• Edição 165
  • 26 de março de 2009

Argumento

Novo laboratório da Farmácia para estudo de proteínas

Cília Monteiro

Em dezembro de 2008 foi inaugurado o Laboratório de Biologia Molecular Estrutural, coordenado por Yraima Moura Lopes Cordeiro, professora-adjunta da Faculdade de Farmácia da UFRJ. “Na tentativa de abranger dentro da linha de pesquisa que desenvolvo a maior quantidade de focos possível, escolhi esse nome genérico para o laboratório”, declara a pesquisadora.

Yraima foi efetivada pelo Departamento de Fármacos em 2006. “Como fiz mestrado e doutorado no Instituto de Bioquímica, eu precisava então de um espaço físico na Faculdade de Farmácia para desenvolver minha pesquisa independente. Sinto a necessidade, como nova docente, de ter um espaço para contribuir com a formação de recursos humanos”, relata. Yraima foi vencedora do prêmio L’Oréal/Unesco em 2006. “O laboratório foi lançado basicamente com recursos da Faperj e com parte desse prêmio que ganhei”, aponta.

O Laboratório de Biologia Molecular Estrutural demorou cerca de seis meses para ficar pronto. “Foi preciso uma obra em um corredor interno, já que não tínhamos espaço físico”, conta a pesquisadora. Segundo ela, a obra envolveu um importante aporte de dinheiro, em que foi necessária a mobilização do departamento para que se conseguisse verba pela UFRJ, destinada à realização da etapa inicial. “Criaram-se três laboratórios individuais para professores da Faculdade de Farmácia”, acrescenta. A partir daí, o espaço físico interno ficou a critério dos pesquisadores.

No momento, o laboratório de Yraima corresponde a uma plataforma para purificação de proteínas em larga escala. “Tenho toda a parte de cromatografia, para a purificação, e terei um espectrofotômetro, que vou adquirir com recursos da Faperj também. Há ainda uma centrífuga pequena e a parte de estufa microbiológica”, indica a professora. Ela trabalha com proteínas heterólogas. “São proteínas de mamíferos, porém produzidas em bactérias. Então eu utilizo também equipamentos necessários para manutenção de cultura bacteriana, que vão gerar a proteína que eu preciso”, descreve.

Linha de pesquisa

Atualmente Yraima e seus alunos estudam proteínas que se agregam em determinadas regiões do organismo e causam as doenças amiloidogênicas, entre as quais Alzheimer e Parkinson são exemplos. “Meu principal foco são as doenças neurodegenerativas. Alzheimer e Parkinson são as que mais afetam a população idosa. Ambas envolvem deposição proteica no sistema nervoso central”, explica a professora. Ela tem como objeto de pesquisa as doenças de príon, que são causadas pela proteína “scrape”, ou “príon-scrape”. De acordo com Yraima, estas são proteínas que os mamíferos possuem, mas que por razões desconhecidas adquirem forma diferente e geram as doenças.

- Apesar de esse tipo de doença já ser estudado desde a década de 1920, foi com a explosão do ‘mal da vaca louca’, nos anos 80, que o problema se tornou mais conhecido -,, informa Yraima. “Meu laboratório é de pesquisa básica, tento investigar o que leva à conversão de uma forma de proteína que não causa doença a outra que causa. Busco observar que moléculas biológicas naturalmente presentes no sistema nervoso central podem mediar esse processo de conversão estrutural”, relata a pesquisadora. Ela pretende trabalhar não apenas com doenças de príon, mas também com outras doenças neurodegenerativas que envolvam agregação de proteínas e conversão estrutural.

Desenvolvimento de fármacos

Dentro da área de ciências farmacêuticas, o objetivo da pesquisadora é tentar desenvolver fármacos a partir do conhecimento molecular básico que está sendo obtido. Yraima vem trabalhando com análogos quinolínicos. “Trata-se de potentes compostos antimalariais. Há poucos anos pesquisadores constataram seu importante efeito na inibição da doença de príon em sistemas de cultura de células infectados”, explica a professora.

Sua tentativa atual é isolar outros análogos quinolínicos ainda não estudados, que possam bloquear o processo de conversão estrutural das proteínas. “A vantagem é que a maioria dos análogos já possui as etapas de ensaios pré-clínicos. Isso significa que eles já são usados contra outras doenças e sua toxicologia é conhecida. Assim é possível desenvolver um novo fármaco sem ter que passar pelas etapas iniciais”, observa Yraima.

De acordo com a pesquisadora, não existe nenhum tratamento ou terapia para doenças de príon. “Ainda estou numa fase muito inicial para ter expectativas finais sobre os fármacos. Futuramente será necessária a colaboração com um farmacologista para complementar minha pesquisa básica em bioquímica, biologia molecular e biofísica”, observa Yraima.

- Me sinto bastante feliz de ter obtido esse espaço físico na UFRJ, porque não é muito fácil, nem sempre há local disponível para um pesquisador novo começar a desenvolver seu trabalho. Foi muito importante o fato de a Faculdade de Farmácia ter pensado nos novos docentes. Agora cabe a mim ter a produtividade para justificar minha presença e dos meus alunos no laboratório. Com o tempo as coisas certamente vão acontecer -, finaliza Yraima.