• Edição 146
  • 02 de outubro de 2008

Saúde e Prevenção

Quando o check-up é necessário?

Cília Monteiro

Atualmente a saúde é preocupação fundamental e a busca incessante pela prevenção de doenças e diminuição dos fatores de risco aumenta cada vez mais. Algo bastante procurado e que deixa dúvidas sobre sua necessidade ou eficácia é o check-up, tema do Saúde e Prevenção desta semana. “O problema é que existem várias visões do check-up, mas, anualmente, entidades dos Estados Unidos avaliam por critérios e bases científicos quais são os exames realmente indicados. É variável e não há uma única fórmula”, explica Carlos Henrique Castelpoggi, chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Segundo o especialista, avaliam-se quantas vidas são salvas pela realização de cada tipo de exame. Aspectos como custo, riscos e benefícios que podem trazer ao paciente são levados em consideração. “Para se saber a efetividade das análises, é necessário observar a importância da doença como causa de mortalidade, e se o teste pode detectar a enfermidade numa fase pré-clínica, antes que o paciente apresente sintomas”, observa Castelpoggi.

De acordo com o especialista, um bom exemplo de exame é a colonoscopia, que consiste na introdução de um endoscópio para permitir a visão de toda a região do cólon. “Normalmente é recomendado que se faça esse exame a partir dos 50 anos, tanto em homens quanto em mulheres. Permite detectar tumores em fases iniciais e, de fato, o tratamento no início vai melhorar a qualidade de vida e diminuir a mortalidade”, esclarece o médico. Para mulheres acima de 40 anos, é muito comum a realização da mamografia a cada dois anos. Castelpoggi afirma que a colonoscopia se mostra mais eficaz em diminuir a mortalidade do que a mamografia. No entanto, a avaliação do cólon não é tão incentivada quanto deveria.

O especialista considera importante na determinação do check-up saber quais os riscos que o exame traz ao paciente. “Será que vale a pena? O número de complicações que esse exame reconhecidamente traz vai aumentar a mortalidade na população? Os benefícios e custos justificam sua realização? Temos que observar esses diversos parâmetros para julgar o que é necessário e o que hoje se aplica em bases científicas”, aponta Carlos.

Castelpoggi exemplificou como um possível risco a realização da dosagem de PSA (antígeno prostático), uma proteína que, em grande quantidade, pode indicar câncer de próstata. “Hoje se discute a necessidade de dosar ou não o PSA e fazer o toque retal a partir dos 45 anos. Nem sempre PSA anormal vai indicar câncer e normal garantir que ele não exista. A neoplasia de próstata tem uma evolução muito lenta e maior incidência em pessoas de idade avançada. Se o paciente está com PSA elevado e o médico diz que há a possibilidade da doença, vai causar uma alteração psicológica muitas vezes desnecessária na pessoa”, constata Carlos.

Ele acredita que, nesse caso, o paciente passará por exames incômodos e dolorosos, onde se pode detectar um pequeno tumor. No entanto, caso seja operada, a pessoa pode ficar com incontinência urinária ou impotência sexual. “Não se sabe se essa cirurgia precoce trará benefícios. Isto pode estar piorando a qualidade de vida do indivíduo em benefício da quantidade de vida. A proposta de 2009 é que isso seja discutido com o paciente. Ele vai decidir se quer fazer a investigação precoce”, relata Castelpoggi.

Para Carlos, existem procedimentos sedimentados importantes, como avaliação de peso, do índice de massa corporal, principalmente em lugares onde a obesidade pode ser vista como a epidemia, normalmente em países desenvolvidos. “É um fator preocupante, desde a adolescência, e acontece mesmo em países pobres. É algo que deve ser observado porque aumenta o risco de doenças coronarianas e pode ser controlado”, destaca o especialista. Além disso, ele considera obrigatória a avaliação da pressão arterial a partir dos 18 anos, a cada dois anos. Caso o paciente beba ou fume, é necessário o médico orientá-lo sobre o tabagismo e o alcoolismo.

– A  partir dos 35 anos no homem e 45 na mulher, deve-se fazer a avaliação do perfil lipídico, para analisar o colesterol total, o HDL, que é o “bom colesterol” e deve ser mais elevado que o “ruim” – indica Carlos. Ele afirma que o ideal é que o teste seja feito no mínimo a cada cinco anos, para que se possa intervir e diminuir os riscos de mortalidade. Para mulheres sexualmente ativas, entre 21 e 65 anos, ainda é indicado o Papanicolau, a cada três anos.

Segundo Carlos Castelpoggi, o clínico geral é um especialista como qualquer outro, só que a especialidade dele é a de uma visão geral. Ele está apto ao tratamento de todas as patologias, porém, algumas precisam do olhar do especialista. Em alguns casos, o clínico vai encaminhar ao especialista ou acompanhar o tratamento, em conjunto.  

– Existem várias avaliações progressivas, de acordo com as escolhas e as necessidades do paciente e não da forma genérica como muitas vezes se fala sobre o check-up. O médico precisa observar, direcionar a pessoa, orientar qual exame deve ser feito – conclui Castelpoggi.