• Edição 142
  • 05 de setembro de 2008

Medicina 200 anos

O Jardim Botânico na história da UFRJ

Marcello Corrêa

Em 2008, comemorar o bicentenário não é exclusividade da Faculdade de Medicina da UFRJ. A chegada da família real marca a criação de diversas instituições que também ostentam orgulhosas seus 200 anos, como o Jardim Botânico. Criado por D. João VI para aclimatar plantas européias, o parque hoje é escolha comum para um programa de fim-de-semana de qualquer carioca. Mais do que isso, porém, o Jardim corresponde hoje a um importante parceiro de pesquisas da UFRJ e esteve relacionado junto à então Escola de Anatomia Medicina e Cirurgia, no início do século XIX.

História

Desde 1998, o Jardim mudou de nome e passou a ser conhecido como Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ). Entretanto, segundo Begonha Bediaga, historiadora do JBRJ, sua produção científica já ocorria desde o surgimento da Instituição. “O Jardim foi criado a partir da idéia de aclimatar espécies de vegetais que apresentassem alguma rentabilidade econômica, como continuação do projeto lusitano para jardins botânicos, implantado na metade do século XVII. No meu entender, desde sempre existiu atividade científica no JB, porém com uma idéia distinta do que hoje chamamos de Ciência”, comenta a professora.

De acordo com Bediaga, parcerias mais estreitas com a UFRJ vieram mais tarde, mas o fluxo de professores entre o Jardim e a Escola Médica era natural. Era comum, por exemplo, que professores da área de botânica da Escola lecionassem no Jardim, que dispunha de uma estrutura específica para as aulas práticas. O século XIX ficou marcado pelo trânsito de acadêmicos entre as instituições. O primeiro diretor botânico do Jardim, por exemplo, era professor da Academia Médico-cirúrgica. “Frei Leandro do Sacramento era lente de Botânica na Academia, onde dava aulas, e foi diretor do Jardim de 1824 a 1829”, informa a historiadora.

Parcerias atuais

Para Fábio Scarano, diretor de Pesquisas Científicas do JBRJ, foi a reforma empreendida pelo diretor João Barbosa Rodrigues, em 1890, que intensificou o compromisso acadêmico do Jardim Botânico. Atualmente, o papel de produtor de Ciência ajuda a construir parcerias com diversas unidades da UFRJ, principalmente aquelas voltadas para a área ambiental.

No campo da ecologia, por exemplo, o Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio), projeto do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) que prevê o monitoramento em rede nacional dos ecossistemas do Brasil, deve contar com o apoio de pesquisadores do Jardim e do Fundão. “Decidiu-se que, a partir do ano que vem, teríamos um PPBio – Mata Atlântica. Para coordenar o trabalho, o MCT escolheu duas referências: o Jardim Botânico, na área da flora e o Laboratório de Vertebrados do Departamento de Ecologia da UFRJ, para coordenar a parte de fauna”, comenta Fábio, professor associado desde 1993.

Nos próximos meses, as instituições devem trabalhar juntas em mais duas frentes de pesquisa. O Núcleo de Tecnologia e Recuperação de Ecossistemas (Nutre), projeto que nasceu na UFRJ, deve receber apoio do Jardim Botânico para implantar um trabalho em rede nacional. Além disso, há um esforço para montar um laboratório de bioensaios no Jardim, com o apoio da UFRJ, por meio de docentes do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN) e da Faculdade da Farmácia.

Para Scarano, as instituições têm muito que ganhar mantendo o elo construído há 200 anos. “O JBRJ está começando a lidar com frentes diferentes de pesquisa e, para lidar com esses novos desafios vamos precisar de ajuda e é evidente que um dos parceiros mais óbvios é a UFRJ. Por outro lado, o estreitamento dos laços pode proporcionar à UFRJ maior acesso às decisões de política científica, em âmbito nacional”, conclui o professor.

Árvore de Hipócrates

Para comemorar os 200 anos das duas instituições e simbolizar essa parceria, a Faculdade de Medicina da UFRJ programou para o fim desse ano o plantio de duas mudas de plátano, a árvore de Hipócrates (considerado o pai da Medicina). A data do evento ainda não foi confirmada.