Argumento
20.06.2005
Geriatria em Pauta
Taísa Gamboa

Seu termo é impreciso e sua realidade difícil de perceber. A velhice é deteriorativa e irreversível, mas é universal. Cedo ou tarde, todos iremos sofrer os efeitos do tempo e cabe a geriatria cuidar das doenças dos idosos, de forma a prolongar-lhes a vida com saúde.

A gradativa conscientização da população, a difusão dos métodos profiláticos, o desenvolvimento de novos medicamentos, e a melhora no padrão de vida da sociedade em geral contribuíram para o rápido crescimento do percentual de idosos na população. As pessoas estão vivendo mais e sobrecarregando o sistema de saúde. A falta de profissionais na área geriátrica tem, inclusive, levado empresas a captar os melhores alunos das turmas direto para o mercado de trabalho. O cenário brasileiro é de 16 milhões de idosos para uma oferta de 550 profissionais de geriatria.

Pensando nisso, a Faculdade de Medicina da UFRJ disponibiliza na sua grade horária, a disciplina de geriatria dentro dos Programas Curriculares Interdepartamentais, os PCIs de Medicina Interna. Ana Borralho, professora e coordenadora de graduação da Faculdade de Medicina, informa que os alunos interessados podem também fazer treinamento no serviço de Geriatria com enfermaria do Hospital Universitário. E para os médicos recém formados, a unidade oferece especialização em geriatria, dentro da área de clínica médica, o que também funciona no caso das residências.

Não existe uma disciplina isolada de geriatria, embora as pessoas tendam a pensar assim. Ela perpassa todo o corpo da clínica médica. Todas as especialidades do curso acabam mencionando a geriatria, já que existem doenças mais recorrentes nos idosos, e outras em que os idosos têm respostas distintas ao tratamento. A medicina engloba quatro grande áreas, ortopedia, nutrição, educação física e fisioterapia, e sempre haverá uma atividade dentro dessas especialidades voltadas aos idosos.

Ao ser questionada sobre a viabilidade da criação de uma disciplina específica para Geriatria no ciclo básico do curso de Medicina, Borralho responde que os alunos, a partir do 4° período, já realizam atividades no Hospital Universitário, aonde entram em contato com jovens e idosos com todos os tipos de necessidade. Os estudantes aprendem que determinadas situações são mais recorrentes em pessoas idosas que em jovens, e isso em qualquer momento dentro do hospital. Entretanto, o HU não disponibiliza residência específica em geriatria, oferecendo a clínica médica e as especialidades clínicas.

A professora diz ainda que um idoso é apenas um adulto mais velho e que somente em alguns casos ele necessita de atendimento especial, o que não justificaria um ensino especializado. Segundo ela, o currículo médico já é muito extenso e os problemas mais comuns nos idosos aparecerão em todo o contexto clínico. Para se fazer alguma coisa específica para o idoso, faz-se necessário passar por todas as etapas normais, no que funcionaria como um esquema multi-profissional e interdisciplinar. "O ideal é trabalhar de acordo com a necessidade do doente, sem o estabelecimento de uma atividade estanque", finaliza Borralho.