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Edição 259
12 de maio de 2011

Por uma boa causa

Boca fechada não entra glúten

André Ribeiro

Nesta segunda reportagem da série sobre alergias alimentares vamos abordar de uma das alergias menos conhecidas, porém mais restritivas que existe. A alergia ao glúten, proteína encontrada principalmente em cereais, que afeta parte relativamente pequena da população é altamente restritiva e muda a vida da pessoa alérgica.

A professora Eliane Rosado, do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ), falou ao Olhar Vital sobre este mal, que ainda é muito desconhecido no Brasil. “O glúten é uma proteína que, se ingerida por alguém alérgico a ela, causa inflamação no intestino, além de diarreia e dor abdominal. A intensidade da alergia varia de pessoa para pessoa, pode ser uma inflamação quase imperceptível ou então algo muito forte”, explica a nutricionista.

A alergia é progressiva e, segundo a professora Eliane, pode começar pequena e progredir para uma intensidade maior dependendo do contato do indivíduo com o glúten. Quanto à cura, ela não existe, mas, segundo Eliane Rosado, uma boa restrição alimentar combinada em certos casos com alguns medicamentos pode amenizar bastante o processo alérgico, tornando possível até mesmo um consumo pequeno da proteína. “O método mais ideal de amenizar a condição é a restrição alimentar mesmo. E depois de algum tempo a pessoa até se permite algum consumo do glúten, mesmo que muito pequeno”, explica a professora.

Essa restrição, segundo ela, é muito grande, e acaba mudando a vida do paciente, que se vê limitadíssimo na hora de escolher os alimentos. Além disso, o número de produtos que não contém glúten no mercado é baixíssimo, e não consegue atender à demanda da população alérgica à substância. “As pessoas acabam tendo que fazer os alimentos em casa, já que quase não existem no mercado com essas características” aponta a professora Eliane.

O principal componente alimentar a ser evitado pelos alérgicos ao glúten é o trigo. Segundo a professora isso torna muito difícil a restrição alimentar, principalmente para crianças. “Quando uma criança que tem alergia a glúten vai a uma festa, ela não pode comer quase nada. Salgadinhos, bolo, cachorro-quente, tudo tem glúten, e isso influencia até mesmo psicologicamente”, explica Eliane Rosado.

O glúten também é encontrado no centeio, na aveia e na cevada. As receitas de produtos sem essa substância, principal meio de manter uma restrição nutricional que não prejudique o alérgico, circulam entre as pessoas que têm a alergia e também entre mães, cujos filhos sofrem deste mal. Mas, segundo a professora, se houver uma amenização da alergia, depois de certo tempo, o indivíduo pode permitir-se a ingestão moderada de glúten.

Segundo especialistas quando o glúten chega ao intestino transforma-se em uma espécie de cola, grudando nas paredes intestinais. Com o passar do tempo, provoca saturação do aparelho digestivo, aumento da gordura na região abdominal, dores articulares, alergias cutâneas e depressão.

Avanços


Esta é uma doença que, por não ser comum, não tem muito respaldo popular. Mas mesmo assim houve avanços graças, segundo a professora, a associações de mães de filhos portadores da alergia. A conquista mais notável foi a instituição, em 2003, da lei que obriga as empresas alimentícias a escrever na embalagem do produto se ele contém ou não glúten. “Por mais que esse aviso ajude, ainda não há alimentos que não contenham glúten em quantidade e variedade suficientes. Essa doença acaba mudando a vida das pessoas de tal forma que afeta até mesmo a qualidade de vida delas”, finaliza Eliane Rosado.

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