• Edição 206
  • 25 de fevereiro de 2010

Saúde e Prevenção

Sem bani-los da dieta, dentista avalia impacto dos refrigerantes aos dentes



Bebidas diets e lights são menos nocivas, mas também devem ter consumo controlado

Thiago Etchatz

Na Paris do século XVII, por acaso, ao combinar água, suco de limão e açúcar, um grupo de químicos jamais imaginou o que estava inventando e a sua repercussão após tantos anos. No século seguinte, a bebida inventada recebeu adição de gás carbônico e apenas por volta de 1830 passou a ser comercializada. Hoje, os refrigerantes são ícones da cultura de um mundo sem fronteiras, presentes nas dietas de ocidentais e orientais. Todavia, como tudo em excesso é nocivo, o crescente consumo da bebida, que não falta nas reuniões entre amigos e familiares, se torna cada vez mais alvo de políticas públicas de saúde, principalmente para os dentistas.

Tais bebidas são compostas por corantes, conservantes, aromas sintéticos de frutas, gás carbônico e, especialmente, açúcar – vilão de problemas como cáries, sobrepeso, gastrite, diabetes e alta dos níveis de triglicérides –, além da cafeína, diurético que estimula o sistema nervoso central, diminuindo o sono. Os refrigerantes de cola ainda apresentam ácido fosfórico, substância prejudicial à fixação de cálcio, o mineral que é o principal componente da matriz dos dentes.

De acordo com a professora-doutora Sonia Groisman, da Faculdade de Odontologia da UFRJ, “a saúde bucal está relacionada à saúde do organismo como um todo. A degeneração de tecidos dentários dificulta a digestão e pode comprometer outros sistemas do corpo humano”. Especificamente, em relação à área de atuação dos dentistas, os principais danos do consumo excessivo de refrigerantes são o desenvolvimento da cárie – devido ao alto teor de açúcar da bebida – e a erosão dentária.

Groisman analisa que “a cárie é um processo dinâmico de desequilíbrio do processo de desmineralização dentária”, perda de minerais em razão da acidez. Para combatê-la, é necessário o controle das placas bacterianas acumuladas na superfície dos dentes e o uso de fluoretos. “O refrigerante, pela presença da sacarose (tipo de açúcar), faz decrescer o pH do biofilme (placa bacteriana), provocando a desmineralização do esmalte dentário. Os mecanismos de defesa salivar levam de 20 a 30 minutos para normalizar o nível do pH, remineralizando o dente”, esclarece. O contínuo desequilíbrio desse processo gera lesões cariosas.

Diets e lights

A doutora alerta que os refrigerantes diets e lights são menos nocivos em relação ao desenvolvimento da cárie; porém, são prejudiciais em relação à erosão dentária. “É uma patologia crescente no Brasil e no mundo. A acidez dos refrigerantes e sucos industrializados causa erosão e, quando adicionada sacarose, eles promovem também cáries”, afirma Sonia.

Extinção dos refrigerantes da dieta

Quanto à radical decisão de cortar os refrigerantes da dieta, a doutora avalia: “Nunca recomendo a extinção do consumo de nada que faça parte da cultura do paciente; procuro minimizá-las. O fundamental é visitar o dentista regularmente para ser ter orientações adequadas sobre sua dieta de forma individualizada, fazendo-se ajustes de comum acordo, nunca esquecendo os hábitos de higienização e o uso de fluoretos".