• Edição 157
  • 18 de dezembro de 2008

Ciência e Vida

Sangue menstrual: nova alternativa de células-tronco

Luana Freitas

Em 1963, quando o cientista canadense James Edgar Till descobriu que células transplantadas da medula óssea no baço de ratos poderiam se dividir em cópias, surgia uma nova perspectiva para o futuro da medicina. Hoje, mais de quarenta anos depois, cientistas do Laboratório de Cardiologia Molecular e Celular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da UFRJ, pesquisam fontes alternativas de células-tronco que possam diferenciar-se em outros tipos de tecidos e ajudar no tratamento de doenças degenerativas: as células provenientes do sangue menstrual e dos folículos capilares.

— A comunidade científica vem procurando outras fontes de células-tronco, já que células de determinado tecido podem ser mais adequadas para uma doença do que outras. Estamos buscando, portanto, alternativas e, é claro, uma fonte não-invasiva do ponto de vista de obtenção é sempre bem-vinda — destaca a professora Regina Coeli dos Santos Goldenberg, que coordena o grupo de pesquisadores do IBCCF.

Segundo Regina, embora a medula óssea ainda represente a principal fonte de células-tronco, nos últimos anos, pesquisas nos Estados Unidos, Canadá, Japão e Argentina têm mostrado que células do sangue menstrual podem se diferenciar em vários tipos celulares e ser empregadas para fins terapêuticos. Os estudos indicam que a injeção dessas células em modelos animais foi capaz de melhorar o desempenho cardíaco de ratos infartados.

― A grande vantagem do uso de células-tronco da medula óssea está em ser um transplante autólogo, ou seja, usa-se a medula do próprio paciente. Dessa forma, não há rejeição. Por outro lado, como os resultados ainda são muito variáveis e existem poucos estudos abertos abordando a questão de sua eficácia, pesquisadores vêm buscando novas fontes de células-tronco. No caso do sangue menstrual, embora sejam provenientes de outra pessoa, trabalhos mostram que essas células, por terem privilégios imunológicos, não seriam rejeitadas pelo paciente ― explica a professora.

Respostas para a calvície

Seguindo a lógica de que células de determinados tecidos possam funcionar melhor para uma área do que outras, o mesmo grupo de pesquisadores analisa ainda o uso de células-tronco dos folículos capilares no combate à calvície. De acordo com Regina, a idéia é empregar células da própria região que se diferenciem em cabelo e fornecer assim uma perspectiva terapêutica para a doença.

― Nossa hipótese é de que essas células liberam fatores que irão estimular as células foliculares próximas encolhidas durante o processo de envelhecimento, mas que podem responder a esses sinais regenerando-se e produzindo cabelos saudáveis ― acredita a coordenadora do trabalho, apresentado no 3º Simpósio Internacional de Terapia Celular, em Curitiba.

O estudo, que vem sendo desenvolvido há cerca de um ano, já conseguiu isolar e caracterizar tanto células do sangue menstrual, quanto do folículo capilar, mostrando que ambas conseguem diferenciar-se em outros tipos celulares. Para 2009, os pesquisadores pretendem aplicá-las em modelos animais de doenças cardíacas e hepáticas.

― Nossa perspectiva para o ano que vem é injetar essas células nos modelos animais que trabalhamos no laboratório de doenças cardíacas, como infarto e doença de chagas, e de doenças hepáticas. A idéia é aumentar o número de animais para que possamos aprofundar o estudo ― revela a pesquisadora.