• Edição 141
  • 28 de agosto de 2008

Saúde e Prevenção

O tormento da coceira sem fim

Marcello Henrique Corrêa

Muita coceira, o dia todo e todo dia. Esse é o resumo em poucas palavras do que sente um paciente de dermatite atópica (DA). A doença é crônica e pode surgir já no período de lactação, acompanhando o paciente para o resto da vida. A recomendação de especialistas é seguir algumas regras de cuidado com a pele para amenizar o problema, já que não é conhecido um tratamento capaz de curar a doença.

Não se sabe ao certo as causas da dermatite atópica, o que explica seu nome. Entende-se por atópicas um grupo de doenças das quais não se conhece o aspecto imunológico de maneira bem definida. Além da dermatite, são incluídas nessa classe a asma e a rinite. É comum que um paciente desenvolva, ao longo de sua vida, mais de uma doença do grupo, conhecido como tríade atópica.

De acordo com Sueli Carneiro, médica do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, o problema se apresenta de maneiras diferentes, dependendo da faixa etária do paciente. “No lactante, há o aparecimento de vesículas (bolhas cheias de líquido) espalhadas pela pele, principalmente no rosto, com crosta e escamas. Nos pré-adolescentes as lesões se localizam nas áreas de dobras, como a prega de flexão do cotovelo, parte posterior do joelho com poucas vesículas e descamação. Nos adolescentes e adultos a doença pode se generalizar e se apresenta com descamação e grande secura da pele” explica a professora.

Sintomas

Segundo Carneiro, entre as características da doença, destacam-se a pele seca e a coceira. É consenso entre pacientes e médicos que essa última é a maior causadora de incômodo e desconforto. As duas características, no entanto, se relacionam intimamente: quanto mais seca estiver a pele, mais intensa será a irritação, provocando a vontade de coçar. A professora lembra que, no inverno, é comum que a pele resseque, levando a quadros mais graves da doença. A indicação é de cuidado redobrado durante os meses mais frios, para evitar crises de DA, bem como outros problemas dermatológicos. (Veja mais)

Nesses casos, usar um hidratante qualquer para combater o ressecamento da pele pode ser uma má idéia. Além da pele seca, pacientes com DA têm em comum a alta sensibilidade. A pele pode, portanto, não reagir bem a substâncias em alguns produtos simples, como cremes e xampus. “Recentemente, foram lançados na indústria farmacêutica produtos especiais para peles de pacientes com DA, devido a essa sensibilidade. Esses produtos costumam ser um pouco mais caros, mas ainda são acessíveis”, lembra Sueli.

Hipóteses sobre as causas

De acordo com a Associação de Apoio a Dermatite Atópica (AADA), uma criança filha de pais que apresentem, dermatite ou outra doença da tríade tem cerca de 50% de chance de desenvolver o problema. Essa e outras estatísticas confirmam que o fator hereditário desempenha forte papel no desencadeamento do quadro. “É comum que, numa família, um indivíduo apresente rinite, outro asma e outro a dermatite. Doenças como essas estão intimamente relacionadas”, afirma a dermatologista.

O desencadeamento da doença, contudo, pode ser atribuído a vários outros fatores, além do genético. Um deles é a alimentação. Segundo alguns estudos, alimentos como ovos, leite e frutos do mar poderiam estar ligados ao aparecimento da dermatite atópica. “Essa teoria é bem defendida por alguns e não por outros. A hipótese é que existiria intolerância a algumas proteínas animais, presentes nesses alimentos. Há grupos de médicos que seguem essa linha e fazem testes de hipersensibilidade a alimentos, mas não há consenso quanto à utilidade prática destes testes”, pondera Sueli.

O fator emocional também é indicado como catalisador das crises. Segundo Sueli Carneiro, é observado um aumento na intensidade das crises durante situações de estresse. “Esse efeito acontece porque abalos emocionais costumam liberar neurotransmissores que aumentam a vontade de coçar”, explica a professora.

Tratamento e prevenção

Segundo a especialista, a atenção com a pele é fundamental para evitar as crises. Como a pele de pacientes com DA costuma ser muito sensível, detalhes sobre tecidos de roupas, sabonetes, cremes e xampus devem sempre ser levados em consideração. “No inverno, por exemplo, a indicação é de que a pessoa hidrate mais a pele, evitando ambientes que sejam muito irritativos. Além disso, é indicado evitar substâncias prejudiciais à pele e tratá-la com cuidado e carinho, evitando banhos muito quentes, por exemplo”, recomenda.

Para além das medidas clínicas, que podem incluir até uso de antibióticos nos casos de infecções secundárias, grupos de apoio, como a AADA, existem para ajudar o paciente a lidar com o problema. Na avaliação de Sueli, participar de grupos como esse contribuem para que o paciente se conheça melhor e aprenda a conviver com a doença. “Um grupo de apoio é sempre interessante, tanto por causa da possibilidade de obter mais informações sobre prevenção e tratamento da doença, quanto pelas relações interpessoais que são criadas, ajudando na troca de experiências. Quando o paciente sabe que existem outras pessoas com a mesma dificuldade pela qual ele passa, a dificuldade passa a ficar um pouco mais leve”, conclui a dermatologista.