• Edição 172
  • 21 de maio de 2009

Microscópio

Violência doméstica e as repercussões na escola

Larissa Rangel - AgN/ PV

O índice de violência doméstica contra crianças e adolescentes continua a crescer. As consequências são visíveis, principalmente, no âmbito social da vida da vítima. Comprometida, ela acaba por ter dificuldade de relacionamento e desenvolvimento de traumas. Porém um dos problemas mais reconhecidos, quando se trata do assunto, reflete-se no empenho da vida escolar dos violentados.

Pensando nessas questões, acontece no dia 22 de maio, no Fórum de Ciência e Cultura, a II Jornada sobre Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes: As Repercussões na Escola. Anna Tereza Moura, presidente do Comitê de Segurança da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (Soperj) e coordenadora do evento, explica que o objetivo dele é ampliar a discussão da violência contra a criança e o adolescente, englobando questões referentes às possíveis consequências desse agravo no ambiente escolar. “É preciso que haja reflexão sobre o importante papel dos profissionais da educação na prevenção, detecção e abordagem da violência nesses grupos etários”, reflete a coordenadora.

Os especialistas reconhecem que vêm sendo feitos trabalhos de conscientização no que diz respeito à redução do número de casos, mas o problema continua grave, “com uma ocorrência muito além do desejado”, como explica Anna Tereza. Quanto ao papel da mídia, a médica comenta que “muitas vezes ela dá muito destaque aos casos graves ocorridos, deixando de lado uma abordagem mais educativa, com vistas à prevenção da ocorrência da violência familiar contra a criança e o adolescente. O ideal seria dar ênfase maior à discussão de como promover os ‘bons-tratos’”.

A violência doméstica

Estudos pediátricos e psicológicos definem os tipos de violência doméstica: psicológica, física, negligência e sexual. Trata-se, de forma geral, de manifestações de violência interpessoal, em que há abuso de poder dos pais e/ou responsáveis que reduz a vítima (criança ou adolescente) à condição de objeto. No ambiente domiciliar, na maioria das vezes, a mãe é a principal responsável pela violência contra a criança. Anna Tereza afirma que a violência familiar produz várias consequências na vida da criança e do adolescente, que vão repercutir no seu desenvolvimento de forma global, em curto e longo prazos.

As vítimas de violência têm grande tendência à depressão, ansiedade, confusão mental e perda de memória. Perde-se também a autoestima e pode até haver incorporação e perpetuação da violência.

As repercussões na escola

Por se tratar de um ambiente de forte presença da criança ou adolescente, a escola torna-se um meio de se evidenciar as consequências da violência escolar. É possível perceber se algum dos alunos sofre do problema a partir de algumas recorrências escolares, como ausências frequentes, baixo rendimento, falta de atenção e de concentração e comportamentos como agressividade, passividade, apatia e choro.

– A violência familiar produz várias consequências que nem sempre são de fácil detecção. Além disso, nem sempre os profissionais estão preparados para dar conta de uma questão tão complexa. Estar atento ao comportamento da criança pode ser uma conduta interessante, criando espaços para o dialogo entre pais, alunos e escola – garante Anna Tereza.

O problema de violência doméstica pode ser reduzido se houver a ação correlacionada entre serviços de saúde e escolares. Como explica a médica, a abordagem da violência familiar requer uma organização inter e multidisciplinar, necessitando do fortalecimento da rede de proteção à criança e ao adolescente. “Imaginamos que a partir da mobilização efetiva de todas as instâncias envolvidas com os cuidados a esses grupos etários será possível mudar o cenário atual”, reflete Anna Tereza.

A II Jornada sobre Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes: As Repercussões na Escola acontece nos salões Pedro Calmon e Vermelho, das 8 às 18 horas. A programação inclui as palestras “A parceria entre escola e família” e “Como lidar com as diferenças no convívio escolar”, além das mesas-redondas

“O desafio de lidar com a violência familiar nas escolas” e “A violência na dinâmica das relações no convívio escolar”. Os salões estão localizados na avenida Pasteur, 250 – Campus da Praia Vermelha. Os interessados podem entrar em contato com a organizadora do evento, doutora Elizabeth Castro, pelo telefone 2295-1595 (r. 211) ou acessar o site www.forum.ufrj.br.