• Edição 154
  • 27 de novembro de 2008

Por uma boa causa

Consumo tecnológico aumenta despejo de lixo

Miriam Paço - AgN/CT

Nos últimos anos, em todo o mundo, os avanços tecnológicos têm acelerado o processo de substituição de aparelhos e contribuído para o surgimento de um novo tipo de lixo. Chega perto de 50 milhões de toneladas a quantidade de equipamentos como computadores, televisão, celulares e eletrodomésticos despejados em aterros inapropriados, nem sempre após o término de sua vida útil. Lixo eletrônico é o tema de Por uma boa causa desta semana, fechando a abordagem sobre as formas de descarte de resíduos urbanos, do plástico ao lixo hospitalar.

O lixo eletrônico contém metais pesados como mercúrio, chumbo, cádmio e cromo. Quando jogado em locais inadequados e misturado ao chorume (líquido formado pela parte orgânica do lixo), ele pode causar danos severos ao meio ambiente, com a contaminação das águas correntes ou subterrâneas e, conseqüentemente, da cadeia alimentar, afetando todas as formas de vida. Assim, de forma indireta, os elementos químicos presentes no lixo eletrônico causam danos à saúde humana, provocando distúrbios no sistema nervoso, problemas nos rins, pulmões, cérebro e, ainda, envenenamento.

A atual legislação do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) determina limites para uso de substâncias tóxicas em pilhas e baterias, repassando aos fabricantes a responsabilidade pelo destino final desses materiais. Mas poucos seguem a lei, segundo informou Sérgio Guerreiro, pesquisador sênior da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) que trabalha para desenvolver a geração de energia a partir de resíduos sólidos urbanos (RSU), graças a um convênio de cooperação tecnológica realizado entre UFRJ, Coppe e Ivig.

Se antes era raro encontrar mais de um aparelho de televisão e computadores nas residências, hoje é cada vez mais comum, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, os ciclos de substituição desses aparelhos estão cada vez menores, o que tem contribuído para aumento do lixo eletrônico.

É possível reciclar?

Ao contrário de outros materiais despejados diariamente em aterros sanitários, como plásticos e papéis, a reciclagem do lixo eletrônico não é economicamente viável. De acordo com Sérgio Guerreiro, “a solução simples e lógica é o fabricante cobrar uma taxa de disposição final no ato da venda do produto e devolver uma parte desta taxa para quem entregar o lixo nos pontos de coleta. A diferença pagaria o custo da disposição final. Afinal, todas as normas ambientais, inclusive as do CONAMA,  responsabilizam o fabricante pela disposição final. Começar é a questão, não se sabe a maneira de começar o processo pois esta taxa não foi cobrada e o fabricante não vai querer pagar e ainda ficar com o problema de “reciclar” com grande custo inicial, já que o estoque nas residências é enorme”.

Referência em países do mundo todo, Europa e EUA possuem leis específicas que tratam dos equipamentos eletrônicos e reciclagem, elas servem de diretrizes para novos estudos. “Estamos muito atrasados, mas temos a vantagem de poder copiar o que há de melhor no mundo. Já está tudo escrito, mas custa dinheiro e quem fala muito sobre meio ambiente tem que falar menos e fazer mais. O pessoal do Bolsa Família e outros programas sociais poderia contribuir na desmontagem do lixo eletrônico e triagem das partes, pois demanda mão-de-obra intensiva e de baixa qualificação“.

Em algumas lojas e shoppings centers podem ser encontrados, ainda em pequena escala, pontos de coleta de lixo eletrônico. O pesquisador defende que o exemplo de Cingapura, uma ilha com tamanho da cidade do Rio de Janeiro, deveria ser seguido pelos cidadãos: “Cingapura tem a mesma área, mesmo número de pessoas, mesma quantidade e tipo de lixo. No entanto, a taxa de reciclagem é de 47%, com cinco usinas lixo-energia e um aterro para inertes, muito mais do que no Rio de Janeiro. É preciso conscientizar as pessoas de que para tornar o meio ambiente melhor é preciso gastar dinheiro”.