Saúde em Foco
06.07.2005
ALÉM DO HORIZONTE
OSSOS SINTÉTICOS
Revista Carta Capital - SP
Por Riad Younes


Entre os novos materiais em desenvolvimento, um produto criado no Brasil promete grandes benefícios para quem precisa repor e regenerar tecido ósseo.

Acidentes, esmagamentos, infecções crônicas e destruição por tumor são alguns dos problemas que podem levar à perda de parte de um ou mais ossos do corpo. Até hoje, os ortopedistas realizavam manobras para repor o osso perdido. Enxertos de ossos saudáveis de outras partes do corpo - da bacia e das costelas, por exemplo - são utilizados para preencher falhas ósseas. Bancos de ossos também foram criados para suprir essa necessidade.

Apesar desses avanços notáveis na técnica de reposição óssea, os índices de sucesso desses procedimentos médicos são ainda limitados. Mas o futuro pode trazer soluções mais eficazes. E uma delas pode sair das mãos de cientistas brasileiros.

Pesquisadores do Centro Médico de Campinas estão avaliando há alguns anos um material sintético que pode substituir as falhas. Isso, em si, não representa uma novidade. O que diferencia esse material novo é seu poder de ser incorporado quando enxertado e, seguindo as indicações da moda científica da atualidade, também o fato de ele possibilitar a absorção e a fixação intensa das famosas células-tronco (até dez vezes mais do que permitem outros produtos sintéticos já conhecidos).

Mas o que as células-tronco estariam fazendo no osso? Bem, a idéia é simples e ao mesmo tempo desafiadora. Além da sustentação mecânica oferecida por esse tipo especial de cerâmica porosa, o enxerto precisa ajudar o corpo a recuperar ou regenerar o osso danificado. Isso requer células com grande poder de recompor o tecido saudável no local, refazendo quase integralmente o osso.

Um tipo de tratamento regenerativo também não é totalmente novo. Mas o material sintético produzido pelos pesquisadores brasileiros, que conseguiu fixar com excelente eficiência grandes quantidades das tão preciosas células-tronco, pode aumentar muito a sua eficiência.

Testado pelo ortopedista Everson Giriboni, o novo material resultou em recuperação impressionante de ossos perdidos. Os efeitos colaterais e as complicações parecem ser mínimos, segundo os cientistas responsáveis pelo projeto.

O entusiasmo é tão grande que Giriboni acredita que as taxas de sucesso poderão atingir 100%. Além de ser uma esperança formidável para milhares de pessoas acometidas de sérios problemas ósseos, essa novidade sintética é genuinamente brasileira.

Outros pesquisadores, entre eles brasileiros do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), estão desenvolvendo ossos sintéticos que poderão apresentar opções para implantes e próteses usadas para preencher falhas ósseas. Os experimentos começaram de forma promissora nos laboratórios.

Na mesma linha, cientistas da Universidade de Lausanne, na Suíça, desenvolveram um novo material ósseo sintético bioabsorvível (passível de absorção pelo próprio corpo, após um certo período de tempo). Esse produto possibilita também a substituição de perdas ósseas extensas, permitindo a regeneração completa dos ossos, a partir de células próprias do paciente.

Os resultados desses estudos, publicados recentemente em prestigiosas revistas científicas internacionais, ampliam drasticamente o horizonte e as possibilidades de resolver os problemas das perdas ósseas num futuro próximo, com colaboração intensa de cientistas e técnicos brasileiros.

No Brasil, muitos desses projetos recebem apoio financeiro de órgãos públicos e privados de fomento da pesquisa. Com todo o mérito.

 


Campo fértil
Estudo com células ósseas, em Pittsburgh, nos EUA