História Viva
07.07.2005
A arte de ser cientista
por Eric Macedo e Andréa Pestana


Como um artesão, batendo sem parar até dar forma a peça. Assim, junto as suas experiências, no silêncio do seu laboratório, está o cientista. Pulsa o sangue, de um lado para o outro passeia o globo ocular, ouvidos atentos, tudo deve ser medido, anotado, confirmado, experimentado e comprovado. Pronto o invento, onde aplicá-lo? Quem entende essa vida de cientista? Aonde se quer chegar?

O Professor Leopoldo de Méis encontrou a fórmula exata de mesclar ciência e arte. Em dois livros ricamente ilustrados, o coordenador do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ balanceia conhecimento científico e beleza visual. Frutos de uma parceria de dez anos com o desenhista Diucênio Rangel, os livros foram inspirados no formato dos antigos almanaques de história em quadrinhos.

Os assuntos abordados são fundamentais para o entendimento da história da ciência. "O método científico", por exemplo, fala do momento em que o homem começou a pensar a natureza de forma mais sistemática. Os livros não são comercializados. Todas as edições são distribuídas gratuitamente na rede pública de ensino. "Eu perguntei aos meus alunos de pós-graduação se eles sabiam o que era o método científico. Fiquei impressionado quando apenas dois, de uma turma de dez, responderam. E, mesmo assim, só tinham uma vaga noção do que se tratava", disse o professor. Para ele, os cientistas hoje se esquecem de passagens essenciais da história da ciência.

Além disso, professor de Meis lançou dois DVDs, dentro de uma série denominada Ciência com Arte, que tem o intuito de enriquecer o trabalho apresentado nos livros com som e imagens em movimento. As animações são criativas, originais e coloridas, a fim de sensibilizar o interesse dos estudantes do ensino básico e médio para a ciência. Da mesma forma, de Meis roteirizou e dirige uma peça teatral que traz a história do desenvolvimento científico desde a invenção da penicilina até os dias atuais. A peça já foi apresentada em 30 cidades em todo o Brasil.

De Méis começou sua carreira como médico cirurgião. Pouco depois, se tornou pesquisador na área da Bioquímica, segundo ele, "para ganhar dinheiro". Mas acabou se apaixonando. Por muito tempo, gerenciou entidades de fomento à pesquisa, como o CNPq. As freqüentes viagens a Brasília, no entanto, acabaram por distanciá-lo demais do lado prático da ciência. Foi então que voltou para o laboratório, definitivamente.

Não bastasse todo aquele empenho na divulgação da ciência, professor Leopoldo mantém desde a década de 80 um programa denominado "Interação entre Ciência e Educação". Ao todo, já passaram pelo departamento de Bioquímica 43 jovens a partir de 14 anos vindo de comunidades de baixa renda. Eles entram em contato com o ambiente do laboratório, desenvolvem estudos científicos próprios, com metodologia estruturada por cada um deles e contam com a tutela dos alunos de pós-graduação. Adotados pelo departamento, que investe em suas formações extra-curriculares, como curso de idiomas e pré-vestibulares, esses jovens tomam gosto pela ciência. Muitos ingressam na Universidade e, por sua vez, adotam novos tutelados. O programa deu tão certo que outras seis universidades públicas o estão adotando, dentre elas a UNICAMP.