• Edição 196
  • 5 de novembro de 2009

Por uma boa causa

Estímulo à doação de órgãos, pela redução das filas de espera



Ministério da Saúde anuncia investimento recorde para a realização de transplantes

Thiago Etchatz

No último dia 21, no Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (NERJ), o ministro José Gomes Temporão anunciou que o Ministério da Saúde investirá a quantia de R$ 24,1 milhões para incentivar a realização de transplantes no país em 2009 e 2010. Tendo em vista esse investimento recorde, a série Por uma boa causa de novembro aborda os benefícios e implicações dos transplantes de órgãos.

Também foram anunciadas pelo ministro portarias que aprimoram o Sistema Nacional de Transplantes (SNT), com a adoção de medidas como a entrevista com a família do doador e a manutenção hemodinâmica dos possíveis doadores. Ainda foram incluídos no orçamento novos procedimentos: a consulta de acompanhamento pré-transplante, avaliação dos possíveis doadores, cirurgias para obtenção de tecidos humanos e o processamento de pele, estes fundamentais para tratar de queimaduras.

Desta maneira, a partir do incremento da captação de órgãos e, principalmente, da conscientização da população, aqueles que aguardam por transplantes devem ter reduzido o tempo de espera nas filas organizadas pelas secretarias de Saúde de cada estado.

Para Silvio Martins, coordenador do Programa de Transplante de Fígado do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ), “todo aporte vindo do Ministério da Saúde é importante. O esforço que está sendo feito pelo ministro Temporão é inegavelmente muito significativo para a atividade de transplante no país”.

Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de transplantes de órgãos realizados no Brasil, com doador falecido, subiu 24,3% no primeiro semestre de 2009 em comparação com o mesmo período de 2008. “O transplante é cada vez um procedimento mais seguro, muito mais tranquilo de ser feito, trazendo mais benefícios à maioria dos pacientes que voltam à vida normal, trabalham e têm filhos”, esclarece Silvio.

A informação é fundamental para o sucesso da campanha pelo estímulo à doação de órgãos. “Os leigos e mesmo parte da comunidade da área de Saúde não conhecem bem a questão da morte cerebral, da retirada dos órgãos, o benefício que pode trazer a outras pessoas”, afirma o coordenador. E outro problema “é a baixa qualidade de atendimento. Um paciente que está sendo mal atendido numa emergência, em estado de morte cerebral, que não foi tratado como se esperava, obviamente que a família será resistente em torná-lo um doador”, conclui.

A agilidade no processo até a realização do transplante é vital. “O doente que está em morte cerebral é muito frágil. Se não for bem mantido no processo de doação, ele estará em condições precárias e não poderá ser um doador adequado ou só vai doar parte dos órgãos ou mesmo nada”, constata Martins.

Neste ano, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho realizou 22 transplantes de fígado. “Um número relativamente pequeno”, analisa o coordenador. “O Rio ainda tem problemas sérios na questão de doação de órgãos, porém a gente sente que começa a haver certa melhora, mas os resultados são lentos.” Para o doutor, além da desinformação, o principal problema da cidade é a carência de leitos de terapia intensiva para manter adequadamente os doadores.

Silvio acredita que os novos investimentos do Ministério da Saúde devam ser voltados para o estímulo à informação dentro da comunidade da área de Saúde e a formação de equipes nos hospitais com grandes setores de emergência, como o Souza Guiar, o Miguel Couto, o Getúlio Vargas e o Salgado Filho. Elas trabalhariam na identificação e manutenção dos possíveis doadores.

Por fim, o coordenador do Programa de Transplante de Fígado do Hospital Universitário expõe que “tem gente que transplantou o fígado há mais de 30 anos. A maior parte das pessoas, 60 a 70%, está viva cinco anos após o procedimento, e são pessoas que voltam à vida normal. O objetivo do transplante é trazer a pessoa novamente para o convívio em sociedade. É possível ser necessário fazer um novo transplante, mas isso tem acontecido menos em razão da melhoria na terapêutica para diminuir a rejeição do órgão”. E conclui: “O povo brasileiro é generoso e o ato de doar é a maior generosidade do ser humano”.