Ciência e Vida
20.06.2005
Diabetes - do diagnóstico à prevenção
Lílis Soares


Os primeiros relatos datam da era egípcia, quando era considerado um mal "grave e misterioso". Dois mil anos depois, por volta de 70 d.C., Areteu descreve a doença, observando quatro sintomas: fome, sede, fraqueza e muita urina. E somente em 1670, depois do médico inglês Thomas Willis ter provado a urina de um paciente sob suspeita de diabetes, descobriu-se que ela era muito doce, "cheia de açúcar". Séculos se passaram, muitos estudos foram e ainda são realizados. A doença se alastrou pelo mundo e, hoje, atinge 177 milhões de pessoas, 10 milhões só no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2030, o número de diabéticos no mundo será maior do que 370 milhões.

Existem muitas informações sobre a doença. Sites, comunidades, associações. Há centros de referência no tratamento da doença em nosso país, como Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia Luiz Capriglione (IEDE), no Rio de Janeiro, o Centro de Diabetes da Bahia (CEDEBA) e o Instituto da Criança com Diabetes (ICD), no Rio Grande do Sul. No entanto, a divulgação insuficiente. A população não sabe o que é diabetes, fazendo com que menos da metade dos diabéticos saibam que são portadores da doença.

Nosso corpo transforma grande parte dos alimentos que ingerimos em glicose. E esta é transportada no sangue até as células, onde é usada como fonte de energia. Para facilitar esse transporte, o organismo produz uma substância chamada insulina, a "chave" que "abre as portas" das células permitindo a entrada da glicose. No diabetes, o que ocorre é a falta absoluta ou produção insuficiente de insulina, ou ainda mau funcionamento da insulina produzida, causando o aumento da quantidade de glicose no sangue e a eliminação desta na urina.

Os sintomas da doença são: cansaço, perda de peso, sede, necessidade freqüente de urinar e visão turva. Com o tempo, podem surgir sérios problemas nos olhos - levando até à cegueira -, nos nervos, no coração, nos pés, nas artérias e nas veias.

Há dois tipos mais freqüentes de diabetes:

Diabetes Mellitus isulinodependente ou tipo I - caracteriza-se pela falta ou produção insuficiente de insulina. Atinge com maior freqüência os jovens. Ainda não se sabe exatamente as causas deste tipo de diabetes, porém existem alguns fatores que parecem estar ligados a ele, como a genética, os auto-anticorpos, os vírus e os radicais livres do oxigênio.

Diabetes não insulinodependente ou tipo II - este é o caso no qual a insulina produzida não funciona de forma adequada. O fator hereditário tem maior influência e também há uma relação com a obesidade, embora esta não leve necessariamente ao diabetes.

É o tipo mais comum, atinge de 5% a 10% da população, na maioria adultos (normalmente acima dos 40 anos de idade), é considerado mais brando, pois seus sintomas são menos pronunciados, podendo permanecer desapercebidos por muito tempo. No entanto, também é preciso levar a sério o tratamento. Afinal, é uma doença que põe em risco a saúde do indivíduo.

Tratamento
O tipo I é tratado através do monitoramento constante da glicemia. É necessário fazer testes diários para detectar glicose no sangue. Os mais comuns são:
  • colocar uma gota de sangue em um medidor especial;
  • teste da urina, usando uma fita especial que, em contato com a urina, acusa a presença de glicose ou cetonas. A presença de cetonas na urina pode significar que o nível de glicose no sangue está descontrolado;
  • exame de sangue chamado HbA1C, que mostra o nível médio de controle da glicose sangüínea (glicemia) nos últimos 2 ou 3 meses. É um exame importante para o controle durante o tratamento do diabetes.

Deve-se fazer, diariamente, aplicações de quantidades exógenas de insulina. Já o portador de diabetes tipo II não necessita, fundamentalmente, desta aplicação diária - o uso de medicamentos, comprimidos ou insulina, é somente em alguns casos. Porém uma alimentação adequada, exercícios físicos, controle de peso e essencial no controle da doença.

Há vários produtos que auxiliam o diabético no controle de sua doença, como fitas de controle, bomba de infusão continua, produtos dietéticos, etc. No entanto, eles possuem um preço alto e não são todos os portadores que têm condições financeiras para arcar com as despesas. Para ajudar a essas pessoas, o SUS fornece fitas de glicemia e insulina NPH, mas, mesmo assim, elas não conseguem ter um controle ideal.

Segundo Jorge Luiz Luescher, médico de Endocrinologia Pediátrica do IPPMG há um convênio entre o setor de diabetes do IPPMG e a prefeitura para o fornecimento de insulinas NPH e regular e as fitas para glicemia, medicamentos fundamentais para o tratamento da doença. No entanto, a prefeitura, atualmente, só está fornecendo a insulina NPH. "Esta situação é preocupante, pois os pacientes dependem destes medicamentos. Nós temos orientado às famílias a compra de fitas mais baratas, custam aproximadamente 35 reais, que podem ser cortadas em três partes, fazendo com que o diabético possa fazer testes durante 20 dias. Porém, há pacientes sem condições financeiras para comprar estas fitas. Então fazemos um laudo e os encaminhamos para a defensoria pública", disse Luescher.

O Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), ambos da UFRJ, atendem a pacientes diabéticos, sendo o IPPMG dedicado a crianças e adolescentes. Eles estão localizados na Ilha do Fundão. Para mais informações, ligue: HUCFF - 2562-2689 ou IPPMG - 2562-6149.

Mudanças no estilo de vida
Para que o diabético tenha uma vida saudável é necessário que ele mude seu estilo de vida. É importante:

  • Selecionar um plano alimentar balanceado
  • Limitar o uso de carboidratos simples ou açúcares
  • Diminuir gordura da alimentação
  • Escolher cuidadosamente os horários das refeições
  • Praticar regularmente exercícios físicos de baixo impacto, como caminhada, natação e ciclismo.

Estes são exemplos de mudanças que podem tornar comum a vida de um diabético. No entanto, é preciso disciplina, tanto adultos quanto crianças. Segundo Claudia Castilho, médica do setor de tratamento de diabetes do IPPMG, é necessário ter um cuidado especial com a criança, elas são mais difíceis de disciplinar. Por isso, é preciso mudar não só o estilo de vida da criança, como também o da família. "A alimentação deve ser regrada, a aplicação de insulina deve ser feita, pelo menos, duas vezes ao dia, exercícios físicos são importantes e a realização de exames, através de um pequeno furo no dedo da criança, também", orienta a médica Cláudia Castilho.


A cura
Existem cinco linhas de pesquisa que visam a cura do diabetes: transplante pancreático, transplante de ilhotas, bio-engenharia com células tronco e afins, o pâncreas virtual e a regeneração de ilhotas. No entanto, atualmente, nenhuma técnica é satisfatória. A última descoberta foi feita por cientistas japoneses e divulgada no dia 19 de abril. Eles conseguiram realizar o primeiro transplante de células pancreáticas de um doador vivo na história. Até hoje, esse tipo de transplante só era realizado a partir de doadores mortos.

A paciente, uma mulher de 27 anos, há 12 dependente de insulina, recebeu de sua mãe, de 56 anos, células pancreáticas que produzem insulina, chamadas de ilhotas. A cirurgia foi feita na Universidade de Kyoto, em janeiro. A mulher, desde então, não precisou mais receber insulina. Segundo a entidade Diabetes UK, o tratamento é significativo, mas há risco de que haja dano ao pâncreas do doador e o deixe com risco de diabetes.

Há possibilidade, nos próximos 5 a 10 anos, que se descubra a cura do diabetes. Cientistas de todo o mundo trabalham com este objetivo. Cabe a nós torcer para que nos próximos anos descubra-se um modo de aumentar a produção de insulina, de maneira que regule a glicose presente no sangue e acabe com o sofrimento desses milhões de diabéticos espalhados por todo o mundo. Porém, enquanto isso, a melhor recomendação tanto para prevenção quanto para o controle da doença é viver de maneira saudável, com boa alimentação, prática de exercícios e informação.