Argumento
04.08.2005
Capoeira é cultura
por Eric Macedo


Dia 3 de agosto é comemorado o Dia do Capoeirista e pouca gente sabe, mas a UFRJ foi a primeira universidade brasileira a ter a capoeira no currículo dos estudantes de Educação Física. Isso por iniciativa do mestre Gilberto Oscaranha, que desde que entrou para a Universidade, ainda como aluno, no início da década de 70, se dedica à prática e à divulgação desse esporte genuinamente nacional. Hoje, Oscaranha é coordenador do Acervo Cultural de Capoeira do Departamento de Lutas da Escola de Educação Física e Desportos (EEFD).

O acervo disponibiliza para toda a sociedade mais de mil livros, fitas de vídeo, recortes de jornal e revista, discos em vinil e CD e trabalhos acadêmicos sobre a capoeira. Todo o empréstimo de material é gratuito.

Oscaranha começou este trabalho quando se deu conta de que a capoeira não devia ser vista simplesmente como uma atividade atlético-desportiva. "Depois do fim do regime militar, quando começaram a surgir uma série de projetos envolvendo cidadania e inclusão social, eu comecei a perceber que o aspecto cultural da capoeira era tão importante quanto o esportivo. Ele resgata sua raiz afro, que ainda é vítima de preconceito", diz o professor.

O mestre passou, então, a assistir aulas no IFCS, para aprofundar mais seus conhecimentos de sociologia e cultura. O passo seguinte foi montar uma banca de livros na mala de seu carro e emprestá-los a alunos no estacionamento da EEFD. Isso acontecia no meio para o fim da década de 90, com dinheiro do próprio Oscaranha e de alunos que colaboravam. Só em 2002, o acervo ganhou o apoio da Universidade e conseguiu um lugar para se instalar.

Uma forma de inclusão
Para Oscaranha, a capoeira tem o poder de reunir em torno de si pessoas dos mais variados grupos sociais, religiosos e culturais. "No mesmo evento, nós reunimos empresários que investem no esporte e pessoas que a praticam em comunidades carentes. No VII Festival de Capoeira [realizado no mês de junho deste ano] havia desde maçons a evangélicos. Sem falar nos representantes do governo", diz o mestre, orgulhoso do sucesso do encontro.

Ele diz que, para realizar inclusão, é antes necessário que quem toma a iniciativa de começar um projeto também se sinta incluído. "O importante é não desistir nunca. Esse tipo de trabalho passa por dificuldades o tempo inteiro. Posso dizer que nós, lá no acervo, matamos um leão por dia. No nosso caso, em particular, há sempre o problema da discriminação, que ainda é muito grande em relação à cultura africana. Mas a coisa tem sido bem mais tranqüila depois que a 'Minerva' passou a nos olhar com mais carinho", diz Oscaranha.

Está nos planos do professor levar a capoeira a comunidades carentes no entorno da Ilha do Fundão. Seria uma reedição do projeto "Capoeira - da Universidade à Comunidade", realizado há alguns anos com o apoio do Sintufrj. Além disso, continua a batalha para que o acervo cresça cada vez mais. "Queremos que o aluno não precise sair do acervo para estudar os diversos aspectos da capoeira. Por isso, estamos adquirindo livros de física e química, por exemplo. Quem quiser estudar, por exemplo, a biomecânica da capoeira, não vai precisar recorrer a uma biblioteca de fora", diz Oscaranha.