• Edição 237
  • 14 de outubro de 2010

Saúde e Prevenção

UFRJ auxilia no mapeamento de usuários de crack no Brasil

Michelly Rosa

Os estragos causados pelo uso de crack são alarmantes. A droga, barata e de fácil acesso, tem sido umas das maiores preocupações sociais, devido ao crescente número de vítimas não só nas grandes cidades do país, como também em cidades do interior. Na tentativa de traçar estratégias para o controle no uso da droga, o Ministério da Saúde, em parceria com as Universidades Federais do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Bahia (UFBA), iniciará uma pesquisa para mapeamento do perfil dos usuários.

A pesquisa visa a ampliar o conhecimento sobre os usuários de crack e levantar informações sobre a sua situação social (moradia, emprego etc.), padrão de uso de drogas, comportamentos de risco (pelo uso de drogas e comportamento sexual) para doenças como HIV e hepatite, e estado de saúde. A princípio, o trabalho será restrito às cidades do Rio de Janeiro, Macaé e Salvador.

De acordo com Marcelo Cruz, coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao uso Indevido de Drogas do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Projad), o aumento dos problemas com crack se deve ao desenvolvimento rápido de dependência pela droga e ao baixo custo financeiro: “as condições de vulnerabilidade de pessoas que vivem na rua agravam a situação. No entanto, isso não acontece apenas nos grandes centros. Ao contrário, cidades médias e pequenas também observam este crescimento. Daí a inclusão de uma cidade média como Macaé no estudo”.

Os malefícios pelo uso da droga são incontáveis. Além de debilidade física, como emagrecimento e doenças pulmonares, o consumo de crack também pode acarretar sequelas psíquicos. Para Marcelo Cruz, os problemas são agravados com o comportamento dos usuários. “As pessoas que usam crack, muitas vezes, desenvolvem um comportamento compulsivo. Usam a droga e logo depois (alguns minutos) têm intensa vontade de usar novamente. Reutilizam a droga continuamente até esgotar completamente seus recursos. Este uso compulsivo leva muitas dessas pessoas a se exporem a situações de risco. Entre os riscos estão a contaminação com doenças sexualmente transmissíveis e a exposição à violência”, explica o psiquiatra. 

Prevenção e tratamento

A vulnerabilidade é  um dos maiores agravantes provocados pela dependência do crack. Com isso, além de campanhas para prevenção contra o problema, é necessário um trabalho de assistência, principalmente quando se diz respeito à população de rua. Segundo o coordenador, a pesquisa do Ministério vai auxiliar no estreitamento do vínculo entre usuários de crack e outras drogas a instituições que atuam na prevenção e no tratamento: “a pesquisa pretende levantar, com esta parcela específica da população, quais são os serviços identificados por elas que podem melhorar sua vinculação às instituições”.

Além do mapeamento, melhorias no sistema de assistência a dependentes de drogas podem ser uma outra arma contra o problema: “no Brasil, nos últimos anos, tem sido desenvolvida a construção e articulação de uma grande rede de assistência a pessoas com problemas com drogas. A ampliação e o aperfeiçoamento desta rede, a melhoria da capacitação dos profissionais envolvidos e o desenvolvimento de ações que melhorem a qualidade de vida das pessoas, especialmente daquelas que vivem em condições de maior vulnerabilidade, pode ter impacto real na redução dos problemas com o crack e com outras drogas”, conclui Marcelo Cruz.