• Edição 148
  • 16 de outubro de 2008

Microscópio

Arte de ouvir é tema de fórum

Marcello Henrique Corrêa

Deve haver um bom motivo para termos dois ouvidos e uma boca, é o que diz o ditado popular. Discutir a arte de ouvir é um dos temas abordados pelo I Fórum de Comunicação e Saúde. O Fórum de Ciência e Cultura (FCC) da UFRJ abre espaço para o debate nos próximos dias 24 e 31 de outubro. Na ocasião, jornalistas, médicos e psicanalistas – profissionais que precisam saber escutar com atenção – se reúnem para mesas redondas, exibição de filmes e palestras.

Entre o grupo de convidados pelo Fórum, Sérgio Zaidhaft, professor do Serviço de Psicologia Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), é o responsável por abordar o tema do ponto de vista da psicanálise. Para ele, que apresenta a palestra “Construção e desconstrução da escuta” no dia 31, há diferenças estabelecidas entre a medicina e a psicanálise. “Enquanto a especialidade da psicanálise é a escuta, a medicina é fundamentada no olhar sobre determinado problema do indivíduo”, explica o professor.

Apesar dessas diferenças, ele lembra que a saúde tem muito a ganhar com a integração. De acordo com o especialista. “O diálogo entre esses campos pode representar uma oportunidade de aprendizado, principalmente em termos de saber ouvir, porque, para além da doença, existe alguém que sofre; um ser humano. É necessário que a medicina use esse saber para se aproximar desse sujeito”, avalia o especialista.

Conhecer a si mesmo

Apesar da indicação a médicos e psicanalistas que falem menos e ouçam mais, Sérgio relata que é comum o paciente entrar no consultório médico à procura de respostas prontas. “A expectativa do cliente é de que o psicanalista saiba tudo. Entretanto, é a própria pessoa que deve saber procurar suas respostas, com o auxílio do especialista”, explica o professor, lembrando que essa relação, quando aprofundada, produz bons resultados. “Do contrário, com relações superficiais, a psicanálise não funciona”, afirma.De acordo com o professor, tempo é uma questão chave para a busca pelas respostas, mas na sociedade contemporânea, que exige soluções imediatas a todo instante, é cada vez mais difícil dar tempo a si mesmo. “O trabalho psicanalítico é lento e demorado. É muito difícil lidar com o imediatismo, quando estamos inseridos em uma cultura que exige das pessoas eficácia e rapidez. Contudo, apesar dessas exigências cada vez mais intensas, é preciso lembrar que se o ser humano abrir mão de seu próprio tempo, os resultados podem ser desastrosos”, alerta o psicanalista.

Segundo Sérgio, também professor da Faculdade de Medicina da UFRJ, repensar o ensino médico é uma das vias para resgatar e manter a busca por essa reflexão necessária. “Falta subjetividade no ensino médico. O pensamento hegemônico na medicina ocidental é voltado para uma superespecialização, que não compreende o sujeito como um todo”, comenta. “Essa é uma tensão permanente, porque, por outro lado, diversas linhas de pesquisa valorizam a visão mais integral do paciente”, completa.

O evento

O I Fórum de Comunicação e Saúde ocorre no Salão Dourado do Fórum de Ciência e Cultura, a partir das 16h, com previsão de término para as 20h. Estão previstas também apresentações artísticas para os dois dias de atividades. Depois da palestra de que participa Sérgio Zaidhaft, o documentário Santo Forte, de Eduardo Coutinho será exibido, com participação do diretor e debate com a jornalista Consuelo Lins e a diretora de teatro Bia Lessa.