Faces e Interfaces
11.08.2005
Pai e filho: uma relação fundamental
por João Paulo Nogueira


Pai e filho: uma relação que inicia sua construção ao primeiro toque, ao primeiro olhar. Proteção e doação que ultrapassam a racionalidade.

Embora a ausência paterna ainda seja uma realidade em muitos lares, em virtude do trabalho, da cultura, por vezes, machista, que põe o pai em um posto de provedor e autoridade, existe uma grande mobilização na área pedagógica e médica que visa a trazer de volta o pai ao convívio de seus filhos e fazê-los mais participativos.

Terapeutas de família e psicólogos consonam em relação à necessidade de diálogo. Entretanto, não chegam a um modelo de educação adequado. Segundo Eduardo Worms, psicólogo e terapeuta do IPUB-UFRJ, atualmente vigoram dois modelos paternos: o do pai ausente e o do pai atento e desejoso de aproximação com os filhos. "A ausência paterna é muito grande. No entanto, existem muitos pais que procuram acompanhar a vida dos filhos, dar carinho e atenção", diz Eduardo.

O aumento do número de mães que trabalham iniciou um processo de diluição da função tradicional de provedor que recaía sobre os pais. A psiquiatra Liora Coslovsky, coordenadora do setor de família do Instituto de Terapia Familiar da UFRJ, considera necessária flexibilidade e adaptação ao ambiente familiar, bem como respeito às diferenças entres os filhos. Para ela, a figura tradicional do pai ainda tem grande importância. "Pai é pai. É necessário negociar limites e estabelecer senso de autoridade. A atual geração de pais tem tido dificuldades em dar limites aos filhos", afirma Liora.

Para falar mais sobre este assunto convidamos o professor Marcus Renato de Carvalho, médico do departamento de Pediatria da UFRJ e a psicóloga da Maternidade Escola e doutoranda do EICOS/IP/UFRJ, Maria Luiza M. de Carvalho.



Marcus Renato de Carvalho
- médico do departamento de Pediatria da UFRJ
Maria Luiza de Carvalho
- psicóloga da Maternidade Escola
e doutoranda do EICOS/IP/UFRJ

"Pai não nasce pronto. Ser pai vai acontecendo a partir do contato com o filho, do desejo de se envolver com o seu desenvolvimento e dos laços que se formam com esta relação.

A participação do pai nos cuidados com o filho desde a gravidez é muito importante para o desenvolvimento emocional das crianças e do próprio pai.

Os pais podem acompanhar o parto dos seus filhos em maternidades municipais (Resolução SMS - RJ no. 667, de 20/10/98). Após o nascimento têm direito a cinco dias de licença paternidade.

O leite materno é muito importante para o bebê. O apoio do pai é fundamental para o sucesso da amamentação.Tanto homens quanto mulheres devem aprender a cuidar do bebê, da criança, do adolescente, procurando se informar sobre as diferentes fases do desenvolvimento de seus filhos e trocando experiências com outros pais.
Educação, carinho e apoio são os bens materiais mais importantes que um pai pode dar ao seu filho.

Uma relação de respeito pode ser construída com afeto e sem violência. É importante dialogar, explicar aos filhos como devem se comportar e, sobretudo, dar o exemplo.

O pai apresenta o mundo ao filho, ajudando-o a descobrir as coisas novas. Seja parceiro nesta aventura. "

"Em 1999, não soube responder 'o que sente um pai quando nasce um filho', pergunta feita pela minha orientadora, professora Cecília de Mello e Souza na pós-graduação do EICOS/IP/UFRJ. Percebi que apesar de psicóloga há cerca de 20 anos, desconhecia a profundidade das emoções dos homens ao se tornarem pais. Sabia que as mulheres passavam a amamentar melhor quando a visita dos pais era permitida em horários extraordinários no alojamento-conjunto da Maternidade-Escola, numa época em que estas visitas só ocorriam três vezes por semana. Percebia ainda que os pais se sentiam perdidos no ambiente da instituição, como se estivessem entrando num outro mundo, sem nenhum guia para ajudá-los. A ampliação das visitas permitiu a interação destes com as mães e os bebês, facilitando a qualidade da vida familiar.

Motivada por conhecer a experiência do nascimento da criança em maternidade pública, desenvolvi uma pesquisa que me mostrou que aqueles homens que conseguiam estar presentes na hora do parto, eram verdadeiros heróis. Heróis porque tinham conseguido vencer as barreiras das instituições de saúde e da cultura relativas à desvalorização do cuidado paterno.

Os resultados da pesquisa me estimularam a trabalhar em parceria com a Prefeitura do RJ, desde 2002, no Movimento de Valorização da Paternidade, buscando capacitar profissionais para a atenção aos pais. Estamos construindo os dez passos para Unidade de Saúde Parceira do Pai, para que profissionais possam estar habilitados e os ambientes preparados. A UFRJ, que tem papel fundamental na formação de profissionais de saúde e educação, precisa estar capacitada para inserção do tema paternidade nos diferentes currículos. Desejamos que desta forma, os pais sejam bem-recebidos nos serviços de saúde, para que se sintam apoiados na sua experiência de paternidade, e as crianças possam usufruir do aconchego paterno, fundamental na constituição de mulheres e homens mais amorosos. "