As professoras Sônia Costa, diretora do Núcleo de Pesquisas
de Produtos Naturais (NPPN), e Bartira Rossi Bergmann, do Instituto de
Biofísica da UFRJ descobriram que o Saião é um importante
mecanismo de cura da Leishmaniose. A descoberta rendeu o prêmio
José Pedro de Araújo 2005, concedido por essa Fundação
a melhor pesquisa sobre aproveitamento farmacológico da flora brasileira.
"A
cura da Leishmaniose existe, mas depende do tipo da doença, e da
continuação do tratamento, que possui baixa adesão
em função de ser muito longo e doloroso", afirmou a
professora Sônia Costa. Injeções diárias de
antimoniais pentavalentes (cujos nomes comerciais são Glucantime
e Pentostam), apresentam efeitos colaterais sérios, tais como alterações
cardíacas, disfunção renal, anorexia, e problemas
hepáticos. "O pior é que nem sempre são eficazes",
afirma.
Foi pensando em minimizar esses problemas que o laboratório de
Imunofarmacologia do Instituto de Biofísica e o Laboratório
de Química de Produtos Naturais Bioativos (LPNBio) do NPPN desenvolveram
uma técnica que permitiu identificar uma substancia natural com
alto potencial terapêutico contra a Leishmania, tal como o extrato
da planta Kalanchoe Pinnata (Kp), mais conhecida como Saião.
O extrato do Saião é ativo em camundongos e em humanos,
e age por estimulação da enzima iNOS dos hospedeiros, os
macrófagos, células reguladoras da resposta imune. Verificou-se
que a ativação desses macrófagos desencadeia a produção
de óxido nítrico (NO), um importante mecanismo de destruição
dos parasitos intracelulares, principalmente os da Leishmania.
Esse efeito foi investigado e constatou-se que a ativação
da produção de NO pelos macrófagos pode ser responsável
pela redução no crescimento do parasita na presença
de Kp. Através de inúmeros experimentos, verificou-se que
o extrato aquoso do Saião protege contra a infecção
progressiva por L. amazonensis e que a via oral é tão eficaz
quanto o tratamento com Glucantime. Os últimos testes estão
sendo feitos para viabilizar a utilização do produto pela
população.
Segundo dados estatísticos, existem 12 milhões de portadores
da Leishmaniose e surgem 1 milhão de novos casos a cada ano em
todo o mundo, 35 mil só no Brasil. Transmitida por cães
e roedores, a Leishmaniose é uma doença endêmica.
Seu agente transmissor, a mosca Flebotomo, se distribui pelas regiões
centro-oeste e nordeste e alcança inclusive o sudeste, com focos
em algumas cidade de São Paulo, e em Jacarepaguá, São
Gonçalo e Paraty, no Estado do Rio.
As pesquisadoras escolheram o Kp para a produção de um fitoterápico
contra a Leishmania, pois é uma espécie medicinal tradicional,
com amplo uso em regiões tropicais e de fácil cultivo; não
provoca danos hepáticos, como o tratamento atual, possuindo inclusive
importante atividade hepatoprotetora. Além disso, o saião
apresenta efeito terapêutico na Leishmaniose cutânea murina;
seu mecanismo de ação já é conhecido (o efeito
anti-leishmania de Kp é mediado por NO) e apresenta eficácia
comprovada do uso de Kp oral em um caso humano de Leishmaniose cutânea.
A pesquisadora Bartira Bergmann comenta que nunca houve nenhum caso de
toxidade e que não havia nenhum registro sobre a utilização
do saião no tratamento da Leishmaniose. Há duas formas da
doença, a benigna acomete só a pele, enquanto a mais grave
ataca o fígado e o baço.
O Laboratório de Imunofarmacologia, coordenado pela professora
Bartira, ainda está desenvolvendo outro medicamento contra a Leishmaniose.
Desta vez, a planta que possui propriedades ativas contra a Leishmania
é da família da Pimenta. Também estão em processo
de produção duas vacinas. Uma é protéica e
injetável e a outra é gerada a partir do DNA do próprio
parasita e sua administração é por via oral.
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