• Edição 222
  • 1º de julho de 2010

Argumento

Os 50 anos do Laser


Luciana Cortes

Leitores de códigos de barra, tocadores de CD ou clínicas oftalmológicas, mais presente no cotidiano do que imaginamos o laser completou 50 anos. Em 17 de Maio de 1960, o cientista Theodore Maiman conseguiu emitir, de forma controlada, um raio de luz utilizando cristal de rubi, ou melhor, dominou os princípios que estão na base da Amplificação da Luz por Emissão Estimulada de Radiação.

Para falar sobre tal tecnologia, o Olhar Vital entrevistou o professor Luiz Davidovich, do Instituto de Física da UFRJ.

“O dispositivo chamado de laser foi demonstrado pela primeira vez há 50 anos, em 1960, por Theodore Maiman. Naquela época, ninguém sabia para que serviria aquela nova fonte de luz, que emitia um raio com direção e cor muito bem definidas e que se baseava em uma teoria elaborada por Albert Einstein em 1917. Considerava-se até que o laser era ‘uma solução em busca de um problema’. Imediatamente após essa primeira demonstração, começaram a aparecer vários tipos de laser, que deram origem a um grande número de aplicações e possibilitaram, além disso, progressos muito importantes em ciência básica”, explica do físico.

Luz do século XX

O termo foi utilizado em um artigo pelo professor Luiz Davidovich ao se referir ao laser. “Se tomarmos uma lâmpada comum, passarmos a luz emitida por ela por um orifício, para produzir um feixe de luz direcionado e, além disso, por um filtro, de modo a ter uma cor melhor definida, acabamos com um feixe de baixa intensidade, pois uma grande parte da energia emitida pela lâmpada foi desperdiçada.”

A luz do laser, no entanto, já é emitida de forma direcionada e com cor bem definida, de modo que é possível obter intensidades muito mais altas de luz. Além disso, pode-se mostrar que a luz do laser tem outras características que a diferenciam de uma lâmpada comum, como, por exemplo, a estabilidade de sua intensidade, que flutua muito menos que a de lâmpadas comuns. Por isso mesmo, trata-se de um novo tipo de luz, que marcou o século XX, com suas aplicações em ciência básica e tecnologia.

Uma aplicação conhecida por todos é na reprodução de música e imagens, na leitura de CD's e DVD's. A alta definição de cor e a possibilidade de focalizar a luz do laser em regiões muito pequenas permite a gravação e a leitura de um grande número de informações, muito maior que a registrada nos antigos discos de vinil.

Além disso, o laser tem sido aplicado em cirurgias de precisão, em oftalmologia e odontologia, na produção de circuitos impressos, em comunicações, no corte de materiais, na construção de relógios ultraprecisos, na medida precisa de distâncias. Atualmente, mede-se a distância entre a Terra e Lua com uma precisão de 3 cm.

“Um novo observatório astronômico, em construção no Novo México, permitirá a medição dessa distância com uma precisão de 1 mm! A concentração de energia possibilitada pelo laser tem atingido níveis impressionantes: por exemplo, em um Laboratório em Oxford, um laser ultrapotente emite pulsos com intensidade equivalente a ter toda a luz solar incidente sobre a Terra focalizada na extremidade de um fio de cabelo! Esses laseres ultraintensos têm uma aplicação possível no processo de fusão nuclear, que poderia fornecer uma fonte limpa de energia, uma alternativa aos reatores baseados na fissão nuclear”, informa o professor.

Desvantagens da utilização do laser

Para Luiz Davidovich, a utilização de laseres ultrapotentes com objetivos militares já foi pensada no famoso projeto "Guerra nas Estrelas" dos Estados Unidos da América, felizmente abortado. “As descobertas da física e da ciência, em geral, podem trazer benefícios ou malefícios à humanidade, dependendo do uso que se faz delas. E esse uso não deve ser decidido de forma autoritária, mas pela sociedade como um todo. Daí a importância da educação em ciências para o bom funcionamento da democracia, para que a população em geral se capacite a participar de decisões políticas cada vez mais complexas, como as referentes à engenharia genética, às mudanças climáticas, à adoção de diferentes formas de produção de energia, decisões que certamente devem se basear na opinião de especialistas, mas não podem ficar somente restritas a eles”, conclui o físico.