Argumento
07.07.2005
As Verdades sobre o Hipotireoidismo
por Beatriz Padrão


Na edição da Veja do dia 10 de junho, foi publicado como resultado de uma pesquisa que a incidência do hipotireoidismo entre as mulheres brasileiras é a mais alta do mundo. O Olhar Vital, considerando a relevância deste dado, procurou o Dr. Mário Vaisman, chefe do serviço de endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), para detalhar informações sobre a doença e opinar sobre a matéria da Veja.

Dr. Vaisman informou que a pesquisa referida não foi só resultado de uma parceria entre a Universidade Estadual do Rio de Janeiro e o laboratório americano Albbot, conforme veiculado na revista. Ele também participou do estudo e foi apresentá-lo no congresso da Sociedade Americana de Endocrinologia, em San Diego.

O hipotireoidismo é sete vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens. Segundo Mário Vaisman, a alta prevalência da doença ocorre a partir da quarta década de vida e particularmente àquelas que já estão na menopausa. Por esta razão, a pesquisa envolveu 1.292 mulheres acima de 35 anos, do município do Rio de Janeiro. Desta amostra, 12,3% apresentavam hipotireoidismo. "A Veja apresentou um quadro equivocado e sensacionalista. A nossa prevalência é igual a do resto do mundo entre mulheres com essa mesma faixa etária. Os percentuais relativos aos outros países que constam no gráfico envolvem outras faixas etárias e até homens. Ou seja, está comparando dados que não são comparáveis", corrigiu Vaisman.

A doença é conseqüência de uma disfunção da glândula tireóide, produtora dos hormônios T3 e T4, que ajudam a regular o ritmo do metabolismo. Os sintomas se confundem com o de outras doenças e geralmente são: cansaço, depressão, aumento de peso por inchaço e intolerância ao frio. Também podem ocorrer: sonolência, pele seca e fria, prisão de ventre e a diminuição do apetite e da freqüência cardíaca.

Algumas pessoas podem ter apenas alguns sintomas com intensidade leve, e conviver muito tempo com a doença, sem diagnosticá-la. Por isso, Vaisman considera importante o diagnóstico em mulheres que apresentam aumento da tireóide; que engravidaram; que têm histórico familiar da doença e que entraram na menopausa. "Neste último caso, algumas que já apresentam sintomas depressivos, não os relacionam ao hipotireoidismo e chegam a procurar um psiquiatra", acrescentou Vaisman.
É através de um simples exame de sangue que se verifica o nível de TSH, que é um hormônio produzido pela glândula hipófise e que estimula o funcionamento da tireóide. Mede-se também a quantidade de T4 livre para confirmação. Se a taxa dessas substâncias estiver normal o exame deverá ser repetido após cinco anos, já se estiver baixa irá indicar um quadro de hipotireoidismo.

Constatada a doença, Dr. Vaisman afirmou que "para repor o hormônio basta ingerir uma pílula de manhã em jejum. O tratamento não causa efeitos colaterais e, na grande maioria dos casos, deve ser mantido por toda a vida. Entretanto, é comum os pacientes interromperem a medicação porque se sentem bem e acham que estão curados".

A Veja aponta, equivocadamente, como causa do hipotireoidismo o excesso do consumo de sal com iodo e o abuso no consumo de fórmulas para emagrecer. Mas o que realmente provoca a disfunção é relacionado a doenças auto-imunes; ou seja, o organismo não reconhece sua própria tireóide e produz anticorpos que vão destruindo essa glândula até que ela pára de funcionar. É importante ressaltar que o hipotireoidismo não acarreta o câncer de tireóide, explicou Dr. Vaisman.