Dia
12 de maio se comemora o Dia do Enfermeiro. Assim como outras datas
é uma oportunidade para se analisar a profissão, pensar
na situação atual, nas mudanças, no que se deseja
para o futuro; e de reencontrar colegas de trabalho, amigos e antigos
mestres.
Desentendimentos
entre a equipe médica e o núcleo de enfermeiras; casos
clínicos raros; partos; cirurgias; dores; mortes; recuperação
e vida. São esses os elementos que permeiam o dia-a-dia de uma
enfermeira de um grande hospital. Lúcia Maria Botto Polido Loureiro,
de 51 anos, é Diretora Adjunta Acadêmica da Enfermagem
do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, e
diz que apesar das adversidades, nunca se arrependeu de ter escolhido
a profissão.
Professora
da Escola de Enfermagem Anna Nery há 26 anos, Polido trabalhou
no Hospital Universitário de 1977 a 1980, quando foi convidada
a lecionar na Escola de Enfermagem da UFRJ. Seguiu o magistério,
e dessa forma conseguiu unir duas paixões: ensinar e cuidar das
pessoas. Nas aulas, a enfermeira ensina aos alunos como lidar com as
pessoas e seu sofrimento. Acompanha os alunos no Hospital Universitário,
ensinando-lhes na prática a arte de "enfermar". Assim,
ela mantém contato com as duas áreas, leciona e pratica
a enfermagem.
Lúcia
Maria sempre fala com emoção da profissão que escolheu
ainda menina. Ao vivenciar um problema de saúde familiar, ela
percebeu como é importante o cuidado com o paciente. Na época
do vestibular, teve a oportunidade de conversar com uma enfermeira e
ficou encantada com a atividade descrita pela profissional. Segundo
ela, a enfermagem é uma atividade diferenciada da medicina, pois
a primeira cuida da pessoa para que ela se recupere, e, o segundo, cuida
da doença.
Mas nem tudo
são flores. Os enfermeiros enfrentam problemas com a falta de
reconhecimento, a falta de compromisso dos próprios profissionais
e a carência de infra-estrutura para desenvolver um bom trabalho
de enfermagem. Polido afirma que falta envolvimento em todos os níveis,
dos alunos aos doutores. E isso às vezes a surpreende; ela acredita
que a área da saúde exige muita dedicação
e o compromisso de estar ali fazendo aquilo com carinho, respeito e
atenção.
Outro problema
enfrentado pela categoria é a comparação com os
médicos. De modo geral, as pessoas ainda não conseguiram
perceber a diferença entre as profissões. Historicamente,
a medicina proporciona o status do conhecimento e do reconhecimento,
até no que tange à remuneração e condições
de trabalho. Os motivos que levam muitos profissionais à escolher
a enfermagem são muitos, mas quase sempre não produzem
orgulho. Ser mais fácil que medicina, exigir menos tempo de estudo
e a possibilidade de se estabelecer uma ponte interna para a medicina
são as justificativas de quem opta pela enfermagem na grande
maioria. O enfermeiro cuida exclusivamente da pessoa, tem um relacionamento
mais próximo com o paciente, e o auxilia a lidar com os problemas
emocionais provocados pela doença. O médico, como já
foi dito anteriormente, tem como foco a doença.
Além
disso, os enfermeiros, assim como outros profissionais, enfrentam, vez
por outra, problemas éticos. Polido lembra-se de certa vez que
uma colega de profissão da equipe médica informou às
enfermeiras que não seria necessário fazer qualquer tipo
de procedimento de enfermagem com um determinado paciente, já
em estado terminal. Ela alegava que ele não exigiria mais cuidados
básicos, como higiene e conforto. Mesmo assim, algumas enfermeiras
(inclusive Polido) insistiram em cuidar do tal paciente, que teve melhora
significativa, saindo do quadro de terminalidade. Para Lúcia
Maria, foi, sem dúvida nenhuma, um erro de percepção
e ética médica grave.
Não
raro surgem nos hospitais alguns casos curiosos e interessantes, que
chamam a atenção de toda a equipe do hospital e exigem
cuidados especiais dos enfermeiros. São doenças e sintomas
até então pouco conhecidos, que necessitam maior dedicação
e pesquisa. Invariavelmente, essas pessoas passam a sofrer, pelo menos
inicialmente, o medo do desconhecido. A incerteza da existência
de cura, ou da presença ou não de seqüelas, são
os principais motivos para tal. Nesses casos, a presença e atuação
diária do enfermeiro tornam-se indispensáveis para a recuperação
saudável do paciente.
Polido comenta
que hoje os enfermeiros sofrem grande concorrência. Quando se
formou, o mercado era tão grande, que era possível escolher
em qual clínica ou hospital se desejava trabalhar. Mas já
não é mais assim. Hoje em dia, a própria redução
das ofertas de trabalho, e o baixo piso salarial, fizeram com que as
pessoas fossem obrigadas a ter dois empregos, e a buscarem melhores
postos de trabalho; nem que isso signifique atrapalhar os outros profissionais.
A enfermeira pensa que, essa busca leva a uma competição
dentro da própria profissão, mas quem é bom, o
será em qualquer lugar.
O lado emocional
do paciente é outro fator de extrema importância. Antigamente,
as pessoas eram tratadas em casa, com o médico da família.
Com o avanço da ciência, ocorreu um deslocamento dessa
assistência para os hospitais. E desde então, os doentes
são alocados em ambientes estranhos, com hábitos e pessoas
diferentes. Só que isso ocorre justamente num momento de debilidade,
o que pode potencializar problemas psicológicos e por fim, o
de saúde. Com o cotidiano alterado, cada pessoa reage de uma
forma, algumas extravasam, seja falando ou chorando, e outras sentem
dor. Assim percebemos a importância dos enfermeiros: cuidam dos
pacientes de forma a amenizar-lhes os problemas causados pela doença
com carinho, respeito e atenção. Ser enfermeiro é
cuidar com técnica, mas sem jamais esquecer o lado humano: as
dores de todas as formas, as preocupações, a solidão
e os medos que todos temos, concluiu Polido.