• Edição 270
  • 29 de setembro de 2011

Saúde e Prevenção

A artrite crônica na infância

Rafael Gonzaga

Muita gente tem o hábito de achar que as doenças reumáticas são próprias dos indivíduos já na chamada terceira idade, o que é um grande equívoco. Uma boa parte das doenças reumáticas atinge pessoas de todas as idades, incluindo jovens e crianças. É o caso da artrite crônica na infância. “Nós vamos chamar de artrite crônica toda inflamação das articulações que durar mais do que o período de seis semanas. Sempre que esse quadro tiver início antes dos 16 anos de idade vai ser classificado como juvenil”, esclarece a professora Blanca Elena Rios Gomes Bica, da Faculdade de Medicina da UFRJ.

Segundo ela, a artrite crônica da infância é hoje conhecida como artrite idiopática juvenil e é o reumatismo mais comum da infância. “Não se sabe a causa, mas é considerada uma doença autoimune.”     Não se sabe a causa da doença e nem formas de evitá-la. Mas sabe-se, por exemplo, que não se trata de uma doença sazonal, como é disseminado pela sociedade. Embora o frio, em alguns casos, possa realmente amplificar um pouco os sintomas, as doenças reumáticas não pioram ou surgem nos dias mais frios. Elas ocorrem em qualquer época do ano, em indivíduos de todas as idades, em ambos os sexos - apesar de a maioria atingir mais mulheres do que homens.

De acordo com a professora Blanca, que é ex-presidente da Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro e atualmente chefe do Serviço de Reumatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ), existem várias maneiras de início dessa doença. “Algumas começam com inflamação em uma única articulação, em geral, joelho, e outras vezes podem acometer, desde o princípio, várias articulações ao mesmo tempo, parecendo a doença do adulto, que comumente acomete mãos e pés logo de início. Algumas crianças podem ter febre de causa ignorada associada a manchas pelo corpo, que parecem ‘alergia’, e depois aparece a inflamação articular. Portanto, são várias as formas de início da doença”,, detalha a especialista.

Contudo, é de conhecimento que a doença tem sim tratamento. Apesar de ser uma doença crônica, como o diabetes e a hipertensão, que muitas vezes não possuem cura definitiva, o reumatismo tem tratamento que pode melhorar e restabelecer a qualidade de vida do paciente. A professora Blanca explica como ele funciona: “O tratamento se baseia inicialmente no uso de anti-inflamatórios que podem controlar as formas mais leves da doença. Quando isso não é suficiente, lançamos mão de medicamentos mais potentes, tais como os corticosteroides e imunossupressores. Pode ser necessária a utilização de drogas mais modernas como os imunobiológicos. Tudo isso associado a um programa de fisioterapia para prevenir deformidades e corrigir aquelas já presentes no diagnóstico”.

Analisando o panorama nacional, os serviços que tratam das crianças portadoras de doenças reumáticas na infância no Brasil, que geralmente são serviços universitários, estão capacitados a oferecer o tratamento adequado para essas doenças. De acordo ainda com a professora, o problema real no Brasil é o difícil acesso aos serviços especializados, principalmente pela escassez de profissionais capacitados, assim como o alto custo do tratamento.

“São doenças crônicas, que exigem o uso contínuo de várias medicações, muitas vezes de alto custo, e a população com menos recursos financeiros não pode arcar com esse tratamento. Alguns medicamentos são fornecidos pelo Estado, mas nem sempre é possível conseguir todos os medicamentos necessários”, acrescenta a reumatologista. Na pior das hipóteses, o tratamento tardio ou inadequado pode acabar comprometendo o desenvolvimento físico, emocional e familiar, criando um indivíduo com graus variáveis de incapacidade.



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