• Edição 237
  • 14 de outubro de 2010

Ciência e Vida

Estudo descobre aplicações farmacológicas do ouriço do mar

Stephanie Tondo

Há algum tempo pesquisas vêm sendo realizadas com ouriços do mar, dentre elas, a importante descoberta de uma substância capaz de auxiliar no tratamento da trombose. De acordo com o professor Paulo Mourão, do Laboratório de Tecido Conjuntivo do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), os ouriços são uma fonte abundante de polissacarídeos sulfatados, encontrados na matriz gelatinosa que envolve seus óvulos. “Tais polissacarídeos são estruturalmente análogos à heparina, um tipo de polissacarídeo sulfatado utilizado no tratamento da trombose e produzido comercialmente a partir de intestinos e pulmões de bovinos e suínos”, explica o professor. 

Na trombose ocorre um desequilíbrio do sistema hemostático que, por sua vez, compreende o sistema de coagulação sanguínea. Os polissacarídeos encontrados no ouriço, assim como a heparina, podem interagir com diversas proteases e cofatores da coagulação sanguínea, possibilitando sua aplicação no tratamento contra a trombose. “No entanto, as galactanas e fucanas sulfatadas de organismos marinhos possuem mecanismos de ação anticoagulante distintos da heparina. O efeito destes compostos sobre as proteínas do sistema de coagulação depende do padrão de sulfatação do polímero e sua composição monossacarídea”, alerta Paulo Mourão.  

Além de auxiliar no tratamento da trombose, estudos mostram que os polissacarídeos sulfatados encontrados nos ouriços podem também apresentar outras atividades farmacológicas, como anticoagulante, antitumoral e anti-inflamatória.  

Segundo Paulo Mourão, estas substâncias permitem a possibilidade de diminuição do uso da heparina. “O uso substancial da heparina possui uma série de limitações, especialmente relativas aos efeitos colaterais e à possibilidade de contaminações. Existe uma necessidade pela busca de drogas alternativas”, conclui o pesquisador.