• Edição 156
  • 11 de dezembro de 2008

Saúde e Prevenção

Arenavírus: uma ameaça que pode ser mortal

Luana Freitas

Altamente letal e contagioso, um tipo de vírus deixou as autoridades sanitárias brasileiras em alerta na semana passada, após a morte do engenheiro sul-africano William Charles por febre hemorrágica. A suspeita de que o engenheiro pudesse ter contraído o arenavírus levou o Ministério da Saúde a monitorar 75 pessoas por manterem contato com a vítima – que, na verdade, morreu em conseqüência de febre maculosa, segundo laudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado no último domingo, dia 7.

― O arenavírus é extremamente contagioso. O caso levantou suspeitas em torno desse tipo de vírus pelo fato de o sul-africano ter sido internado, na África, para uma cirurgia ortopédica em um hospital onde aconteceu um surto por arenavírus que matou quatro pessoas. Dois dias depois de vir para o Brasil, o engenheiro começou a apresentar dores, febre e mal-estar. Ao procurar um serviço médico, foi internado e suspeitou-se de arenavírus por esse relato passado. O susto foi grande porque várias pessoas que tiveram contato com ele poderiam ter se contaminado ― explica Edimilson Migowski, infectologista do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da UFRJ.

Segundo Migowski, os arenavírus constituem uma família de vírus que causam febre hemorrágica e apresentam material genético composto por RNA. São transmitidos ao homem por excrementos de roedores contaminados ou por meio das secreções (saliva, suor, urina) de outros doentes. Uma vez infectado, o ser humano pode demorar de duas a três semanas para manifestar sintomas como dores no corpo, febre alta, dor de cabeça e sangramento de mucosas.

― A probabilidade de transmissão do vírus é maior na fase de manifestação clínica. Mas diversos exemplos demonstram que um vírus pode ser eliminado antes mesmo de o indivíduo apresentar sintomas, como acontece com os vírus da caxumba, gripe e hepatite A. Portanto, afirmar que a transmissão só ocorre na fase aguda, sem medo de cometer um erro, é arriscado, já que estamos diante de uma doença de extrema letalidade ― alerta.

O infectologista ressalta ainda que assim como ocorre com outros agentes infecciosos, que apresentam mais de um hospedeiro na natureza, não existem vacinas contra o arenavírus. Dessa forma, a melhor maneira de evitar o contágio é isolar pacientes infectados com, no mínimo, um metro de distância, já que o vírus é facilmente transmitido e pode levar à morte.

Estrutura para diagnóstico

Edimilson Migowski observa que indivíduos infectados por arenavírus ou pelos vírus da febre maculosa, dengue e leptospirose apresentam sintomas semelhantes, já que são doenças que levam à febre hemorrágica. Para o infectologista, embora a morte do sul-africano tenha sido provocada pela bactéria causadora da febre maculosa, o caso demonstra a falta de estrutura do Brasil para diagnóstico precoce e a ausência de articulação com centros de pesquisa em outros países.

― Mesmo que não tenha sido arenavírus, o que devemos depurar desse caso, em termos de erro, foi a demora para diagnosticar a doença. Em uma situação como essa, em que se suspeita de uma doença extremamente infecciosa, se não houver estrutura para dar o diagnóstico precoce, é preciso recorrer a outros centros que possam fazer isso. Mesmo que o Brasil não tenha exames para identificar todos os tipos de vírus, o fundamental é ter boa articulação com centros que possam fornecer esse diagnóstico ― acredita Migowski.