• Edição 159
  • 29 de janeiro de 2008

Microscópio

XV Escola de Verão em Química Farmacêutica e Medicinal

Cília Monteiro

Preenchendo o vácuo intelectual que muitas vezes se estabelece no período de férias, a XV Escola de Verão em Química Farmacêutica e Medicinal acontece entre os dias 9 e 13 de fevereiro, no Centro de Ciências da Saúde (CCS). O evento comemora o aniversário e é organizado pelo Laboratório de Avaliação e Síntese de Substâncias Bioativas (LASSBio). A inspiração veio de Otto Gottlieb que, em 1969 e 1971, realizou uma escola de verão na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ); era iniciativa pioneira no Brasil. “Gottlieb buscava mesclar professores brasileiros e estrangeiros para que os estudantes pudessem ter contato com os especialistas do topo do ranking”, explica o professor Eliezer Barreiro, coordenador da Escola de Verão.  

Naquela época, Eliezer era aluno de mestrado e participou do curso do professor Gottlieb. Um de seus colegas acabou integrando, posteriormente, o mesmo grupo docente, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Como havíamos participado, surgiu a idéia de lançar a escola na universidade, ‘plagiando’ o professor Otto, pois sua iniciativa foi de uma visão fantástica”, retrata Barreiro. Hoje a escola atinge a 29ª edição em São Carlos, que leva o nome do professor José Tércio Ferreira.

Em 1983, quando Eliezer transferiu-se para a UFRJ e passou a trabalhar na área de química farmacêutica medicinal, decidiu aplicar a idéia novamente. “Em 1995 realizamos a I Escola de Verão em Química Farmacêutica e Medicinal, e agora chegamos à 15ª edição, com a mesma filosofia do professor Gottlieb”, afirma Barreiro. Buscou-se a participação de professores da UFRJ e de fora. “Queríamos dar aos alunos de graduação uma idéia do que estava acontecendo, no momento, que certamente estaria nos livros, no futuro”, relata o professor.

Trajetória

A Escola de Verão já recebeu em torno de 44 conferencistas, 24 destes eram estrangeiros; contou com a presença de três descobridores de fármacos. Em ordem cronológica, o primeiro foi Camille Wermouth, da Universidade de Estrasburgo, na França, descobridor de duas substâncias utilizadas como antipsicóticos no sistema nervoso central. O segundo, o professor Robin Ganellin, da University of London, junto com colaboradores chegou à cimetidina, que revolucionou o tratamento da úlcera péptica, em 1975. O mais recente foi Simon Campbell, da Royal Society of Chemistry, descobridor do Viagra.

— Da área de Química de Produtos Naturais, que inspirou diversos fármacos, tivemos a felicidade de receber os dois brasileiros mais importantes atualmente, em minha opinião: professor Raimundo Braz Filho, da UFRRJ, que depois se transferiu para a UENF, e o professor Angelo da Cunha Pinto, do Instituto de Química da UFRJ — aponta Eliezer. Ele ainda destacou a participação de profissionais mais jovens na Escola, importante por possibilitar maior proximidade entre mestres e alunos.

— Nesta área, como se trata de descobrir moléculas que capazes de se tornar fármacos, naturalmente existe uma grande amplitude. Lidamos com algo relativamente multidisciplinar, o que favorece um evento como este, de flashes mais informativos do que formativos — observa o professor.

Acesso democratizado

— Por estarmos em uma instituição pública, com a vocação da nossa querida UFRJ, acredito que seja uma obrigação nossa ocupar esse período de entressafra em que a universidade fica tão tristemente vazia. Devemos democratizar o acesso — aponta Eliezer. Durante os anos de realização da Escola, a maioria dos inscritos eram externos à UFRJ. “Isso mostra que, de fato, estamos cumprindo com a nossa missão”, assegura o professor. Mesmo com as dificuldades provenientes de uma infraestrutura precária, Barreiro acredita que a Escola não deve deixar de ser realizada na UFRJ. “Eu só gostaria que a Minerva pudesse se sentir um pouco mais elegante e bonita”, brincou Eliezer, referindo-se ao logotipo da UFRJ.

Ele ainda enfatizou a importância da equipe organizadora, fundamental para a realização da atividade. “As pessoas engajadas o fazem com alegria. Por issp acho que tudo o que é feito com amor é bem feito, contagia. Agradeço muito a ajuda de todos durante esse período”, declara o coordenador.

Atual edição

A novidade, neste ano, serão os professores homenageados: um brasileiro, Ângelo Pinto, que representará todos os convidados nacionais ao longo dos 15 anos; e um estrangeiro, Pier Giovanni Baraldi, da Università di Ferrara, na Itália, em nome dos internacionais. Ambos já participaram anteriormente da Escola de Verão.

Eliezer fará uma palestra relatando o que foi a Escola de Verão durante esses anos, apresentará números e dados visuais. “Já passaram por aqui 2 mil alunos, de vários pontos do país. Também temos inscritos internacionais, ainda tímidos, não chegam a 20, mas já há uma procura. Vale mencionar que, nesta área, não temos nenhum equivalente na América Latina”, aponta o coordenador. Foram colhidos depoimentos de alguns dos ex-alunos da Escola de Verão, hoje profissionais atuantes, influenciados por sua participação.

Na abertura estará o professor Peter Gmeiner, da University Friedrich Alexander, da Alemanha. Também entre os convidados, Manoel Odorico de Moraes, professor especialista em desenvolvimento de moléculas que possam ter atividade anticancerígenas. Na programação, cursos no nível de graduação e de pós, ocupando manhã e tarde, simultaneamente. E, no horário de almoço, os interessados ainda podem participar de conferências. “Creio que a Escola de Verão é uma debutante que tem tudo para fazer um bom casamento futuro e ser feliz para sempre”, conclui o professor.

Para mais informações: http://www.farmacia.ufrj.br/lassbio/XV_evqf.