• Edição 143
  • 11 de setembro de 2008

Microscópio

Debate sobre microorganismos é destaque em evento na UFRJ



Heryka Cilaberry

O estudo dos microorganismos é um dos destaques da XIV Semana de Microbiologia e Imunologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que ocorre entre os dias 22 e 26 deste mês, no campus do Fundão, na ilha da Cidade Universitária. O evento conta com a participação de pesquisadores de diversas instituições e se destina a profissionais e estudantes da área da Saúde.

Segundo Bernadete Carvalho, coordenadora de ensino de graduação do curso de bacharelado em Ciências Biológicas - Microbiologia e Imunologia da Universidade, os microorganismos são seres de vital importância:

- Todos nós estamos aqui graças aos microorganismos. Sem eles, a Terra não seria como é hoje, nem mesmo teria sido oxigenada. É importante lembrar que ainda que seja comum a idéia de que esses seres só causam doenças, ela não é verdadeira. Os microorganismos também têm um papel benéfico em nossas vidas – afirma a coordenadora.

Os benefícios, uma das vertentes abordadas no evento, incluem a produção de bioetanol a partir de resíduos agroindustriais. “Hoje o Brasil aparece como um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, por conta de microorganismos que foram desenvolvidos para permitir um processo de adubação do solo (bactérias nitrificantes) e que garantem uma cana-de-açúcar de melhor qualidade e melhor produção”, explica.

Outra vantagem é a utilização de microorganismos na biorremediação do ambiente, fenômeno que tem sido amplamente estudado. “Quando acontece um vazamento de petróleo em determinada área, costuma-se usar agentes químicos ou físicos para retirá-lo da região. Porém, muitas vezes o emprego desses agentes é ainda mais danoso que o próprio líquido derramado. O que hoje tem sido feito é a utilização de microorganismos degradadores de petróleo para retirar a substância sem danificar o meio ambiente”, ilustra Bernadete.

Os temas resistência bacteriana e infecções comunitárias também devem ser abordados no evento. O debate surge da necessidade de uma reavaliação da postura terapêutica frente às mudanças epidemiológicas que estão acontecendo na comunidade. Acreditava-se que os microorganismos mais resistentes, causadores de doenças mais graves, estavam apenas no ambiente hospitalar, mas hoje podem ser encontradas infecções causadas por microorganismos com perfil de resistência mais acentuado na comunidade.

- Nós precisamos conhecer melhor esses microorganismos mais resistentes que estão entrando na comunidade, como os Staphylococccus aureus resistentes a meticilina (CA-MRSA) e bactérias Gram-negativas como a Neisseria gonorrhoeae e a Escherichia coli, presentes em infecções comunitárias. Deve ser alterada a idéia que se possui a respeito do tratamento desses microorganismos, porque muitos deles, como os CA-MRSA, podem vir a matar pessoas perfeitamente saudáveis em poucos dias. Então, precisamos conhecer nossa realidade epidemiológica para que a terapêutica seja mais incisiva - alerta a coordenadora.

Temas atuais, como a biodeteriorização de obras de arte e documentos históricos, e assuntos delicados como a AIDS, além de toda a abordagem imunológica, também fazem parte da programação. Dentre os mini-cursos, destaca-se a apresentação sobre controle microbiológico, aspecto extremamente importante para a indústria.