História Viva
11.08.2005
O vício faz a história da UFRJ
por Lilis Soares


Antônio José Barbosa de Oliveira poderia ser um funcionário comum da UFRJ, mas à sua função de técnico administrativo e coordenador de extensão da decania do Centro de Ciências da Saúde (CCS) se somou uma paixão, ou como ele próprio denomina, "um vício": a história da universidade, mais precisamente, da Cidade Universitária.

Com bacharelado, especialização e mestrado em História, Antônio José teve como objeto de pesquisa de sua pós-graduação a discussão sobre a construção da cidade universitária da Ilha do Fundão. "Foi quando comecei a trabalhar com recortes de jornais do período de 1935 a 1950. A data inicial, 1935, foi o ano de instalação da primeira comissão de professores para definir o local onde seria construída a cidade universitária e 1950, foi quando começaram as obras de construção".

Com apoio do Escritório Técnico da Universidade (ETU) e de sua equipe, formada por Alexandre Bortolini e Marilene Mendonça, o historiador tem o projeto de recuperação e construção de uma história da UFRJ através de material jornalístico e fotográfico. "O material de pesquisa foi durante muitos anos esquecido pela Universidade e guardado pelo ETU. Os negativos das fotos estavam em péssimo estado de conservação e precisaram de um trabalho de desoxidação, o que foi pago com os meus próprios recursos. Por isso, pude recuperar apenas 80 negativos, mas a intenção é ampliar essa quantidade. Além das fotos, estamos digitando matérias de jornais para haver uma formatação e edição. O projeto é lançar um livro que conte a história de formação do campus da Ilha do Fundão", explica Antônio.

Seu trabalho gerou, há três anos, a exposição histórica de fotos, textos e jornais: "Das ilhas à cidade - A universidade visível", ocorrida no prédio da reitoria da UFRJ e no Centro de Ciências da Saúde (CCS). Em função disso, o historiador concedeu entrevistas sobre a Cidade Universitária em veículos de grande circulação do Rio. Mas o empenho de Antônio não pára por aí. "Ainda temos projeto de um vídeo, que será produzido pela Assessoria de Comunicação da UFRJ. A proposta é ter uma base para entender a Universidade hoje, seus pontos positivos e negativos e seus aspectos contraditórios. O vídeo mostrará o processo de formação e construção da Cidade Universitária, apresentando e tocando em aspectos presentes da Instituição. Este projeto é uma confluência de interesses: O de apresentar a UFRJ e o de contar um pouco a sua história", disse Antônio.

Segundo ele, o vídeo poderia subsidiar as discussões para o plano diretor da Cidade Universitária. "Tendo o campus do Fundão, vários espaços vazios, de que forma a Universidade vai ocupar esses espaços? Qual será a nova política de distribuição espacial das unidades que compõe a UFRJ? Nesse período que trabalhamos aqui, a proposta é de um campus único. Por isso que a Ilha do Fundão é grande como é. Porém, no decorrer da história, as unidades foram permanecendo onde estavam não houve uma integração, uma unificação e o que temos hoje como realidade é a proposta de um campus descontínuo mesmo: parte no Fundão, parte na Praia Vermelha e várias unidades isoladas distribuídas pela cidade. Essa descontinuidade gera determinadas situações na instituição: maior possilibilidade de isolamento, maior dificuldade de integração e de estabelecimento de ações conjuntas. E o vídeo viria para colaborar na discussão, junto à comunidade acadêmica, das propostas desse novo plano diretor", defende Antônio.

Há 11 anos na UFRJ, Antônio José de Oliveira faz um trabalho importante para a manutenção da história da Universidade, esquecida pela comunidade acadêmica que, muitas vezes, enxerga os problemas do presente sem olhar o passado e compreender como eles surgiram. "O que nós procuramos é colocar a UFRJ como objeto de estudo. As universidades pouco se conhecem, pouco se colocam como questionadoras de si próprias através de trabalhos sistematizados, de pesquisa. No entanto, isso só é possível se despertarmos interesse nos alunos".

Essa paixão pela história da Universidade e todo esse trabalho é justificado por apenas uma palavra: vício. "Vai além da pura formação de história. Eu entrei para a Universidade em 1994, como técnico administrativo. Toda a minha formação veio a partir do meu trabalho na UFRJ. Há 11 anos eu respiro a Universidade de formas diferentes: como aluno de graduação, como servidor administrativo, como pesquisador e como coordenador de extensão, que abriu um leque de oportunidades e ações diferentes que vão estimulando muito a continuidade desses projetos. Tudo isso constituiu um constante desafio para mim. Por isso, é vício mesmo, prazer, tudo junto", concluiu Antônio José.