• Edição 200
  • 03 de dezembro de 2009

Ciência e Vida

Pesquisadores da UFRJ desenvolvem nova substância que torna mais barato tratamento de tumores no útero



Partículas produzidas combatem os miomas, que acometem mais de 50% das mulheres, e facilitam a gravidez

Thiago Etchatz

Um grupo de pesquisa do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), liderado pelo professor do Programa de Engenharia Química José Carlos Costa da Silva Pinto, desenvolveu uma substância que torna mais barato o tratamento de tumores localizados no útero, os miomas. A eficácia no procedimento, que evita a retirada do órgão, aumenta as chances de gravidez das pacientes e já foi comprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Os miomas são tumores benignos que “estão presentes em mais de 50% de mulheres e, na maioria dos casos, não causam nenhum problema e não precisam de qualquer tratamento, apenas necessário quando a mulher tem hemorragia, dor, dificuldade de engravidar ou se tais tumores são muito volumosos”, esclarece a doutora Juraci Ghiaroni, professora de Ginecologia da Faculdade de Medicina da UFRJ e médica do Serviço de Ginecologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ).

Os grandes miomas, além de dores, provocam perda de sangue, fraqueza, anemia e impedem a mulher de engravidar. Por causa deles, anualmente, 180 mil brasileiras fazem a cirurgia de retirada do útero. A embolização é uma técnica tradicional, na qual o médico insere um cateter na artéria que alimenta o tumor e injeta uma substância que interrompe a passagem do sangue, o que reduz o tamanho do tumor e evita a necessidade de remoção do órgão.

Entretanto, o alto custo dessa substância — não fabricada no país — inviabiliza a realização do procedimento em larga escala. Os pesquisadores da Coppe desenvolveram partículas em formato de microesferas, finas como areia, que diluídas em soro fisiológico funcionam perfeitamente para a embolização. Elas substituem sem qualquer perda o material importado e possuem a vantagem de serem produzidas a custo consideravelmente inferior.

Um frasco importado custa cerca de R$ 500,00. No tratamento de um paciente, o médico chega a usar dez frascos. Com a tecnologia da Coppe, com R$ 100,00 é possível produzir um quilo de partículas. "Há possibilidade de fabricar a partícula no Brasil, espera-se que saia a um custo bem menor e com isso possibilite a divulgação da técnica, porque dos hospitais públicos quase nenhum faz", analisa a doutora Juraci.

Treze pacientes se submeteram ao tratamento-piloto no Hospital Universitário. “Foram tratadas mulheres que tinham miomas muito volumosos e desejavam engravidar. Após a embolização os miomas diminuíram muito e puderam ser retirados com a conservação do útero”, explica.

A professora avalia que “as partículas testadas são eficazes e devem ser comercializadas”. E conclui: “O procedimento está indicado para o tratamento de miomas e de outros tumores, assim como de malformações vasculares”.