitos intracelulares, principalmente os da Leishmania.

Esse efeito foi investigado e constatou-se que a ativação da produção de NO pelos macrófagos pode ser responsável pela redução no crescimento do parasita na presença de Kp. Através de inúmeros experimentos, verificou-se que o extrato aquoso do Saião protege contra a infecção progressiva por L. amazonensis e que a via oral é tão eficaz quanto o tratamento com Glucantime. Os últimos testes estão sendo feitos para viabilizar a utilização do produto pela população.

Segundo dados estatísticos, existem 12 milhões de portadores da Leishmaniose e surgem 1 milhão de novos casos a cada ano em todo o mundo, 35 mil só no Brasil. Transmitida por cães e roedores, a Leishmaniose é uma doença endêmica. Seu agente transmissor, a mosca Flebotomo, se distribui pelas regiões centro-oeste e nordeste e alcança inclusive o sudeste, com focos em algumas cidade de São Paulo, e em Jacarepaguá, São Gonçalo e Paraty, no Estado do Rio.

As pesquisadoras escolheram o Kp para a produção de um fitoterápico contra a Leishmania, pois é uma espécie medicinal tradicional, com amplo uso em regiões tropicais e de fácil cultivo; não provoca danos hepáticos, como o tratamento atual, possuindo inclusive importante atividade hepatoprotetora. Além disso, o saião apresenta efeito terapêutico na Leishmaniose cutânea murina; seu mecanismo de ação já é conhecido (o efeito anti-leishmania de Kp é mediado por NO) e apresenta eficácia comprovada do uso de Kp oral em um caso humano de Leishmaniose cutânea. A pesquisadora Bartira Bergmann comenta que nunca houve nenhum caso de toxidade e que não havia nenhum registro sobre a utilização do saião no tratamento da Leishmaniose. Há duas formas da doença, a benigna acomete só a pele, enquanto a mais grave ataca o fígado e o baço.

O Laboratório de Imunofarmacologia, coordenado pela professora Bartira, ainda está desenvolvendo outro medicamento contra a Leishmaniose. Desta vez, a planta que possui propriedades ativas contra a Leishmania é da família da Pimenta. Também estão em processo de produção duas vacinas. Uma é protéica e injetável e a outra é gerada a partir do DNA do próprio parasita e sua administração é por via oral.