Argumento
11.08.2005
Álcool e gravidez não combinam
por Eric Macedo


Beber durante a gravidez não faz bem para a criança. Disso todo mundo sabe, mas muitas mães ignoram esse fator e continuam consumindo álcool durante a gestação. Em conseqüência, os filhos herdam dessa irresponsabilidade a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF), que pode causar do abortamento a problemas mentais nas crianças. Elas apresentam dificuldades no aprendizado, deficiência na atenção e distúrbios comportamentais, além de, muitas vezes, anomalias faciais e retardo no crescimento. Pode haver também o comprometimento do sistema nervoso central e de outros órgãos, como o coração e os rins, explica o professor José Mauro, coordenador do Programa de Atenção Integrada da Síndrome Alcoólica Fetal.

Segundo ele, a UFRJ hospeda o primeiro ambulatório da América do Sul voltado para a pesquisa e o tratamento da SAF. O Programa acertou recentemente uma parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro para uma campanha de prevenção à síndrome, que se iniciou na semana passada, quando a Secretaria Especial de Dependência Química realizou um seminário para conscientização quanto aos riscos da SAF.

Para o professor José Mauro, a gravidade do problema ainda é pouco reconhecida pela sociedade brasileira. "Qualquer uso de álcool representa um risco sério, mesmo em pequenas quantidades, independente dos excessos que se cometa ou não. Outros países, como os EUA e a França, já acordaram para essa questão, que no Brasil ainda não é muito discutida", diz ele.

Quando ingerido pela gestante, o álcool atravessa a placenta e, através do cordão umbilical, chega ao feto. Como é uma substância depressora do metabolismo, ele afeta a multiplicação celular e, conseqüentemente, o desenvolvimento do cérebro ainda em formação, explica o professor.

E continua, "os efeitos da SAF podem ser maiores ou menores dependendo de cada caso. Pode ser até que a ela não apareça, mesmo que a gestante consuma álcool, mas isso sempre representa risco. Estimativas norte-americanas revelam que uma a duas crianças por cada mil nasce com a síndrome, numa incidência bem maior que a da Síndrome de Down, por exemplo (um a cada três mil nascimentos). A SAF, no entanto, é cem por cento evitável. Basta que a grávida retire totalmente o álcool de sua dieta".

O programa de Atenção Integrada da Síndrome Alcoólica Fetal existe há dois anos e funciona no Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC), no Campus da Praia Vermelha, como parte do Centro de Estudos de Prevenção e Reabilitação do Alcoolismo (CEPRAL). É um projeto acadêmico que envolve ensino, pesquisa e extensão e tem acordos com universidades da França e dos EUA. Telefones para contato:2295-9794 / 2295-6282.