• Edição 275
  • 16 de janeiro de 2012

Por uma boa causa

Tratamento caseiro agrava casos de doenças de pele

Rafael Amendola

Nesta segunda reportagem sobre o tratamento de doenças a partir de métodos caseiros, tema deste mês, o Por uma Boa Causa aborda a “sabedoria popular” para tratar doenças de pele. Os procedimentos utilizados mostraram-se perigosos e, sobretudo, podendo deixar marcas na pele para o resto da vida.

A utilização de métodos caseiros é motivada pela vontade de eliminar rapidamente doenças de caráter antiestético. Receitas caseiras são comuns  para o tratamento de casos do molusco contagioso e das verrugas — tumores que surgem na pele. Ambas as patologias são causadas por vírus. Portanto, é muito importante que todo o material de contaminação seja retirado do corpo. No tratamento feito em casa, isso não acontece e pela falta de conhecimento a situação pode se agravar.

O primeiro passo para tratá-las é deixar de lado as agulhas quentes e linhas finas que são geralmente usadas para a remoção do tumor. “Tais procedimentos podem provocar marcas definitivas na pele como cicatrizes inestéticas”, revela a dermatologista Marcia Ramos e Silva, professora associada do Curso de Pós-graduação de Dermatologia, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FM-UFRJ) e chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

No caso do molusco, segundo ela, existe mais de uma forma para o dermatologista realizar o tratamento. “O tratamento ideal é a curetagem de cada lesão, pois há a retirada de todo o material viral de potencial contaminante. Além disso, há medicamentos que quando aplicados sobre as lesões, levam à formação de bolha que, quando se rompe, leva junto o molusco”, afirma a doutora. Sobre as verrugas, ela mantém seu pensamento sobre a utilização por parte do dermatologista de métodos e tratamentos eficazes.

O tratamento caseiro também é alternativa para muitas pessoas em função do alívio momentâneo de dor ou coceira. Nesse caso, há também um perigo, pois a necessidade de tratamento imediato é omitida. “O ideal é procurar um serviço de atendimento de urgência para que sejam prescritos remédios eficientes”, complementa a dermatologista.

Sobre as queimaduras, parentes e amigos sugerem o uso de manteiga com o objetivo de aliviar a dor das lesões. Entretanto, a dermatologista Marcia Ramos explica que, com a substância, a pele fica hidratada e reitera que um problema mais sério pode estar sendo mascarado.

A urticária, agudas lesões avermelhadas numa área de pele circunscrita, provoca coceira que, em alguns casos, é tratada com “receitas caseiras”. São propostos banhos mornos com bicarbonato de sódio e farinha de aveia para aliviar o incômodo causado pela patologia. Mas, como explica a médica Marcia, com o atendimento especializado, cada caso pode ser analisado individualmente para que assim haja orientação específica. O alívio que essas substâncias agregam, portanto, não é o bastante.

Risco de câncer de pele

Doença não contagiosa na qual ocorre a perda de pigmentação natural da pele, o vitiligo possui as mais perigosas teorias de tratamento caseiro. Esta patologia deixa a área da pele afetada muito sensível à exposição solar podendo até desenvolver um câncer de pele. Portanto, do conhecimento popular pode ser aplicado o ditado “todo cuidado é pouco”. Ingestão de alimentos como gérmen de trigo ou levedura de cerveja para repor a melanina não encontram respaldo científico, segundo a professora Marcia Ramos.

Marcia Ramos alerta acerca do uso de suco de limão associado à exposição ao sol, receita usada para obter um bronzeado perfeito. “Suco de limão na pele associado à exposição solar leva ao surgimento de queimaduras que podem variar desde manchas castanho-escuras, irritações leves a intensas, bolhas até a formação de cicatrizes definitivas”

 

Edição 269 – 15 de setembro de 2011