• Edição 157
  • 18 de dezembro de 2008

Por uma boa causa

Corrida contra dores e lesões

Cília Monteiro

Atletismo. É o tema que encerra a série de reportagens do Por uma boa causa deste mês. Corresponde à modalidade esportiva mais antiga e à forma de expressão atlética mais pura que o homem já desenvolveu. Na busca pela redução de milésimos de segundos no tempo da corrida, atletas levam uma rotina bastante rígida para que tenham um bom condicionamento físico, mas que pode acarretar dores musculares e até lesões durante a prática dos exercícios. “O atleta tem como objetivo seu rendimento no esporte, mesmo que isso traga como resultado problemas em sua biomecânica”, afirma Márcia Cristina Alves Costa, fisioterapeuta do Serviço de Medicina Física e Reabilitação do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

De acordo com ela, as principais queixas dos corredores profissionais consistem em perda da força e da função muscular. Outros males que costumam atingi-los são as lesões. “Podem estar associadas a um dano ao tecido, localizado em tendão rompido ou fratura. Vêm acompanhadas por inflamação, edema e dor”, explica Márcia. Ela acredita que as mais incidentes são tendinites, fraturas e micro descentralizações intra-articulares, decorrentes das predominâncias funcionais de alguns grupos musculares. “No geral, a lesão no esporte resulta em manter a pessoa fora de prática, atividade ou competição.”

Ela considera que, em longo prazo, aspectos como a natureza da atividade, o gênero, a idade e a condição física do profissional podem contribuir para a incidência da severidade da lesão no esporte. “Embora a maioria das lesões no exercício envolva o sistema músculo-esquelético, muitos outros sistemas do corpo podem estar envolvidos, como o cardiorrespiratório e o neurológico”, relata a especialista. Ela salientou não se tratar de uma regra, pois diversas circunstâncias e características do profissional influenciarão direta ou indiretamente no desenvolvimento de uma lesão.

Segundo a fisioterapeuta, as cirurgias mais realizadas por estes atletas são na região do joelho, do cotovelo ou de reconstrução do ligamento da rótula. “Neste último procedimento, será retirada uma parte do tendão quadriceptal para fazer uma reconstrução do ligamento rompido”, observa Márcia.

— A melhor medida sempre será a prevenção — assegura Márcia. Para isso, nada mais eficaz que os exercícios de alongamento. “Eles têm como objetivos alinhar o corpo, equilibrar o comprimento dos músculos, melhorar a postura e otimizar o movimento mecânico das articulações”, explica. Além disso, outra vantagem é o aumento da flexibilidade, que reduz o risco de lesões e desgaste, contribuindo para o funcionamento harmônico do corpo. “Durante o alongamento, mobilizamos articulações, pele, tecidos conectivos, “nervos” e tendões, permitindo também os relaxamentos ligamentares”, complementa a fisioterapeuta.

Calçado certo

De acordo com Patrícia Garcia de Oliveira Rocha, também fisioterapeuta do HUCFF, a maneira mais comum de ocorrerem lesões é através de impacto, e às vezes o atleta não está com o calçado correto. “É ideal que seja um tênis adaptado ao tipo de atletismo praticado, que tenha um bom amortecedor, para aliviar a carga das articulações, principalmente do joelho. Esta seria outra medida preventiva”, destaca a fisioterapeuta.

Para Márcia, em caso de reabilitação do atleta, o fisioterapeuta deve preparar um programa abrangendo atividades adequadas ao esporte específico e progressões funcionais. “Objetivamos a compreensão dos problemas enfrentados durante esse período, o que é essencial para conseguirmos proporcionar uma recuperação satisfatória. Temos preocupação em motivar os atletas, para que possam aderir ao programa de reabilitação e retornar aos treinos e competições com uma atitude mental positiva”, constata a fisioterapeuta.

— A competição entre a cura e exercício é, talvez, o problema mais intrigante que o fisioterapeuta enfrenta. Ele deve introduzir um programa de exercício para a pessoa lesionada, tão eficaz e extensivo quanto possível, sem comprometer a cura do tecido — relata Márcia. Ela considera função do fisioterapeuta saber o que fazer para prevenir possíveis lesões de alguns grupos musculares por uso indevido, stress por uso repetitivo ou desuso, sem prejudicar o desempenho do esportista. “É preciso conscientizar o atleta da importância de um programa preventivo associado a exercícios de consciência corporal”, observa a especialista.

— O corpo precisa ter limite. É possível ser um bom atleta sem destruí-lo. É necessária uma preparação física, normalmente feita por um profissional para a parte aeróbica e outro para tratar a lesão. É primordial a qualquer atleta ter um acompanhamento médico paralelamente — conclui Patricia Rocha.