• Edição 146
  • 02 de outubro de 2008

Argumento

Para aprender a ensinar

Curso oferece aperfeiçoamento pedagógico para preceptores da Medicina

Marcello Henrique Corrêa

Entre a aula inaugural e a formatura do curso de Medicina, há um momento aguardado com ansiedade pelos estudantes e, de acordo com especialistas, fundamental para a formação médica: o internato. No caso da Faculdade de Medicina (FM) da UFRJ, é a partir do 10º período que os estudantes passam a ser internos e começam a freqüentar o ambulatório do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), onde têm os contatos mais diretos com a prática médica.

Nesse período, os futuros médicos ficam sob responsabilidade de preceptores – médicos experientes, encarregados de orientar os alunos. Contudo, uma análise feita em reuniões no Laboratório de Currículo e Ensino do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde da UFRJ (LCE/Nutes) aponta que falta a esses preceptores a base pedagógica que a tarefa exige. Foi a partir dessa análise que o grupo coordenado por Victória Maria Brant, professora da UFRJ e doutora em Educação, criou o curso de aperfeiçoamento em formação pedagógica para preceptores, inédito no país. A primeira turma estará aberta no final de outubro.

De acordo com a professora, a idéia surgiu há dois anos, a partir das conversas com os próprios alunos da FM, integrantes de projetos de Iniciação Científica do LCE. “É freqüente que estudantes de Medicina venham para cá nos primeiros períodos e passem muitos anos conosco. Esse contato muito próximo faz com que eles falem tudo sobre o curso”, comenta Victória. Segundo ela, os comentários dos estudantes a respeito do internato sinalizavam um déficit na relação de ensino entre médicos e alunos.

Por outro lado, a equipe do Laboratório tem contato com alguns desses preceptores, devido ao curso oferecido pelo Nutes, responsável pela formação pedagógica dos mestrandos em Medicina. “Muitos deles são médicos no hospital e quando fazem o mestrado aqui percebem que é isso que lhes falta: a formação pedagógica”, conta a professora. A partir dessas constatações, a equipe enviou uma proposta ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), aprovada no final de 2006.

Com o projeto pronto, o Departamento de Clínica Médica e o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IMMPG) indicaram 20 preceptores para elaborar o curso de aperfeiçoamento. Destes, apenas oito continuaram, o projeto foi elaborado durante um ano, em reuniões quinzenais e discussões on-line. O resultado foi o curso, que começa no próximo dia 27 de outubro, com previsão de término para 15 de dezembro.

Os preceptores envolvidos se propuseram a participar de uma espécie de “ensaio” do curso. No momento, os médicos terminam o curso em caráter experimental, para oferecer um conteúdo de melhor qualidade aos futuros alunos. “Ainda assim, precisamos avaliar durante o andamento do curso, já que os preceptores que integrarem essa primeira turma vão ter o primeiro contato com o material agora, diferente dos outros, que já estão acostumados com o processo”, lembra a coordenadora.

Como participar

A primeira edição é apenas para preceptores das unidades de saúde da UFRJ, apesar da crescente procura de instituições particulares. Para se inscrever, basta comparecer ao LCE, que fica na sala A33, subsolo do Centro de Ciências da Saúde, na Cidade Universitária. As vagas são limitadas em 20, preenchidas de acordo com a ordem de chegada.

A restrição para preceptores agregados deve durar pouco, já que também há uma preocupação com a formação pedagógica dos médicos responsáveis pelos internos no serviço de emergência do Sistema Único de Saúde (SUS). “O papel dos preceptores é muito importante; é com eles que os alunos aprendem a exercer, de fato, a medicina. Por isso, estamos pensando em fazer um convênio para oferecer esse curso para os preceptores da rede municipal que recebem nossos alunos”, informa Victória Brant.