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Edição 261
26 de maio de 2011

Ciência e Vida

Moscas no combate ao crime

Sidney Coutinho

 

Restos do sêmen de Dominique Strauss-Kahn, encontrados na gola da camareira do hotel novaiorquino permitiram à polícia identificar o DNA do ex-diretor-gerente do FMI, no caso que movimenta a mídia internacional. Mas e quando a vítima, como é comum no Brasil, jaz morta em um terreno baldio, incapaz de revelar o agressor da violência sofrida, o que é possível fazer? Com essa indagação, o perito criminal Carlos Augusto Chamoun decidiu pesquisar uma técnica para resgatar o DNA do esperma do estuprador no trato digestório de larvas decompositoras de corpos.

A idéia virou defesa de doutorado, agraciada com nota máxima pela banca examinadora do Museu Nacional da UFRJ pelo ineditismo e, tão logo concluída, poderá se tornar um protocolo de procedimento das polícias investigativas de todo o Brasil e outros países. “Ao ler um livro sobre os vestígios deixados pelos insetos, percebi que era um caminho possível para os casos de estupro”, conta Chamoun.

Hoje, a autora da obra “Entomologia Forense – Quando os insetos são vestígios”, Janyra Oliveira-Costa, é orientadora de Chamoun, ao lado da professora Márcia Souto Couri, do Museu Nacional. A publicação, inclusive, será relançada no dia 30 de julho, no Hotel Novo Mundo, no Rio de Janeiro. “A larva da mosca preserva o DNA do agressor, pois estoca em uma cavidade (papo) o material orgânico do qual se alimenta para a fase em que sofre metamorfose para se transformar em animal alado”, conta a professora Janyra.

Segundo ela, o trabalho do perito Carlos Augusto Chamoun é o primeiro no mundo com uma espécie universal, a mosca varejeira (Chrysomya albiceps) oriunda da África e cosmopolita. “Na verdade, o americano James Michael Clery, já havia feito um experimento com a Lucilia sericata, mosca esverdeada-metálica de climas temperados, mas dando uma dose pura de esperma para o inseto. Aqui, estamos verificando em um animal de frequência constante em cadáveres que também existe na Europa e Estados Unidos, apesar de não ser a predominante por lá, após ingerir carne decomposta contendo sêmen”, esclarece a professora Janyra Costa.

De acordo com Chamoun, outra diferenciação da pesquisa é identificar o prazo limite após a ingestão do alimento pela larva no qual é possível revelar o DNA do criminoso. “Recolher DNA do sêmen em cadáver putrefeito é difícil, pois com o passar do tempo ele se perde e também é digerido. A larva é de fácil identificação para a coleta e aumenta o prazo que temos para assegurar quem teve relações com aquela vítima”, conta o pesquisador.

Outro fato importante é a possibilidade de, por meio de uma análise mais apurada com base nos dois pares de cromossomos, dizer de quem é o esperma. “Inicialmente, fazemos apenas o sequenciamento do cromossomo masculino, o Y, que é um cromossomo sexual, mas ele não permite identificar exclusivamente o agressor, caso haja mais suspeitos da mesma linhagem paterna, o que é raro em estupro, mas não impossível. Pela pesquisa autossômica isso não acontece, excluindo-se qualquer outro suspeito”, conta.

A perícia tem o objetivo de revelar quem está no local do crime, auxiliando a investigação criminal a recriar o evento. “Hoje, a ciência tem colocado muito mais gente atrás das grades do que a truculência usada no passado. Muitas vezes o juiz liberta o criminoso que alega ter confessado sob tortura. Ainda bem que isso está mudando e estamos contribuindo para isso”, concluiu Carlos Augusto Chamoun que pesquisa em busca de  uma técnica para resgatar DNA do sêmen de um estuprador no sistema digestório de larvas encontradas no cadáver da vítima, com o fim de identificá-lo.

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