• Edição 150
  • 30 de outubro de 2008

Saúde e Prevenção

Síndrome do Edifício Doente: prejuízo para saúde e bolso

Heryka Cilaberry

Casos freqüentes de febre, tosse, frio e dores musculares em pessoas confinadas em alguns ambientes podem indicar a presença da Síndrome do Edifício Doente (SED). Considerada por especialistas uma das grandes mazelas da arquitetura moderna, a SED se desenvolve em locais com pouca ventilação ou renovação de ar e já representa mais de um U$1 bilhão do gasto americano anual em despesas médicas.

– É um fenômeno recente, data da verticalização das construções, ou seja, do período em que as casas foram substituídas por prédios, trazendo, em associação, problemas para a qualidade do ar. Os corredores arejados deram lugar aos aparelhos de ar condicionado, que tornam o ar viciado, propenso a contaminantes biológicos, poluentes químicos e inertes –, explica Sérgio Fracalanzza, professor do Departamento de Microbiologia Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A SED pode ser caracterizada como uma situação na qual cerca de 20% dos ocupantes de um edifício experimentam efeitos agudos na saúde, que parecem estar relacionados ao tempo que passam no prédio. Algumas queixas comuns são: irritação das mucosas, pele e olhos, fadiga, dor de cabeça, mal estar, letargia, dificuldade de concentração, sensibilidade a odores, além de sintomas semelhantes à gripe. “Com isso, as pessoas mais sensíveis esboçam queda na produtividade, e muitas vezes têm que se afastar do trabalho ou cumprem as atividades de forma deficiente. Basta que se distanciem do local para que as queixas diminuam ou desapareçam”, aponta o professor.

Em 2002, nos Estados Unidos, uma pesquisa registrou as conseqüências econômicas da má qualidade do ar nos ambientes de trabalho. Considerando a diminuição da produtividade de cada empregado e o tempo de afastamento da empresa, algumas vezes necessário, o prejuízo econômico chegou a cerca de U$ 60 bilhões por ano.

A economia

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que ambientes com aparelhos de ar condicionado devem manter sempre a qualidade do ar elevada, através da renovação constante de 30% de seu volume. Segundo Fracalanzza, o custo de resfriamento desse percentual é significativo, o que atrapalha a troca de todo o volume estipulado pela Organização.
– Até o início da década de 70, quando grande parte dos refrigeradores de ar ainda estava sendo instalada, o preço da energia elétrica era bastante inferior ao atual. Então, resfriar o volume estipulado pela OMS não custava tão caro ao empresário. Hoje, com o encarecimento da energia, não há muitas vezes a renovação dos 30% exigidos, o que conseqüentemente tem influência na saúde das pessoas –, alerta Fracalanzza.

Esse ar não-renovado, ou ar viciado, auxilia na transmissão de agentes biológicos, como fungos, protozoários e bactérias, além de aumentar a concentração de agentes químicos (monóxido de carbono, dióxido de carbono, ozônio, formaldeído, solventes, fumaça de tabaco) e agentes inertes respiráveis como microfibras de amianto, de lã de vidro, fibras naturais e diversas poeiras. “Sabemos que através do ar, certas doenças importantes podem ser transmitidas como é o caso da tuberculose, a legionelose (tipo grave de pneumonia) e várias viroses, acrescenta Fracalanzza.

Legislação brasileira

No Brasil, a morte, em decorrência da contaminação por Legionella, de Sérgio Motta, ministro das Comunicações do governo Fernando Henrique Cardoso, apressou a criação de uma Legislação que tratasse da qualidade do ar e, conseqüentemente, pudesse prevenir a SED. Segundo o especialista, apenas a partir desse óbito, o Brasil voltou os olhos para o problema.

– A legislação brasileira que tange à SED, criada em 2000, ainda é precária. Apresenta diversos problemas como à quantificação apenas do número limite de fungos presentes em um ambiente. Ainda não há um valor definido para bactérias, por exemplo – critica o professor, apontando também como obstáculo a generalização dos ambientes pela norma.

Prevenção

Com a legislação ainda pouco eficiente no combate à Síndrome do Edifício Doente, Sérgio Fracalanzza incentiva a elevação da qualidade do ar através de pequenos atos como: manter sempre o ambiente limpo, livre de poeira, evitar produtos que poluam o ar (sprays e outros voláteis), não fumar em ambientes fechados, não cozinhar nesses locais e evitar cultivar plantas vivas, pois elas apresentam fauna própria de microorganismos que pode se misturar ao ar. E claro, a renovação do ar deve ser sempre priorizada.