Dia 3 de agosto é comemorado o Dia do Capoeirista e pouca gente
sabe, mas a UFRJ foi a primeira universidade brasileira a ter a capoeira
no currículo dos estudantes de Educação Física.
Isso por iniciativa do mestre Gilberto Oscaranha, que desde que entrou
para a Universidade, ainda como aluno, no início da década
de 70, se dedica à prática e à divulgação
desse esporte genuinamente nacional. Hoje, Oscaranha é coordenador
do Acervo Cultural de Capoeira do Departamento de Lutas da Escola de Educação
Física e Desportos (EEFD).
O acervo disponibiliza para toda a sociedade mais de mil livros, fitas
de vídeo, recortes de jornal e revista, discos em vinil e CD e
trabalhos acadêmicos sobre a capoeira. Todo o empréstimo
de material é gratuito.
Oscaranha começou este trabalho quando se deu conta de que a capoeira
não devia ser vista simplesmente como uma atividade atlético-desportiva.
"Depois do fim do regime militar, quando começaram a surgir
uma série de projetos envolvendo cidadania e inclusão social,
eu comecei a perceber que o aspecto cultural da capoeira era tão
importante quanto o esportivo. Ele resgata sua raiz afro, que ainda é
vítima de preconceito", diz o professor.
O mestre passou, então, a assistir aulas no IFCS, para aprofundar
mais seus conhecimentos de sociologia e cultura. O passo seguinte foi
montar uma banca de livros na mala de seu carro e emprestá-los
a alunos no estacionamento da EEFD. Isso acontecia no meio para o fim
da década de 90, com dinheiro do próprio Oscaranha e de
alunos que colaboravam. Só em 2002, o acervo ganhou o apoio da
Universidade e conseguiu um lugar para se instalar.
Uma
forma de inclusão
Para Oscaranha,
a capoeira tem o poder de reunir em torno de si pessoas dos mais variados
grupos sociais, religiosos e culturais. "No mesmo evento, nós
reunimos empresários que investem no esporte e pessoas que a praticam
em comunidades carentes. No VII Festival de Capoeira [realizado no mês
de junho deste ano] havia desde maçons a evangélicos. Sem
falar nos representantes do governo", diz o mestre, orgulhoso do
sucesso do encontro.
Ele diz que,
para realizar inclusão, é antes necessário que quem
toma a iniciativa de começar um projeto também se sinta
incluído. "O importante é não desistir nunca.
Esse tipo de trabalho passa por dificuldades o tempo inteiro. Posso dizer
que nós, lá no acervo, matamos um leão por dia. No
nosso caso, em particular, há sempre o problema da discriminação,
que ainda é muito grande em relação à cultura
africana. Mas a coisa tem sido bem mais tranqüila depois que a 'Minerva'
passou a nos olhar com mais carinho", diz Oscaranha.
Está
nos planos do professor levar a capoeira a comunidades carentes no entorno
da Ilha do Fundão. Seria uma reedição do projeto
"Capoeira - da Universidade à Comunidade", realizado
há alguns anos com o apoio do Sintufrj. Além disso, continua
a batalha para que o acervo cresça cada vez mais. "Queremos
que o aluno não precise sair do acervo para estudar os diversos
aspectos da capoeira. Por isso, estamos adquirindo livros de física
e química, por exemplo. Quem quiser estudar, por exemplo, a biomecânica
da capoeira, não vai precisar recorrer a uma biblioteca de fora",
diz Oscaranha.
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