• Edição 147
  • 09 de outubro de 2008

Saúde em Foco

Células-tronco extraídas de testículo podem ser tão boas quanto embrionárias


Salvador Nogueira

Cientistas europeus conseguiram mais um grande avanço na pesquisa com células-tronco. Eles produziram culturas celulares que têm potencial muito similar ao obtido com tecido embrionário, mas vindas de indivíduos adultos. O segredo foi buscar essas células da parte do corpo mais especializada em se multiplicar -- os órgãos reprodutores.

No caso específico, os cientistas, liderados por Thomas Skutella, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, extraíram células do testículo de um indivíduo. Essas células são parte da chamada linhagem germinativa -- precursoras dos espermatozóides.

No organismo, essas células costumam se dividir de uma maneira que deixa suas sucessoras -- os espermatozóides -- com apenas metade dos cromossomos do indivíduo original. Mas os cientistas as extraíram cedo nessa espécie de "linha de montagem" do testículo, de forma que elas ainda continham o conjunto completo de cromossomos do indivíduo que as originou.

Depois disso, o truque foi cultivá-las em laboratório, de modo que se multiplicassem indefinidamente, sem passar por diferenciação. O resultado foi uma linhagem de células-tronco pluripotentes, ou seja, capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo, exatamente como fazem as células embrionárias.

Os cientistas já haviam obtido resultado similar no ano passado, mas com células de roedores. O sucesso em humanos agora traz grande entusiasmo.

"Concluímos que a geração de células-tronco adultas humanas da linhagem germinativa a partir de biópsias testiculares podem fornecer acesso simples e sem controvérsia a terapias celulares, sem os problemas éticos e imunológicos associados às células-tronco embrionárias humanas", escrevem os pesquisadores, em artigo publicado online pela revista científica britânica "Nature".

As novas células realmente ensejam otimismo. Como elas já vêm com o DNA do seu precursor (o indivíduo que cedeu a biópsia do testículo), poderiam ser reinseridas no organismo sem medo de rejeição. Além disso, não envolvem o uso de embriões, sempre polêmico, nem o uso de vírus para reprogramar células adultas, que também é controverso para uso terapêutico.

Claro, ainda é preciso pesquisar mais para garantir que essas células têm mesmo esse potencial todo para terapias. "Mais investigações serão necessárias para analisar se essas células são diferentes de outras células pluripotentes humanas e de camundongos obtidas por reprogramação recentemente reportadas em termos de morfologia, expressão de marcadores, imprinting genético, capacidade de diferenciação e estabilidade genética. Esses estudos vão fornecer importantes informações para potenciais aplicações clínicas", dizem os cientistas.

 

G1, 09 de outubro, Editoria Ciència & Saúde

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