• Edição 156
  • 11 de dezembro de 2008

Cidade Universitária

Segurança em pauta

Sidney Coutinho

Cercada de comunidades carentes, a Cidade Universitária apresentou nos últimos anos uma queda nos índices de criminalidade. Mas está distante de ser um oásis de segurança no Rio de Janeiro. Espera-se que o aumento do número de pessoas que circulam pela universidade, previsto no Plano Diretor até 2020, traga também uma preocupação até o momento pouco debatida: como ficará a segurança dos campi da UFRJ?

Além do progressivo envelhecimento dos vigilantes que compõem a Divisão de Segurança, o uso da tecnologia como aliada na segurança ainda é muito pequeno e esbarra em resistência cultural de quem acha estar tendo os passos controlados a todo instante. “Hoje, contamos apenas com 16 câmeras espalhadas pela Cidade Universitária. É pouco para vigiar as ruas e avenidas. Isso precisa melhorar, com mais câmeras e mais viaturas, mas não adianta ter carro se não tem pessoal. Faríamos um bom patrulhamento ostensivo se tivéssemos 10 viaturas no campus”, afirma o Diretor Administrativo da Divisão de Segurança da UFRJ (Diseg), Leandro Souza Buarque.

De acordo com o prefeito da Cidade Universitária, Hélio de Mattos, o Governo federal parece irredutível aos apelos para abertura de concursos públicos para contratar profissionais para a Diseg. Até 2010, informou ele, a maioria dos 85 homens que compõem o efetivo da divisão deverá se aposentar ou terá idade avançada, o que pode comprometer o trabalho. “Até agora, não discutimos nada sobre segurança no Plano Diretor”, disse, preocupado com a responsabilidade que a universidade terá de arcar nos próximos anos.

Para Hélio, entre as diretrizes previstas no Plano Diretor que mais se aproximam do tema segurança estão a proposta de adensar a população da Cidade Universitária e a de integrar melhor a UFRJ com os poderes públicos estadual e municipal. “O assunto (segurança) não foi detalhado, mas como agora a Comissão vai formar os grupos técnicos de discussão, a Prefeitura entrará dando opinião”, afirmou.

Por ano, segundo o prefeito, a UFRJ gasta 15 milhões com a manutenção de dois contratos com empresas de segurança que vigiam o patrimônio das unidades. “São 650 homens que guarnecem os prédios e que contribuíram para reduzir a quantidade de pequenos delitos, auxiliando o trabalho da Diseg”. A universidade também conta com o apoio financeiro da Petrobrás, vizinha na Cidade Universitária, que viabiliza recursos para diversas ações.

Cancelas em operação

A partir de janeiro, entra em operação o sistema Kapta, que vai restringir o acesso dos veículos nas quatro cancelas da Cidade Universitária. “Durante dois anos, do início de 2006 até agora, cadastramos 7 mil veículos e foram feitos testes no piloto que aperfeiçoou o sistema. Agora, vamos implantar em definitivo, com um novo recadastramento”, informou o prefeito. É mais um passo na transformação pela qual passou a segurança da universidade na gestão do reitor Aloísio Teixeira.

Há 15 anos, a Cidade Universitária era local de desova de cadáveres e de abandono de carros roubados — em 1993, 30 corpos e 24 carros foram encontrados no campus. “O reitor resgatou a Divisão de Segurança, que era morta, não tinha credibilidade. Não tínhamos prédio, móveis, carro para ronda e patrulhamento. Assim que ele e o prefeito assumiram, vieram seis veículos zero. Em suma, a atual gestão colocou as câmeras, fez as guaritas e portões, criou o disque-emergência (1900), equipou a Diseg com viaturas e rádio comunicador, deu uniforme aos vigilantes, além de armamento, com regularização do porte de arma”, relembra Leandro Buarque.

Segundo ele, hoje, são quase nulas as estatísticas relacionadas ao abandono de carros e corpos — até outubro foram encontrados quatro trazidos pelo mar. Aliás, o controle estatístico de ocorrências na UFRJ tem ajudado em investigações e ações efetivas das polícias civil e militar. O maior problema que persiste em relação à violência é o furto de automóveis. “Eles acontecem mais nas ruas e avenidas próximas às unidades de ensino. São os locais onde o estacionamento não é pago ou controlado. Já houve roubo, mas agora é mais furto. Quando o número de casos aumenta em uma área, nós intensificamos a patrulha, mas aí o malandro vai para outro ponto”, afirma Buarque.

Para ele, que há 18 anos atua na área de segurança da universidade, as pessoas precisam de precauções. “Vivemos em uma cidade violenta e em uma área cercada de favelas. Há tempos não temos ocorrência noturna, apesar de ter cursos no período. O que é muito bom. Todos têm de evitar o risco. Largar o carro nas ruas com objetos chamativos no interior, dar a chave na mão do flanelinha, deixar computadores nas salas. É cultural. Temos de insistir com o uso de crachás e catracas. No NCE (Núcleo de Computação Eletrônica), na Copead ou no hospital é assim. Onde tem controle, é zero de ocorrência”, diz ele, em defesa de uma ampliação no controle de acesso também nas unidades de ensino.

De medidas simples, como a melhoria da iluminação nas vias de tráfego, a outras mais complexas, como o monitoramento por câmeras em grande parte dos 4,3 milhões de metros quadrados da Cidade Universitária, tudo contribui para aumentar a segurança das quase 65 mil pessoas que circulam diariamente pela UFRJ. No entanto, a universidade está longe de conquistar padrões de segurança hoje comuns em diversos pontos do Rio, como a digitalização da imagem de visitantes e portarias com catracas eletrônicas. “Desde 2004, tomamos medidas que envolvem também o uso de crachás. Na Praia Vermelha, tivemos um projeto que teve adesão quase total das pessoas. Sentimos uma colaboração das unidades em todas as medidas que tomamos. Acredito que as pessoas aderem a esses programas para a melhoria da segurança porque elas vêem resultados”, diz Hélio de Mattos.

Ao que parece, a chave para melhoria da segurança agora e no futuro passa pela participação coletiva. Os integrantes do conselho participativo do Plano Diretor serão escolhidos no próximo Consuni. Ele será composto por representantes dos colegiados superiores, entidades sindicais, movimento estudantil, moradores da vila residencial, instituições não universitárias existentes dentro do campus da cidade universitária, além de integrantes do governo Estadual e Municipal, representantes das prefeituras das cidades vizinhas e demais membros da sociedade civil. Além de definir que novos espaços serão criados, todos deverão ter em mente que, só se sentindo protegidas, as pessoas vão ocupá-los para a cultura, o esporte e o lazer.