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Edição 262
02 de junho de 2011

Ciência e Vida

Um novo olhar sobre a maternidade na adolescência

Gabriel Demasi

 

Gravidez na adolescência é sinônimo de desinformação sexual? Não necessariamente. Um estudo realizado pela psicóloga Diana Dadoorian, do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub) mostra que há muitos aspectos psicossociais em jogo. Quando iniciou, em 1993, pesquisa com adolescentes de classes populares no Instituto Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro, a psicóloga constatou que a explicação da gestação na adolescência como algo problemático, ligado à falta de informação das jovens, não se sustentava mais. Assim, chegou à surpreendente conclusão de que a gravidez é desejada pelas adolescentes e dedicou-se a estudar a origem desse desejo e a analisar a questão sob outro prisma. “Falar só de informação (como causa da gravidez na adolescência) empobrece muito o estudo. Me pareceu mais interessante ter outro olhar”, afirma a pesquisadora.

De acordo com Dadoorian, a função social feminina foi, ao longo da história, culturalmente relacionada à maternidade, o que faz com que, para muitas jovens, ser mulher ainda equivalha a ser mãe. No meio das jovens entrevistadas durante a pesquisa, em sua maioria, de comunidades carentes do Rio de Janeiro, a afirmação social se expressa na maternidade, o que torna possível falar do conceito de maternidade social, presente no trabalho da psicóloga, doutora em Psicologia Clínica e Psicopatologia pela Universidade Paris VIII, na França.

A partir desta análise, pode-se dizer que as causas da gravidez na adolescência não estão exclusivamente ligadas à falta de acesso à informação sobre métodos contraceptivos, mas ao desejo universal, inconsciente, de ter um filho. As jovens, muitas vezes filhas de mães igualmente precoces, depositam em seus bebês muitas expectativas, planejando formar uma família, fundada sobre alicerces estruturais e emocionais que elas mesmas nunca tiveram na infância.  

Em 2000, Dadoorian desenvolveu, na Maternidade Escola da UFRJ, outra pesquisa, em que estudou a qualidade da interação afetiva entre as adolescentes grávidas e suas próprias mães, assim como o papel que os bebês ocupam para as avós maternas. Constatou-se que, em muitos casos, a mensagem transmitida pelas avós encorajava suas filhas a engravidar, e que estas consideravam o bebê como um filho. “A partir da gravidez de sua filha, a avó materna reatualiza o seu desejo de ter um filho”, pontua a psicóloga.

Segundo a doutora, pode-se falar do surgimento de uma tríade “mãe adolescente-bebê- avó materna”, pois a figura masculina se encontra enfraquecida e a relação principal se estabelece entre a mãe adolescente e a avó materna da criança.

Oito anos mais tarde, em 2008, Dadoorian iniciou no Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência (SPIA) do Ipub, com o apoio do CNPq, uma pesquisa que visava estudar e identificar precocemente problemas na qualidade da relação entre a mãe adolescente e seu bebê e propor modelos de intervenção precoce. Dez adolescentes gestantes, encaminhadas pela Maternidade Escola da UFRJ, foram atendidas pelo programa coordenado pela psicóloga. “O número de participantes da pesquisa é reduzido, mas vem de encontro aos resultados de outras pesquisas”, diz a pesquisadora. Como as famílias também estavam envolvidas, no final do processo o grupo contava com cerca de 80 pessoas, que passaram por processos de psicoterapia pais-bebê, psicoterapia individual, e quando necessário indicava-se consulta psiquiátrica no próprio Ipub. De acordo com Dadoorian, um dos grandes atrativos para trazer as jovens ao programa e fazer com que tivessem assiduidade era o registro em vídeo de sua interação com o bebê, entregue no fim do processo.


Foram dois anos de pesquisa com o apoio do CNPq, e mais um ano sem financiamento, apenas com o suor da pesquisadora e suas bolsistas. “Estes resultados podem apresentar um olhar menos ‘patologizante’ sobre essas mães adolescentes”, afirmou a Dadoorian. Seu objetivo agora é aumentar o alcance dos frutos de sua pesquisa. “A ideia é que nós possamos atingir um público maior, sensibilizar profissionais da área da saúde, talvez realizar o programa em uma maternidade”, conclui a psicóloga

 

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