• Edição 156
  • 11 de dezembro de 2008

Argumento

Professor da UFRJ recebe o 1º lugar do Prêmio Natura Campus

 

Beatriz da Cruz

Com o objetivo de incentivar pesquisas na área de tecnologia, a empresa Natura criou o Prêmio de Inovação Tecnológica Natura Campus, que tem esse nome justamente por contemplar trabalhos desenvolvidos em colaboração com a área acadêmica por universidades e institutos de pesquisa. O concurso reuniu trabalhos realizados com várias instituições de ensino e fez uma avaliação elegendo os três melhores.

A edição deste ano, cujo resultado foi anunciado em 3 de dezembro, concedeu o primeiro lugar ao pesquisador da UFRJ e professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas, Radovan Borojevic. O trabalho realizado em laboratório pelo grupo do professor teve, inclusive, uma das alunas envolvidas, Sandra Furtado, contratada pela empresa. Ela agora trabalha no laboratório da Natura, em Paris.

A importância da parceria está na conversão dos resultados das pesquisas do meio acadêmico em um benefício para a sociedade. “A idéia é que a inovação precisa ser transformada, em um produto ou em processo, que depois será oferecida para sociedade em geral. Uma inovação só chega ao público e é utilizada quando vira algo comercial e socialmente disponível”, diz Borojevic.

Um dos grandes benefícios da pesquisa vencedora é evitar o uso de cobaias em testes cosméticos, que possibilitará a exportação dos produtos da Natura e do Brasil para o mercado europeu. A partir do próximo ano, entra em vigor na comunidade européia o decreto que proíbe testes com animais. Essa pesquisa é o desenvolvimento in vitro de uma estrutura que se chama ‘pele equivalente’. “A pele é composta de uma camada externa, a epiderme, que a gente vê; e em baixo, há a derme, que é a parte que garante a elasticidade e a qualidade do tecido. Então, quando você estuda uma molécula farmacológica, cosmética ou até de higiene, na verdade, analisa a interação dessa molécula com a camada externa primeiro, e, em seguida, com a interna, porque ela vai penetrando”, explica o professor.

A parceria com a Natura começou em 2004, mas a semente do projeto surgiu seis anos antes em trabalho realizado com o Hospitalda Aeronáutica para o tratamento de queimados. Foi desenvolvido em laboratório, o cultivo de epiderme e derme humanas para ser aplicado nesta terapia. “Nós conseguimos, a partir de uma biópsia de 1cm² do próprio queimado (parte sã) obter em três semanas 1m² de pele. O que é muito bom. Por causa desse trabalho de cultivo de pele humana in vitro, nós dominamos essa nova técnica.”

O trabalho é feito no Banco de Células do Rio de Janeiro, localizado no 4º andar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), especializado em manipulação de células in vitro. O professor Borojevic também ressalta que essa pesquisa não deixa de ser o cumprimento de uma obrigação com a sociedade, de retornar benefícios alcançados por uma Universidade mantida por ela, tanto em terapia de queimados quanto na parte industrial.

Além de poupar os animais de sofrimento, o projeto traz também outros benefícios, pois permite resultados melhores nos testes, já que a pele dos animais não é idêntica à humana. De acordo com Radovan, esse equivalente de pele permite que se determine as concentrações das moléculas farmacológicas não irritantes ou tóxicas e das que não provocam resposta inflamatória. A aplicação da técnica beneficiará ainda outros produtos de atividade farmacológica e o estudo de fenômenos da infecção viral na pele. “Isso permite trabalhar com tecido humano in vitro, sem lesar ninguém obviamente, e obtendo os resultados que são relevantes para a farmacologia, para a terapia e mesmo para a compreensão de processos patológicos”, conclui o pesquisador premiado.