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Edição 232
09 de setembro de 2010

Saúde e Prevenção

Violência e o imaginário infantil

Vivian Langer

A grande atração que o tema da violência exerce sobre adultos e crianças se reflete na repercussão que o assunto tem na mídia e no cotidiano. É com freqüência que tragédias são divulgadas nos meios de comunicação, causando indignação e espanto, promovendo mobilizações e despertando a curiosidade de muitos.  

Diante desse quadro, muitos pais se questionam sobre como lidar com a exposição de seus filhos em relação a notícias tão violentas. Segundo a psicóloga Leila Maria Amaral Ribeiro, professora do Departamento de Educação e Sociedade, do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e colaboradora do Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa e Intercâmbio para a Infância e a Adolescência Contemporâneas (Nipiac), vinculado ao Instituto de Psicologia (IP) da UFRJ, o tema da violência, além de recorrente, é também essencial para a formação do indivíduo. “Toda produção do homem ou da cultura inclui algum tipo de violência e na infância não é diferente. Nesta fase, a violência está presente como integrante do próprio desenvolvimento da criança, o que pode ser observado tanto na relação com seus pares e com os adultos, quanto destes para com ela”, analisa. 

A docente acredita que o melhor modo de abordar o tema com as crianças é não criar alarde e falar na medida em que surja o interesse pelo assunto, ainda que algumas ressalvas se façam necessárias. “O valor atribuído a qualquer movimento se deve aos acontecimentos a que ele está ligado, de modo que sempre devem ser levadas em consideração as circunstâncias e os interesses dos envolvidos, seja criança ou adulto. Decorre que determinados atos, outrora condenados, possam ser aceitáveis, ou mesmo incentivados, dependendo do caso ou da circunstância”, observa. 

Alguns estudos associam comportamentos agressivos de crianças e adolescentes ao contato com diferentes graus de violência. Segundo a pesquisadora, “o mal-estar que vivemos é perene e não tem como ser eliminado. Diante disso, danos decorrentes da infância, todos carregamos como consequência do próprio processo civilizatório, que requer que a criança seja educada para que seja capaz de agir segundo seus preceitos. Entretanto, nenhum dos efeitos desse processo tem poder de definir irreversivelmente, como passado ou como futuro, a vida de uma pessoa, de modo que a priori qualquer associação é mera especulação. Somente a posteriori pode-se fazer uma análise dos fatos, mapear as conseqüências e propor uma intervenção no caso a caso”.  

A docente acrescenta ainda que “o contexto e os recursos de cada um para lidar com o que comparece, o nível de envolvimento da criança com as situações vividas, sua interdependência (da criança) com o adulto e os interesses de ambos, dentre outros, são elementos interligados na consideração desta questão complexa que é infância e violência”.

A professora observa ainda que a dificuldade em lidar com situações tidas como violentas pode ser do adulto e não necessariamente da criança. “O impacto pode ser maior para o adulto do que para a criança, pois cada um vai lidar com as situações segundo suas experiências e do repertório que construiu a partir daí. A concepção de violência para o adulto estará de acordo com os entendimentos criados em sua história e desse lugar passará a informação para a criança. A criança vai construir um entendimento da situação tanto a partir do que recebe do adulto, quanto do que lhe chega do meio em que vive e, ainda, dos recursos psíquicos que dispõe. Importa considerar que não há um determinante apenas para o entendimento produzido pela criança. Assim, conviver com situações de violência não implica necessariamente em afetações negativas e a criança tem possibilidade de criar algo a partir destas experiências como de qualquer outra”, analisa. 

“Não há como prever os sintomas que uma criança pode apresentar ao ser exposta a violência. Algumas crianças reagem negativamente ao assunto, facilitando o surgimento de distúrbios. Caso aconteça, é fundamental buscar ajuda de profissionais da área da saúde, seja em espaços públicos ou privados”, conclui.

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