História Viva
30.06.2005
Dr° Antônio Ledo ou Tuninho?
Taisa Gamboa


O dia a dia agitado de um hospital infantil; decisões importantes sobre todos os hospitais de uma das maiores universidades do Brasil; coordenação de programas especiais; aulas e música. Será que essa combinação dá certo? Alguns acadêmicos dizem que não; não é possível conciliar todos os compromissos de um pesquisador com a arte. Outros afirmam que sim, que é perfeitamente viável e positiva a experiência de unir trabalhos formais a outros relativos à arte. No caso, a música.

Um grande exemplo de que essa mistura pode dar certo, encontra-se aqui no CCS da UFRJ. Antônio Ledo é diretor do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), presidente da Câmara dos Hospitais da UFRJ, coordenador do Programa de Neonatologia Clínica, professor e, nas horas vagas, músico.

A questão da saúde da criança e o forte apelo social desse trabalho atraíram Ledo para a pediatria. A extensa carga horária do curso de Medicina (se formou em 79 pela UFRJ) e, posteriormente, os compromissos profissionais, o impediam de interpretar suas músicas, mas não de criá-las.

Ledo escreve músicas desde os 11 anos, e afirma que seu forte é a composição (embora algumas vezes se aventure no vocal). Ele diz que já sofreu preconceito na profissão. "As pessoas acham que só se pode realizar uma única atividade e que a arte não combina com outras profissões. Talvez no âmbito profissional isso não seja possível, mas como uma atividade de lazer e relaxamento, até ajuda".

Quando ainda era estudante, o pediatra conheceu seu atual parceiro, Max Barreto, que interpreta suas músicas. Foi na época da faculdade que os dois participaram e ganharam vários festivais. O sucesso das músicas era tal, que resolveram gravar um LP. Na ocasião da produção do disco, fizeram, inclusive, um pacto para que todo o dinheiro que ganhassem fosse investido na música.

A carreira de medicina pediátrica exigia uma qualificação especial, e, em função disso, Ledo foi à Carolina do Norte, onde ficou por 5 anos e se especializou em epidemiologia. A distância não o impediu de continuar trabalhando com a música. Chegou a se apresentar em bares e festas com seu professor e seu orientador, que gostavam muito de música brasileira e também tocavam instrumentos. Ledo, aliás, só toca instrumentos de corda e diz que seu forte é o violão.

Em 1996, quando retornou ao Brasil, o pediatra se reencontrou com Max e eles resolveram lançar a versão CD do antigo LP. A idéia era regravar as músicas, mas perceberam que elas não estavam adequadas ao novo momento, e reformularam seus arranjos. Resultado: o CD saiu em 2004 com novas versões e novas canções. Com o intuito de divulgar o trabalho, criaram uma página na internet, www.cdcompanheiro.com.br, aonde é possível encontrar informações sobre os artistas, deixar recados aos dois e ainda comprar o CD. Parte da renda arrecadada é revertida para a ONG Recomeçar.

Segundo Ledo, ele faz música por prazer, para relaxar. Quando se tem a oportunidade de atuar nessa área profissionalmente é absolutamente gratificante. "Me ajuda muito no trabalho. A música não é uma atividade linear, possui outra lógica, varia conforme o dia. Pegar o violão e tocar faz muito bem para gente. O ato de criar é muito bom".