• Edição 148
  • 16 de outubro de 2008

Ciência e Vida

Pesquisa aponta para diagnóstico precoce da hipertensão

Heryka Cilaberry

A hipertensão atinge de 10% a 20% dos cariocas e faz vítimas principalmente entre a população negra. Atualmente, estima-se que 15% a 20% de adultos de todo o mundo sofram com a doença, já considerada a endemia do século. Para entender a relação entre a moléstia e um grave problema de ordem renal, começou, há mais de uma década, a pesquisa “Hipertensão arterial, nefropatias e câncer”, no Laboratório de Fisiologia Renal do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

– A hipertensão arterial e a insuficiência renal crônica constituem dois dos maiores problemas de saúde pública. A evolução de cada uma das doenças pode ser apresentada em uma via de duas mãos, uma podendo dar origem ao aparecimento da outra – explica o Aníbal Gil Lopes, coordenador do estudo e chefe do laboratório, onde ele é realizado.

Segundo o pesquisador, a pressão arterial depende de dois parâmetros: a resistência vascular periférica e o volume do fluido extracelular. O primeiro deles depende da reatividade dos vasos, enquanto o segundo é determinado pelo balanço entre a ingestão e a excreção renal de sódio. Foram esses mecanismos renais envolvidos na excreção do mineral que despertaram a atenção do grupo de pesquisa para um transportador conhecido como segunda bomba de sódio.

Primeiros passos

O estudo da segunda bomba de sódio começou há quase 15 anos, com a participação de alunos de iniciação científica, pós-graduandos e com a colaboração do professor Celso Caruso Neves, ex-aluno de doutorado de Aníbal e hoje chefe de um dos Laboratórios do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.

A pesquisa partiu da hipótese de que a segunda bomba, que ainda não possuía uma função conhecida, poderia estar relacionada à regulação do volume extracelular. “Entretanto, apenas com a evolução dos trabalhos obteve-se um conjunto de evidências de que esse transportador de sódio é finamente regulado por diferentes sistemas hormonais relacionados ao balanço corpóreo do mineral”, esclarece o chefe do laboratório.

Recentemente, através de modelo animal de rato espontaneamente hipertenso, foram obtidas evidências de que a atividade desse transportador está associada com a gênese e manutenção da hipertensão arterial. Para prosseguir com os experimentos, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) precisa autorizar a utilização de sangue humano nos testes.

– No momento, estamos para iniciar uma fase de grande importância. Estamos preparando o pedido para a realização desses experimentos com sangue de seres humanos, a ser submetido para análise e aprovação pelo sistema CEP/Conep – informa o coordenador.

Conseqüências

Aníbal Lopes avalia o conhecimento dos mecanismos que determinam a origem da hipertensão arterial, analisados no estudo, como um grande benefício para a população, já que auxiliariam na prevenção e no conseqüente tratamento da doença.

– É possível que a medida da atividade desse transportador, que está presente também nas hemácias, possa servir como um marcador biológico com potencial para antecipação de diagnóstico e avaliação do desenvolvimento da doença. Se isso vier a ser confirmado, certamente originará um grande benefício à população pois, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores são as possibilidades de tratamentos precoces, fundamentais para que os danos da doença sejam minimizados – garante o pesquisador.

Para ele, a pesquisa, sendo realizada dentro do ambiente universitário, representa também uma atividade especialmente importante para a formação de jovens cientistas. “Dentro do contexto deste projeto já foram defendidas várias teses de doutorado e dissertações de mestrado, além de um grande número de participações de alunos de iniciação científica. Assim, também, a UFRJ colabora para o aperfeiçoamento de profissionais de outras universidades, dando importante contribuição para aprimorar e fortalecer a complexa rede de transmissão e geração de conhecimentos na sociedade contemporânea”, conclui o cientista.