Ciência e Vida
04.08.2005
Tuberculose nunca mais
por Taisa Gamboa


O Hospital Universitário da UFRJ desenvolve, desde o final da década de 50, um trabalho voltado para pesquisa e tratamento da Tuberculose. Mas só em 1995 que foi criado o Programa Acadêmico em Tuberculose, englobando as áreas de assistência, pesquisa e ensino.

O programa é vinculado ao Instituto de Doenças do Tórax (IDT), que atualmente realiza por ano 15 mil atendimentos laboratoriais; 600 internações; 300 cirurgias de tórax; e mais de 20 mil procedimentos laboratoriais diversos, específicos para a área respiratória.

Em 1998, constituiu-se o Programa de Controle da Tuberculose Hospitalar (PCTH) do IDT-HUCFF/UFRJ, com uma visão interdisciplinar através da participação direta de médicos, enfermeiros, assistentes sociais, biólogos, técnicos de enfermagem e de laboratório, além do apoio dos Serviços de Nutrição e de Saúde Mental.

O PCTH foi criado para auxiliar na redução da taxa de abandono do tratamento anti-tuberculose, da viragem tuberculínica em profissionais de saúde. Além disso, o programa tinha como proposta o isolamento respiratório de todo paciente sob suspeita de tuberculose pulmonar no momento da internação; a obtenção de resultado da pesquisa de BAAR no escarro (baciloscopia) no mesmo dia da coleta do espécime respiratório; implantação de métodos rápidos para o diagnóstico de infecções por microbactérias e de teste de sensibilidade aos antimicrobianos anti-TB, para a detecção rápida da doença dos casos de Tuberculose e o controle da transmissão hospitalar.

Apesar dos êxitos, a tuberculose ainda é um sério problema de saúde pública no Brasil, com profundas raízes sociais, estando intimamente ligada à pobreza e à má distribuição de renda. Segundo a coordenadora do PCTH, Fernanda Queiroz, o nosso país está entre os 22 países que concentram 80% dos casos desta doença no mundo e é responsável, junto com o Peru, por 50% dos casos nas Américas.

Ao longo do tempo, e através de agências de fomento à pesquisa, esses programas voltados à Tuberculose ganharam recursos em competições nacionais e internacionais e estabeleceram contato com várias universidades norte-americanas. O problema é que estes tipos de projetos de pesquisa não prevêem verbas para a infra-estrutura, necessária ao desenvolvimento das atividades.

Para superar este problema, a UFRJ estabeleceu algumas parcerias que fornecem verbas especificamente para obras de infra-estrutura. Uma delas foi realizada com o CT-Infra, fundos setoriais do Ministério da Ciência e Tecnologia. Os R$ 250 mil adquiridos permitiram o início das obras, mas não foram suficientes para suprir a demanda, afirmou o diretor do Laboratório Multidisciplinar do IDT, José Roberto Lapa.

Assim, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, e o diretor da Área de Inclusão Social, Mauricio Borges Lemos, firmaram com o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Aloísio Teixeira, e o presidente da Fundação José Bonifácio (FUJB), Raimundo Oliveira, contrato de financiamento, no valor de até R$ 1,6 milhão. A verba é composta de recursos não reembolsáveis do Fundo Social, destinados à realização de obras de implantação da infra-estrutura de pesquisa, ensino e extensão do Programa Acadêmico de Tuberculose, do Instituto de Doenças do Tórax (IDT), instalado no Complexo Hospitalar da URFJ, na Ilha do Fundão. As obras abrangerão 1.605 metros quadrados de área, com a construção de cinco salas de atendimento.

O projeto visa obter maior eficácia no combate à tuberculose - com pesquisas de novos fármacos e novas vacinas - e aumentar o compartilhamento de informações e de conhecimento dentro da Rede Brasileira de Pesquisa em Tuberculose (Rede-TB), integrada por centros acadêmicos de todo o País, dedicados ao controle da tuberculose. O objetivo é contribuir para que se atinjam as metas internacionais de diagnóstico e cura estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pactuadas pelo governo brasileiro.

Com a implantação das novas salas, pretende-se dobrar a capacidade de atendimento e superar a atual dificuldade para tratar casos muito graves de doentes de tuberculose, uma vez que, os pesquisadores vão poder ampliar o atendimento e contar com instalações especiais que apresentam risco mínimo de contaminação. Além disso, será possível manipular microbactérias patogênicas e mutantes desenvolvidos por técnicas de engenharia genética. Existe ainda a possibilidade da realização de pesquisas avançadas, inclusive de novos alvos moleculares, que permitam a produção de medicamentos, vacinas e métodos diagnósticos que possam ser úteis no controle da tuberculose.





(E.D) Aloísio Teixeira, Guido Mantega, Maurício Borges e Raimundo Oliveira