• Edição 146
  • 02 de outubro de 2008

Medicina 200 anos

Árvore de Hipócrates: um presente à Faculdade de Medicina

Cília Monteiro

Em comemoração aos 200 anos da Faculdade de Medicina da UFRJ, na última terça-feira (30/9) foi realizado o plantio da Árvore de Hipócrates, Platanus orientalis, na entrada do bloco K do Centro de Ciências da Saúde (CCSUFRJ). O evento foi repleto de simbolismo: reza a lenda que há mais de dois mil anos, Hipócrates, considerado pai da Medicina Ocidental, ensinava seus discípulos à sombra desta planta. A própria árvore utilizada pelo mestre ainda existe na ilha de Cós, na Grécia, e dela foi extraída a muda oferecida à UFRJ.

Presentes à cerimônia estavam Almir Fraga Valladares, decano do CCS, representando o reitor Aloísio Teixeira, Georgios Kyritsis, prefeito da ilha de Cós, Helias Sifakis, secretário de turismo da ilha de Cós, Constantinos, cônsul da Grécia no Rio de Janeiro, Dimitrios Nikolayidis, padre da Igreja Ortodoxa Grega, e José Marcus Raso Eulálio, diretor da Faculdade de Medicina. A solenidade teve início com a execução dos hinos nacionais da Grécia e do Brasil, simultaneamente ao hasteamento da bandeira de cada nação. Em seguida, o decano Almir Valladares e o prefeito da ilha de Cós realizaram o plantio da árvore e o descerramento da placa comemorativa. O padre Dimitrios abençoou a muda com uma pequena oração.

O primeiro discurso foi de José Eulálio, que agradeceu ao governo da Grécia e à prefeitura da ilha de Cós pela doação da muda de Platanus orientalis. O diretor da Faculdade ressaltou o simbolismo da planta: “O ideal do ensino deve se desenvolver de forma progressiva e sólida, como uma árvore. Suas raízes nos remetem aos mestres do passado e a todos aqueles que de alguma forma colaboraram para que hoje estivéssemos aqui. Já suas mudas devem permitir no futuro a perpetuação da excelência que hoje adquirimos”, declara José. Ele acredita que as árvores são símbolos de vida, pureza, resistência e serenidade. Além disso, representam abrigos para a iluminação do intelecto e do espírito.

Há 200 anos, a semente de uma escola médica deu origem a inúmeras outras escolas na área de saúde e, de certa forma, também embrião da própria UFRJ. Nada mais próprio do que dedicar esta árvore a todo o Centro de Ciências da Saúde, porque o real resultado do que se plantou, em 1808, transcende em muito os limites da atual Faculdade de Medicina – constata José Eulálio. O professor espera que através do Platanus orientalis, alunos e professores possam se sentir parte de uma unidade secular, fiel à prática e ao ensino de uma Medicina humana e equilibrada. Como uma árvore, respaldada em seu tronco por uma elevada consciência moral e em sua copa pelo respeito ao indivíduo e à sociedade.

O prefeito da ilha de Cós declarou ter sido uma surpresa o convite para a transferência das mudas ao Brasil. “Foi um grande prazer, visto que se trata de um pedaço da nossa terra e história. Ainda mais satisfatório foi percebermos que, nos dias de hoje, existem pessoas que comungam e sentem a moral e a ética de Hipócrates”, apontou Georgios. Para ele, a doação da muda simboliza a amizade e a criação de um laço entre a ilha de Cós, também conhecida como ilha dos médicos, e o Brasil.

Do fundo do nosso coração, desejamos que, debaixo desta árvore, professores possam ensinar balizados em princípios do amor ao próximo e da ética profissional salientou o prefeito. Ele encerrou de forma hospitaleira, afirmando que os médicos brasileiros serão recebidos na ilha de Cós como filhos, uma vez que podem considerá-la sua própria pátria.

Almir Fraga Valladares, cumprimentou e agradeceu aos gregos pelo presente, destacando a importância da cultura helênica. “É uma civilização brilhante e enorme, talvez uma das maiores da história da humanidade. O Platanus orientalis deve nos inspirar, pois é a árvore da inspiração, à sombra da qual Hipócrates refletiu, criou seus pensamentos”, observou o decano do CCS. Ele considera uma fonte inspiradora não apenas para o ensino da Medicina, mas das profissões da Saúde em geral, e até mesmo das Humanidades, visto que Hipócrates, muito além de ser um médico que pensou cientificamente, foi um importante transmissor do pensamento humanista. “São 200 anos que justificam o presente, nos inspiram e estimulam ao futuro”, concluiu Almir.

Diana Maul, professora e organizadora da comemoração dos 200 anos da Faculdade de Medicina, relata que há um projeto de reinauguração da área em frente ao CCS, onde a árvore foi plantada. O local será constituído por canteiros de plantas medicinais das tradições que alimentam o conhecimento terapêutico utilizado no Brasil: indígena, africana e européia. “O espaço passará a constituir um jardim didático, e um ponto de atração turística na Cidade Universitária”, afirma a professora. A árvore de Hipócrates representa o primeiro passo desse projeto.