• Edição 223
  • 8 de julho de 2010

Argumento

Óleo de soja pode virar combustível renovável


Igor Soares Ribeiro

O avanço tecnológico e o crescimento da população ampliam a demanda por produtos e serviços. Simultaneamente, surge também uma preocupação ambiental com as consequências que essa produção pode causar. Restaurantes e lanchonetes do bairro de Copacabana, por exemplo, produzem cerca de 130 mil litros de óleo de soja por ano. O que se discute agora é qual deve ser o destino apropriado do óleo e os possíveis impactos ambientais que um despejo na rede de esgotos poderia causar. 

Para aprofundar o assunto, o Olhar Vital conversou com o professor Rogério Valle, coordenador do Laboratório de Sistemas Avançados de Gestão da Produção (SAGE) e um dos coordenadores do estudo premiado pela ONU, que prevê o aproveitamento do óleo por meio de coleta seletiva e instalação de usina de produção de biodiesel em Copacabana.  

O estudo se originou do projeto do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe/UFRJ. Sua principal proposta é a criação de usina com produção de biodiesel a partir de qualquer óleo, inclusive óleo de fritura produzido nas cozinhas. “A partir daí, o Sage passou a realizar análise do ciclo de vida do óleo e do biodiesel, uma questão muito importante para a sustentabilidade, pois, assim, seria possível identificar e quantificar todos os impactos ambientais que decorrem da existência desses combustíveis”, afirma Rogério Valle. 

Assim, a proposta resultante do estudo é instalar uma mini-usina no bairro de Copacabana, onde se realizaria coleta seletiva do óleo, que seria encaminhado a usina para a produção de biodiesel. A escolha do bairro se deu pelo fato da existência de muitos restaurantes e hotéis, que contam com alto volume de produção anual.  

Hoje, no país é comum uma cultura de descarte do óleo na rede de esgotos. Segundo Rogério, muitas vezes pensamos que isso pode ser ocasionado pela deficiência de informação sobre o assunto, “porém, na verdade, o que acontece é uma falta de alternativas para o despejo de óleo. A coleta seletiva para a produção de biodiesel pode ter uma destinação mais adequada”, aconselha o professor. 

O lançamento de óleo na rede de esgotos pode causar sérios problemas ao ecossistema, pois isso aumenta quantidade de matéria orgânica na água. Dentre as consequências, observa-se a mudança na vegetação, e com isso, há mudança também de toda a relação do ambiente. “Outro ponto é a contaminação das águas por matéria orgânica, o que provoca certas restrições a banho”, informa Valle. 

A partir daí  fala-se bastante em energias renováveis. O biodiesel é um combustível renovável bastante utilizado, no lugar dos combustíveis oriundos do petróleo. Inclusive, existem leis que preveem maior utilização do biodiesel nos combustíveis de automóveis. Até 2013, a composição química do combustível deve ter até 5% de biodiesel, o que mostra, segundo o professor, grande avanço da utilização de energias renováveis. 

Além desse benefício ambiental, Rogério aponta também o benefício econômico, a partir da geração de emprego: “prevemos que possam ser criados pelo menos quatro empregos diretos na operação da planta-piloto, mas o numero mais significativo é da oferta de empregos das cooperativas: por volta de 20 pessoas em cada empresa.” Nesse sentido, espera-se que o projeto se concretize e seja utilizado não só em Copacabana, mas em outros bairros do Rio de Janeiro. “Assim, o impacto ambiental presente no Estado poderia ser um pouco minimizado”, conclui Valle.