• Edição 204
  • 28 de janeiro de 2010

Ciência e Vida

Novo medicamento para tratar câncer de próstata está em fase final de testes no Hospital Universitário



Núcleo de Pesquisa em Câncer avalia fármaco descoberto na Noruega

Thiago Etchatz

Em um estudo pioneiro que integra pesquisadores dos centros de pesquisa mais avançados do mundo, o Núcleo de Pesquisa em Câncer da Faculdade de Medicina (FM) da UFRJ e do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) desenvolve medicamento para combater o câncer de próstata. Já em fase final de testes, o novo fármaco Alfa Radin apresenta efeitos colaterais menos agressivos do que os da quimioterapia. A previsão do seu lançamento comercial é para daqui a três, no máximo, quatro anos.

De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade, os tumores malignos constituem a segunda causa de morte da população brasileira – atrás apenas de complicações referentes ao aparelho circulatório. Em 2007, atingiram o índice de 17% dos óbitos de causa conhecida. E o câncer de próstata é o de maior incidência no mundo entre os homens. O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, no Brasil, em 2010 ocorrerão 52.350 mil novos casos da doença.

Tratamento convencional

Nos últimos anos, houve grande evolução do diagnóstico do câncer de próstata. No entanto, “o grande problema deste câncer é o seu controle. Os hormônios masculinos estimulam o crescimento do tumor. Após ele ser retirado, deve-se suprimir a produção destes hormônios. E isso acontece com a retirada de parte dos testículos ou através de medicamentos”, analisa o doutor Eduardo Côrtes, professor-adjunto da Faculdade de Medicina da UFRJ e coordenador do Núcleo de Pesquisa em Câncer da disciplina de Oncologia da FM e do HUCFF.

Segundo Eduardo, no Brasil, a maioria das pessoas diagnosticadas e operadas de câncer de próstata já tem metástase – fase na qual novas lesões tumorais se disseminam pelo corpo. “E o local mais frequente da metástase da próstata é o osso. Nesse caso, o paciente já não tem mais chance de cura, pois ainda não há medicamento. A metástase é a última etapa da consolidação da doença. Poucos tumores nessa fase são curados e o de próstata não é”, esclarece.

A partir daí, o tratamento indicado é a hormonioterapia. “Ela responde em um ano ou dois; depois que para de responder temos poucas opções para os pacientes. Há um quimioterápico que responde por mais alguns meses e depois se faz basicamente um tratamento paliativo”, constata o doutor.

Medicamento para quem não tem cura

O tratamento desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisa em Câncer é justamente voltado para casos diagnosticados de metástases ósseas, para pacientes que não respondem mais à hormonioterapia e já foram submetidos à quimioterapia, ou não têm acesso ou mesmo indicação para tomar o quimioterápico.

O Alfa Radin é um radiofármaco – droga que emite radiação de onda alfa – descoberto no Hospital Universitário de Oslo, Noruega. “Já foi tentado um tratamento a partir da onda beta, mas causava enormes efeitos colaterais, como a destruição da medula óssea. Isolamos a irradiação alfa com uma folha de papel. Esse é o diferencial do novo tratamento”, garante Eduardo Côrtes.

Estudos preliminares na Europa comprovam a eficácia do medicamento. “Foi feita fora do Brasil a Fase 1, em que se concluiu que o medicamento não é tóxico. Fez-se também fora a Fase 2, na qual se constatou que a doença respondeu bem à droga e os efeitos colaterais foram menores do que os da quimioterapia. Ela circula no corpo e atua nas metástases ósseas sem haver praticamente efeito colateral”, afirma o professor.

Atualmente, na Fase 3 do estudo, o Alfa Radin vem sendo testado em centros da Noruega, EUA, Inglaterra, Suécia, Dinamarca, Itália e também no Brasil, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. “Faremos seis tratamentos de quatro em quatro semanas e vamos comparar a evolução dos pacientes. Essa evolução é analisada numa central internacional. Recrutaremos os pacientes nas condições preestabelecidas e faremos um sorteio em que dois em cada três pacientes tomarão o remédio e um o placebo”, anuncia Côrtes.

O especialista esclarece que quem toma o placebo não está em prejuízo. O paciente recebe todo o tratamento médico disponível, como uma radioterapia se necessário. “Os outros é que recebem algo a mais. É uma exigência do próprio governo, para provarmos a eficácia do remédio temos que mostrar que quem fez seu uso evoluiu melhor do que os que não tomaram. Porém, se no meio da pesquisa os dados mostrarem que o remédio é eficiente, comprovado cientificamente, aí ele será medicado a todos os pacientes”, conclui.

Como participar do estudo

Pacientes com câncer de próstata diagnosticado com metástase óssea e que já não estão respondendo mais ao tratamento convencional podem participar do estudo. Os interessados devem ligar para o Núcleo de Pesquisa em Câncer (21) 2562-2561 ou enviar e-mail para o endereço npc.ufrj@gmail.com. O tratamento é gratuito e feito no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, localizado na Cidade Universitária. Há pouco mais de 15 vagas.