• Edição 197
  • 12 de novembro de 2009

Saúde e Prevenção

Cuidado com o uso indiscriminado de plantas medicinais

Cília Monteiro

Quem nunca tomou a velha receita do chazinho da vovó para curar a insônia? Pode até não adiantar, mas mal não faz, certo? Nem sempre: o uso indiscriminado de plantas medicinais pode ser prejudicial à saúde, pois substâncias presentes em determinadas espécies podem ser nocivas ao organismo ou reagir com outros medicamentos. “Há a possibilidade de serem tóxicas ao fígado, aos rins, causar distúrbios sanguíneos, entre muitos outros efeitos”, aponta Paulo Melo, chefe do Departamento de Farmacologia Básica e Clínica do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ.

Segundo ele, as plantas medicinais são de uso milenar e têm vasta aplicabilidade: acalmam, tiram dores de estômago, servem como analgésico, anti-inflamatório e anticâncer. Podem ter efeitos positivos em casos de doenças respiratórias, digestivas e urinárias. Ainda são úteis para o emagrecimento, contra insônia, podem baixar a pressão arterial e até mesmo prevenir epilepsia. “É difícil dizer quais são as mais usadas, depende da região do país. Qualquer uma tem plantas características tidas como medicinais. Pode ser alcachofra, gengibre, própolis, couve-flor, hortelã, salsa e aloe, por exemplo”, aponta o professor.

No entanto, ele acredita que utilizar plantas medicinais indiscriminadamente pode ser perigoso. “Elas apresentam compostos com diversas substâncias. Algumas podem ter exatamente o efeito que se procura, como o analgésico, mas outras não. Basta observarmos a casca do salgueiro: ela tem o princípio do ácido salicílico (que origina a aspirina), mas também possui diferentes substâncias, que podem ser hepatotóxicas”, relata.

Um exemplo atual é a ginko biloba, extrato das folhas da árvore do ginko, originária da Ásia, cuja principal indicação é para a melhora da memória. “Muitas pessoas estão tomando, sem saber que pode haver interação com outros medicamentos e que causa vários efeitos importantes, como tornar o sangue incoagulável. Então, surge um problema quando quem toma precisa ser operado, devido ao risco de hemorragia”, aponta Paulo. O alho (Allium sativum) também tem princípios ativos que interferem na coagulação sanguínea, apesar de ser considerado excelente anti-inflamatório, segundo o professor.

De acordo com Melo, as reações com outros medicamentos acontecem porque as plantas possuem substâncias que podem interferir no metabolismo. Sendo assim, o processo de excreção de alguns componentes é possivelmente afetado, o que pode até mesmo aumentar o efeito da planta medicinal ou do remédio. A tendência é que o organismo responda quando isso ocorre, muitas vezes de maneiras adversas.

A forma correta de utilizar

Para o professor, quem se decidir pelo uso de plantas medicinais deve buscar informações com médicos e, principalmente, farmacêuticos, que são os que mais sabem sobre o assunto. “Caso haja uso indevido de alguma planta medicinal, é preciso procurar o ambiente médico. Lá existem vários telefones de contato em que se pede ajuda. Inclusive, muitas vezes ligam para o nosso departamento aqui na UFRJ”, ressalta Paulo Melo.