Saúde em Foco
28.07.2005
Pepino-do-mar pode gerar novo fármaco
Fonte: A Tribuna (Santos) - SP
Data: 25/07/05
Ciência e Meio Ambiente
Agência Fapesp


Alternativas como a desenvolvida pelos pesquisadores da Unesp, em Guaratinguetá, têm um impacto que vai muito além da economia doméstica.

Um estudo britânico recém concluído afirma que o aumento do dióxido de carbono na atmosfera, causado em grande parte pela queima de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo) "fará com que os oceanos fiquem tão ácidos em 2100 que poderão ameaçar a vida marinha", afirma o documento.

Desde a época pré-industrial até hoje, isto é, desde 1750, a acidez dos oceanos aumentou 30%. Em 2100, se a poluição não for controlada, a acidificação marinha crescerá 300%, concluiu o relatório.

O mar, além de crucial para manter o equilíbrio climático do Planeta, é fonte de importantes recursos. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, invertebrados marinhos como a ascídia, a batata-do-mar e o pepino-do-mar poderão, no futuro, ser a fonte de uma nova classe de medicamento para prevenção de acidentes cardiovasculares.

Atualmente, esses fármacos são feitos à base de matéria-prima obtida de bovinos, de onde se extrai a heparina, utilizada há mais de 50 anos em todo o mundo na prevenção da trombose profunda e também como agente de prevenção de infarto.

O problema é que, como o medicamento é derivado do boi e da vaca, o mal da vaca louca e o risco de contaminação para o paciente levaram cientistas a buscar outra alternativa de matéria-prima.

Depois de descobrir a presença de heparina nos invertebrados marinhos, a equipe do pesquisador Mauro Pavão comprovou, em testes com animais de laboratório, que esses compostos, além de terem as mesmas ações antitrombótica e antiflamatória dos produtos hoje comercializados, podem oferecer vantagens ainda maiores.

"A principal diferença é que eles não causam os efeitos de sangramento que são associados à heparina bovina", disse o bioquímico.

No pepino-do-mar e na ascídia, Pavão observou um efeito entre cinco e dez vezes mais potente do que o observado com a heparina comercial.

A descoberta foi feita quando, durante um mergulho, um estudante verificou que um animal marinho tinha estrutura externa com textura muito semelhante à cartilagem, com uma concentração de análogos da heparina.

A próxima fase é fazer os testes toxicológicos para ver se esses compostos não causam outros efeitos,e só depois testar em humanos.

A nova alternativa pode significar também uma economia para o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo estimativa, o SUS gasta anualmente R$ 3,6 milhões com a compra de ampolas de heparina dos laboratórios produtores. (Com Agência Fapesp)